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Shawn Mendes

A primeira coisa que faço pela manhã, após chegar em casa e deixar as vizinhas sãs e salvas em sua residência, é fazer uma chamada de vídeo com Nicolas.

Ele mantém o celular bem perto do rosto, exibindo seus olhos verdes expressivos. Suas pupilas se concentram na tela ao me ver.

— Oi Nicolas! É o papai.

— Eu sei — ele aponta o dedo para a tela e começa a tocar nela.

— Me conte tudo sobre Nova York!

— Liga no jornal — ele faz uma careta e me deixa bobo com isso.

— Como é estar na casa dos seus tios sem o papai?

Nicolas demora um pouco para responder. Continua olhando para a tela, sequer pisca os olhos, parece que está tentando se concentrar.

— Nova York é frio — por fim, ele diz.

— Ah, e você gosta do frio?

Ele pisca os olhos devagar e muda de posição. Parece que deita, mas mantém o aparelho em suas mãos.

— Papai, Nova York não tem fomigas?

— Essa é uma boa pergunta, Nicolas! Formigas são animais. E animais vivem na natureza. Parques são natureza. Talvez você encontre as formigas lá — digo as frases de forma curta e pausadas para que ele entenda.

— Parques — ele diz.

— É! Você pode achar formigas por lá!

Ele volta a se mexer. Agora se levantou e sai balançando o celular enquanto corre.

— Filho? — o chamo e vou acompanhando as imagens da residência dos Evans. — Nicolas?

— Eu quero mostrar meu presente — ele diz para alguém.

— Para quem você quer mostrar? — é a voz de Ethan Evans.

— Para o meu papai — ele entrega o celular para Ethan.

— Ótimo! Vá pegar o seu presente — ele diz com calma e vejo Nicolas correndo para outro canto da casa.

Assim que Ethan coloca o celular de frente para o rosto, de um jeito meio torto, devo salientar, ele diz:

— Ah, olha só você! 

— Qual é o presente dessa vez? — pergunto.

— O Noah e Anthony finalizaram a parte beta do projeto. Eles modelaram o robô em forma de formiga, para o Nicolas. Ele gostou muito, acho que terá mais avanços agora, não apenas na comunicação, mas ao lidar com tecnologia e ser mais assertivo em escolhas e palavras.

— Muito obrigado, tio Ethan.

— Você financiou parte do projeto, não tem pelo que agradecer. E o casamento da sua irmã?

— A semana intensa vai começar por agora.

— E o seu pai? — Ethan faz uma feição séria, mais do que já apresenta. Seus cabelos e barba branca já dão um ar todo pomposo para o homem que nunca tira os óculos escuros.

— Não o vi. E não sei se quero vê-lo. Nem me lembro a última vez que nos encontramos.

Ethan anui devagar e abaixa o celular quando Nicolas vem correndo com o presente em mãos.

— Ele consegue ver? — Nicolas pergunta para Ethan.

— Sim, sim, pode mostrar!

— Olha, papai. Fomiga — ele mostra o robô que cabe em suas mãos.

FARCEOnde histórias criam vida. Descubra agora