Episódio 03 - Laranja

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8 anos atrás

Em um apartamento vistoso, luminoso e bem decorado; de móveis rústicos, mas novos, e localizado no coração da Barra da Tijuca, vivia uma família tradicionalista e conservadora.

O pai era um negro retinto, doutor em Direito Internacional com mestrado em história, e que dava aulas no Instituto Rio Branco, a escola diplomática do Brasil. Era casado com Helena, uma mulher loira que conheceu durante a faculdade de direito, e que hoje era uma advogada empresarial bem sucedida.

Juntos, tiveram seu primogênito homem e, três anos depois, uma filha menina. Ambos filhos planejados, criados em um lar cristão e cujos pais sempre priorizaram a educação e valores morais. Vestiam roupas de marca desde bebês e iam para colégios privados renomados, inclusive com ensino médio profissionalizante.

Naquele momento, como sempre pontualmente e em um horário específico, estavam reunidos na mesa de jantar.

Naquele momento, como sempre pontualmente e em um horário específico, estavam reunidos na mesa de jantar

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Mesmo criança, o primogênito tinha uma curiosidade que ia além do que ensinava os livros que lia. Joaquim gostava muito de desenhar, em especial roupas e mulheres, e tinha um interesse muito forte na arte e no esoterismo.

Aos oito anos gostava de ficar mais sozinho, apesar de estudar em período integral. Quando não estava perto de ninguém, chegava a costurar alguns pedaços de pano para tentar fazer as roupas que desenhava.

No resto de seu tempo livre, lia livros.

Sempre foi muito ligado à literatura feminina e nunca entendeu por que na escola só se lia autores homens. Certo dia, quando estava na biblioteca pública com seus pais, acabou encontrando um livro sobre uma religião chamada "Umbanda", com a foto de uma mulher negra na capa.

— Você não pode ler esse tipo de conteúdo — seu pai disse com uma voz severa e pegou o livro de suas mãos.

— Por quê?

— Não é próprio pra sua idade e a nossa família é cristã.

Gostava do tema espiritualidade, mas sempre teve um certo receio com o cristianismo. Achava que era uma religião incompleta; não conseguia imaginar como poderia existir um só Deus se a natureza era tão vasta.

Na escola, tirava notas perfeitas, mas não se relacionava com outras pessoas. Sempre foi muito desconfiado e não via ninguém, em sua sala de aula, que pensasse minimamente igual a si. Não se achava superior por isso — muito pelo contrário. Seu sonho era ter uma melhor amiga que compartisse seus gostos.

Aos onze anos foi suspenso por escrever uma redação sobre o cristianismo estar errado e que existia mais de um Deus.

~~~~ Fim do Flashback ~~~~

De volta ao presente...

No mesmo fatídico dia que, posteriormente, ficaria conhecido no segundo ano do ensino médio como "A Revolta dos Nerds", todo mundo havia feito um minuto de silêncio pelo choque imenso motivado pelo vômito que Victória deu em sala de aula.

First - Eu nunca achei que seria capaz de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora