Capítulo 2 - Mais do que irmãos.

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A multidão ia crescendo e gritando:

— Você é um monstro!

— O que fez?

— Reze mesmo pra ele não morrer! – gritou uma mulher vítima do seu carro, indignada.

— Eu quero ajudar, eu preciso!

— Você já fez demais! – disse a mãe da moça atingida.

— Está cheio da cachaça né?

— Eu não bebi, juro!

— Vamos bater nele! – disseram os homens que vieram ver a confusão.

— É! – coro grave e cheio de testosterona no ar.

— Façam o que quiser comigo, não vou fugir. Sei a besteira que fiz! – admitindo a culpa.

***

Alguns minutos atrás, o motorista daquela caminhonete vinha em velocidade um pouco acima do permitido pela antiga estrada da rodoviária velha. Não havia percebido nada de anormal com seu carro porque não havia muito trânsito naquele horário, pelo hortifruti da Rua Sete Portas. Ele estava na faixa da direita e quando ia fazendo a curva surpreendeu-se com um carro estacionado no meio da rua. Conseguiu em um movimento brusco tirar da traseira do importado e colidiu com o meio fio da vala que corta as duas pistas, perdendo o controle da direção. Mesmo assim conseguiu fazer a curva, mas não conseguia frear. A luz que deveria estar acesa em seu painel nem se deu ao trabalho de ligar, pegando o motorista desprevenido.

Sem ter muito do que fazer, ele até buzinou e gritou inconscientemente para que saíssem da frente, mas alguns continuavam atravessando a rua, sem ligar para a situação delicadíssima do seu carro. Como recurso final, ele puxou a trava de mão e o carro derrapou inclinado, colidindo com alguns, raspando em um carro parado na sinaleira e batendo em um poste mais para frente, após arremessar as duas crianças para frente.

***

Rita Madalena Campos, a mãe dos meninos estava em um lar de família, observando o bebê daquela casa quando recebeu uma ligação desconhecida:

— Alô.

— Alô. Olha, eu sei que você não me conhece, mas não desligue, na moral.

— Quem está falando?

— O Samuel e o outro menino foram atropelados agora. Eles vão ser levados para o HGE (Hospital Geral do Estado).

— O quê? Isso não é um trote né? – seus batimentos aceleram.

— É sério. O pequeno está bem pior que o outro. É melhor a senhora ir lá!

— Ai Jesus! Meu pai eterno! Todos os anjos! – a ligação cai.

Ela vai até a cozinha e enche um copo de água da torneira mesmo para tomar com um comprimido a fim de regular sua pressão. Suas mãos estão tremulas e suas pernas fraquejando. Ela aperta com violência as teclas do seu celular para falar com seu companheiro, Tarcísio Campos.

— Cisu meu filho você tem que vir me pegar aqui agora na casa da moça!

— Fica calma mulher. Fala devagar!

— Os meninos sofreram um acidente hoje. Estão levando eles pro HGE!

— O que aconteceu?

— Depois eu falo. Venha aqui agora!

— Tá. Espera aí!

Tarcísio fica assustado com a súbita notícia e bastante preocupado. Ele estava no estacionamento da faculdade esperando sua filha, Clara Campos. Ele fica agitado e liga para o celular dela, mas a jovem de vinte anos está com o aparelho desligado. Ele sai do carro, deixando-o ligado e caminha pela instituição. Vê sua filha sentada em um banco no refeitório conversando com amigos e como um robô violento, passa pelos jovens sem dizer "Bom dia", puxando Clara pelo braço.

Laços mais fortes que o tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora