Em um Rio de Janeiro pós-apocalíptico (depois da vitória de Bolsonaro), os jovens iniciam o segundo ano do ensino médio em grande estilo. O colégio Laranjeiras conta com funcionários que se metem em mais confusões que seus próprios alunos, entre ele...
O local era um parque vasto, com uma trilha de terra que atravessava o gramado úmido graças à chuva do dia anterior. O sol batia fortemente contra o rio que corria por ali, onde os patos nadavam felizes, mas cuja água não era própria para consumo humano.
Muitos "pais de pets" gostavam de ir naquele ponto da Zona Sul do Rio de Janeiro com seus cachorros, mas não eram os únicos. Todo sábado um grupo de jovens escoteiros se reunia no Parque Eduardo Guinle para realizar tarefas e atividades.
Entre eles havia um garoto de seis anos que havia se tornado "lobinho" apenas três semanas atrás, depois de ter visto um filme americano e ficado com vontade de participar do escoteirismo.
Mesmo que ele ainda não entendesse muito bem o que o escoteirismo significava, sempre ia animado para as reuniões e, inclusive, estava indo em busca de sua primeira especialidade.
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Seu pai era policial militar e sua mãe, advogada empresarial. Miguel nasceu em uma família tradicional ao extremo: de mãe cristã e pai maçom, sempre teve uma educação rígida com base em valores morais bem definidos. Por isso, quando o filho pediu para ser escoteiro, seus pais não tiveram como negar.
Não que negassem com frequência. Na verdade, era muito raro Miguel receber algum "não". Mesmo assim, o filho era bem comportado e respeitava as tarefas e deveres impostas a si: manter seu quarto organizado — depois que a empregada terminasse de arrumá-lo —, fazer os deveres de casa depois do almoço e não ficar mais de duas horas em vídeo-games ou computadores.
Ok, o último item ele não obedecia tanto.
E Miguel sempre foi o "queridinho" da família: era o caçula entre seus primos e também o único filho de seus pais. Suas tias diziam que ele cresceria e seria o "garanhão", o "terror de todas as meninas", e até mesmo antes dos seis anos não podiam ver Miguel perto de alguma menina que já diziam que ele tinha arrumado uma namorada.
Já os tios, nos encontros familiares dos domingos, passavam horas discutindo os resultados dos jogos de futebol junto com o sobrinho e realmente achavam que o menino cresceria para ser o novo Pelé.
Porém, naquele momento, Miguel não estava com seus familiares ou com seus pais — o que era um milagre, já que tinha "pais corujas" que sequer gostavam de deixá-lo sozinho em aniversários de crianças. Todos os sábados o menino loiro ficava reunido com os demais escoteiros mirins.
Como dito anteriormente, estava em busca de sua primeira especialidade. Uma especialidade no escoteirismo significa escolher um dos temas e fazer uma pesquisa detalhada, respeitando as regras de cada tema, e, no final, apresentá-lo para um grupo de pessoas, ganhando um distintivo que seria costurado em seu uniforme caso completado todos os requisitos.
Estava em busca da especialidade de "artesanato".
Ademais de precisar realizar um trabalho artesanal, também precisaria pesquisar sobre as ferramentas e matérias primas usadas, e ainda visitar uma feira ou exposição de artesanato.
