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Shawn Mendes

Essa mulher é estranha.

Chegou ontem na porta da minha casa e depois sumiu quando entrei para pegar uns lenços para ajudá-la. Ela também não desvia do meu olhar quando estamos tão perto um do outro... e Nicolas que até ontem à noite se mostrava avesso a qualquer contato humano que não o meu, ficou mais de cinco minutos segurando a mão dela.

Camila. Uma moça muito peculiar e estranha e que roubou minha atenção.

— Vamos levar as formigas para casa, filho? — pergunto após ajudar Camila a limpar o chão e colocar açúcar e formigas dentro de uma pequena caixa.

Nicolas faz que sim e segura bem firme em minha perna ao me ver pegar a caixa.

— Ela — ele aponta para Camila.

— Você quer que a Camila leve as formigas de volta para nosso jardim? — me agacho e fico bem perto do rosto dele.

— Camila — ele diz.

— Estou feliz que agora ele fala até o meu nome! — Camila acena para Nicolas que a assiste, sem emitir emoção alguma, e assim que eu entrego a caixa nas mãos dela, ele sai na frente.

A cada passo ele se curva, examina o chão com a lupa e diz para as formigas:

— Casa! — e aponta para fora.

E assim, em marcha lenta e contando os passos, retornamos para a mansão. O que me dá mais tempo para conversar com a vizinha.

— Você está bem mesmo? Não se machucou sério ontem? — a pergunto.

— Ontem não. Mas hoje... — ela diz bem humorada e mostra o dedo que cortou, pelo visto, há pouco.

— Não deve ser tão grave — paramos e eu seguro em seu dedo. —Assim que chegarmos em minha casa eu higienizo e coloco um curativo. 

— Não precisa se preocupar.

— É o mínimo que eu posso fazer.

Camila e eu novamente não paramos de nos encarar. Ela parece querer dizer algo e eu estou bastante ansioso do que pode sair da mulher que enfeitiçou meu filho e até segurou na mão dele por mais de cinco minutos.

Nem eu mesmo consigo tal proeza quando ele está acordado, dois minutos é o meu recorde.

— Casa! — Nicolas puxa minha calça e aponta ferozmente para onde deveríamos ir.

— Desculpa aí, campeão, paramos só por um segundo, já íamos te alcançar! — respondo de bom humor.

Nicolas vai na frente, a cada três passos ele olha para trás para garantir que o estamos seguindo.

— Sequer poderia imaginar que você teria um filho... — Camila se diverte.

— E eu não poderia imaginar que teria uma vizinha tão encantadora — retruco. — Mas, por que a surpresa?

Ela fica ruborizada e abaixa o rosto.

— Você é tão... jovem, para ser pai...

— Ah, tem uma idade mínima agora? — devolvo, com bom humor.

— É, você está certo. Na vida é assim, as coisas acontecem e a gente precisa se virar. —Camila sorri.

— Você é das minhas — concordo com tudo o que ela diz.

— E como é ter um filho autista?

Em outra época eu pensaria por minutos para poder responder aquela pergunta. Mas a verdade era só uma:

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