6

1.2K 142 44
                                    

Camila Cabello

Samuel me encheu de mensagens durante o dia e me ligou pelo menos umas dez vezes, mas eu o ignorei completamente.

Nas mensagens ele me perguntava se poderíamos nos encontrar nesse final de semana. O que ele está pensando? Que eu sou algum tipo de despedida de solteiro? Pois está muito enganado!

Na volta para casa estacionei o carro na garagem, e ao descer, vi as luzes da mansão de Shawn acesas. Aproximei-me para dar uma espiadinha na grama do vizinho e lá estava ele, como sempre, animado, espalhando aquele sorriso perfeito por onde quer que andava e conversando, provavelmente com Nicolas.

Shawn estava de jardineira jeans com uma das alças soltas, sem camisa por baixo, ou seja, ostentando aquele trapézio e peitoral musculoso e os braços fortes. Pelo visto estava aparando algumas plantas enquanto ficava de olho no pequeno.

Não contive a curiosidade e me aproximei ainda mais, para ver o que conversavam.

— Você está todo sujinho, não é filho? — o adulto perguntou, de bom humor.

— Eca — Nicolas respondeu.

— E mesmo não gostando de se sujar e mexer com a terra, você faz isso pelas formigas, não é? — o adulto voltou a olhar pro pequeno.

O menino que, até então, era monossilábico, construiu a primeira frase que ouvi:

— É claro, papai — a criança disse num tom quase indignado.

— Várias situações na vida são assim, sabia? Às vezes sentimos que somos mais fortes para encarar nossos próprios medos quando precisamos ajudar os outros.

Tudo o que Nicolas fez foi parar de colocar terra nos vasos de plantas com as próprias mãos, olhar para o pai com demora e depois retornar a enfiar as duas mãos na terra. Não escondia a expressão de nojo, mas também não parou com a ação.

— Oh, olha só quem está dando uma espiadinha do outro lado da cerca!

Fui pega! Meu Deus, ele me viu!

A primeira reação é me encolher e me agachar. Depois subo de uma vez, ao lembrar que sou uma mulher adulta, confiante e que não precisa se esconder.

— Oi vizinho — digo com um sorriso congelado.

— Tudo bem por aí?

— Tudo ótimo, e esse tesourão? — pergunto encarando-o. — Digo, e aí?

— O tesourão está cortando as ervas daninhas — ele ri, semicerra os olhos quando o faz. E ao abri-los bem devagar, vejo suas pupilas voltadas para mim. É meio intimidador a ponto de me fazer prender a respiração. —Quando vai me dar mais detalhes sobre seu plano mirabolante?

— Ah! Quando você quiser.

— Estou ansioso para ouvir sua história. Quer jantar?

— Jantar? Quando? Hoje? Comigo? Você tem...? — começo a disparar as perguntas, sem parar. Sequer consigo imaginar que o gostosão topou minha ideia maluca e agora vamos jantar! Qual será o próximo passo?

— É claro. Se eu serei o seu namoradinho preciso descobrir tudo sobre você, para poder desempenhar bem o papel — ele dá uma piscada. —Só vou esperar o Nicolas terminar de cuidar das amigas dele, ele leva o próprio tempo, daí entro e peço algo para comermos.

— Eu posso cozinhar! — me prontifico. — Não precisa se incomodar, eu te puxei para essa enrascada e você está sendo tão gentil...

— Tudo bem. Se o Nicolas aprovar, eu vou aprovar — ele dá uma nova piscada e termina de cortar os galhos acima da cerca.

FARCEOnde histórias criam vida. Descubra agora