Marivaldo Cavalcante, ao retornar ao novo tempo parou de beber como antigamente, pois vivia frustrado por não conseguir mudar seu próprio passado e enchia a cara para se livrar da amargura e frustrações, descontando em sua família em forma de agressões físicas e psicológicas. Como desistiu de viajar ao passado, talvez por medo de ficar cego e depois morrer, talvez convencido pelas palavras de seu filho, parou definitivamente de beber e viveu uma vida tranquila com sua família, como deveria ser.
Clara Campos seguiu sua vida normalmente, cursando na faculdade e dedicando-se para se formar sem atrasos. Ela e seu pai são muito unidos e melhores amigos um do outro. Clara se fechou mais para as pessoas depois da mudança que ocorreu no passado e não sabe exatamente o motivo disso. Ela não reteve nenhuma lembrança da sua vida antiga como meia irmã de Samuel e João Cavalcante.
Tarcísio Campos se casou algumas vezes mas nunca deu certo com ninguém por ser um homem infiel, assim como mantinha um caso com uma das irmãs de Rita, na vida antiga, ele costumava fazer isso em seus relacionamentos. Clara cuida dele em todos os mínimos detalhes, como a dona do lar: lava suas roupas, prepara sua comida e administra as coisas de casa.
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Clara estava em seu quarto, arrumando as apostilas na mochila para as aulas quando seu pai entrou no quarto e disse:
— Filha, eu venho notando que você está diferente de uns tempos para trás. O que está acontecendo? – pergunta pausadamente.
— Eu não sei pai. – diz sem prestar muita atenção.
— Estão te pressionando a alguma coisa na faculdade? Eu te avisei sobre aquelas garotas drogadas e cachaceiras!
— Não é isso pai.
— São aqueles idiotas querendo fazer aquilo? – toca no ombro dela.
— Eu já dei um jeito neles. Não tem ninguém me pressionando a nada não.
— Você não está usando drogas, né?
— Não pai! – responde aborrecida.
— Ainda bem. Graças a Deus. – olhando para o alto.
— É que eu do nada senti um grande vazio dentro do peito e não sei o que é isso. – coloca a mão no peito, entre os seios.
— Como assim filha?
— Me sinto muito sozinha entende?
— Com saudade dos meio irmãos?
— Não. Como se quisesse ter um irmão que nunca existiu. – tentando achar alguma explicação para o inexplicável.
— Você anda muito para baixo e me deixa triste ver você assim e eu sem poder fazer nada filha.
— Só a sua preocupação já me conforta pai, sério mesmo. – dá um soquinho no ombro do velho.
— Mas só isso não é o bastante. Você quer que eu marque um médico para te avaliar?
— Pode ser. Pode me emprestar o carro pra ir pra facul?
— O carro não está bem. Tá muito fraco. Lamento mas hoje terá que ir de ônibus.
— Entendi. Até mais!
Ela caminha por alguns metros até o ponto e aguarda o seu transporte. Consegue sentar na cadeira do corredor e observa a cidade, distraída. Ela fixa sua atenção em um adolescente franzino que vende amendoins torrados com o seu pai na rua, sem motivo algum não consegue tirar os olhos deles. Aquele sentimento de tristeza retorna e ela tenta pensar em outras coisas. A pessoa sentada ao seu lado levanta-se deixando o lugar à janela vago. Durante uma das paradas, uma pessoa pede licença para sentar-se na janela e ela não olha para cima, ignorando-a. O rapaz senta-se e lhe dá "bom dia".
Clara responde sem olhar para ele e quando vira-se em direção à janela vê Samuel Cavalcante ajeitando algo em sua mochila. Ela arregala os olhos e sente como se já o conhecesse de algum lugar, só não sabendo exatamente de onde. O seu coração bate mais forte e ela o encara, fitando-o dos pés à cabeça. Instantaneamente aquela solidão desaparece do seu íntimo e dar lugar a algo novo, algo para ela estranho ainda.
O garoto olha para ela, esperando que diga alguma coisa e repara em cada detalhe do rosto dela, curioso, mas como Clara permanece quieta, ele desvia o olhar. Ela olhou nos olhos dele à espera de que ele a reconhecesse e falasse com ela, o que também não aconteceu. Eles se olharam mais uma vez e deram um riso envergonhado.
— Ei, você estudou no Cabral? – ela tomou a iniciativa e perguntou.
— Não. No Duque de Caxias.
— Ah bom. Pensei que te conhecia da escola.
— Você também me parece familiar, deve ser parecida com alguém que eu conheço, só isso.
— É... diz entristecida.
Samuel coloca os fones de ouvido em inclina-se para o outro lado. Quando está mexendo em seu celular, Clara bisbilhota e consegue visualizar o nome e o sobrenome do rapaz. Imediatamente abre o Facebook e procura por ele, achando-o depois de alguns minutos.
Samuel Cavalcante também não reteve memórias da antiga família com Tarcísio e Clara Campos. Ele sente sua perna vibrando e desbloqueia a tela do celular. Vê uma solicitação de amizade e a aceita. No mesmo instante a garota envia uma mensagem para ele:
— Oi. Eu sou a Clara.
— E eu sou o Samuel.
Ele olha para o lado e a garota está rindo. Samuel pergunta pessoalmente:
— Como você fez isso?
— Acho que foi sorte ou o destino. – sorri.
— Muito prazer.
— O prazer é todo meu...
Onde irá dar essa amizade só o tempo poderá dizer porque esse laço se tornou mais forte que o próprio tempo.
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Laços mais fortes que o tempo
Ciencia FicciónUm trágico acidenta ceifa a vida do irmão caçula de Samuel, João Cavalcante. Algum tempo depois, ele descobre que tem um dom único, voltar ao passado no bom estilo 'efeito borboleta'. O adolescente lança-se em uma empreitada para tentar mudar o pass...