No dia seguinte, Samuel foi levado até o psiquiatra por sua mãe, que o recebeu para uma consulta individual enquanto ela aguardava do lado de fora. O consultório possuía uma poltrona macia e tudo ali era equilibrado. Samuel estava relaxada desde que sentou-se e ficou reclinado na poltrona aconchegante de couro.
— Seja bem vindo, Samuel Dias Cavalcante. Eu me chamo Dr. Philipe, fique à vontade para falar.
O adolescente não parece interessado em dialogar livremente, então o doutor começa a lhe fazer perguntas:
— Por que o senhor acha que sua mãe o trouxe até aqui?
— Falar sobre o quê?
Nenhuma resposta; o jovem apenas olha para uma direção.
— Gostaria de falar sobre o incêndio da sua casa?
— Não. Se você sabe de tudo que aconteceu...
— Eu sei apenas do problema. Gostaria de entender melhor a situação. Não precisa ficar com medo.
— Eu não estou com medo. O incêndio foi um acidente.
— Não pensou em queimar a casa e se matar nas chamas?
— Não sou doente. Já disse que foi um acidente. – suspira.
— Tudo bem. Como aconteceu? – diz em tom paternal.
— Eu estava perturbado. Não aguentava ficar ali e precisei sair. Não estava no meu normal, só saí. Quando voltei, a casa não estava mais lá e talvez eu nem estivesse também.
— Por quê?
— Um ladrão apontou uma arma pra mim e pediu meu celular?
— E?
— Eu o encarei. Não dei, não.
— Sabe que correu um grande risco?
— Eu sei. Mas não podia perder o único registro das fotos do meu irmão. Estava acima de qualquer coisa!
— Até da sua vida? – um silêncio penetra o ambiente.
— Eu sei que dizem pra não reagir, mas eu senti um lance estranho e segui meu instinto.
— E se estivesse errado?
— Acho que não estaríamos tendo essa conversa.
— Costuma colocar sua vida em perigo?
— É, eu gosto do perigo.
— Desde quando age assim?
— Não sei. Sou desse jeito.
— Acha que isso piorou após a morte do seu irmão?
— Não. Eu tô legal.
— Acredita mesmo nisso?
— Acho que sim.
— Como era a amizade de vocês?
— Muito forte. Ele era meu melhor amigo. Fazíamos tudo juntos, sempre inseparáveis!
— Você disse que antes estava perturbado. Pelo quê?
— Como é o relacionamento com seus pais?
— Não sei descrever.
— Sente a falta do pai biológico?
— Claro que sim. Ele tinha seus problemas, mas era um pai muito melhor, que nos amava de coração. Como minha mãe nunca vai conseguir!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Laços mais fortes que o tempo
Fiksi IlmiahUm trágico acidenta ceifa a vida do irmão caçula de Samuel, João Cavalcante. Algum tempo depois, ele descobre que tem um dom único, voltar ao passado no bom estilo 'efeito borboleta'. O adolescente lança-se em uma empreitada para tentar mudar o pass...