Capítulo 3 - Assistente social

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Samuel está deitado, sem saber de nada no hospital. Ele revive o momento da tragédia em sua mente e está muito assustado. Os detalhes exatos daquele dia foram recriados com perfeição pelo seu subconsciente. O adolescente vê as coisas por outro ponto de vista, em terceira pessoa. Enxerga seu irmão lhe dando a mão para atravessar a rua. Observa atentamente os outros pedestres caminhando em sua frente. Alguns mais desconfiados esperaram para confirmar se todos os carros iriam parar antes de andar, embora a maioria tenha prosseguido.

— Por que nenhum deles tentou nos ajudar. Por que não seguraram em meu braço? – se questionava em seu subconsciente.

Na fila da esquerda, dois carros estavam enfileirados, parados diante da faixa de pedestres. Samuel viu as pessoas na frente da fila correndo para sair da linha de perigo.

— Por que nenhum deles gritou para avisar quem não tinha percebido? Como podem ser tão egoístas? – ficando com raiva.

Então viu tudo muito rápido: uma freada brusca; o carro virando de lado e arrastando as pessoas com a traseira, enquanto a frente atingia em cheio seu irmão mais novo.

— Era pra ter sido eu no lugar do Jão. Por que não cuidei dele direito? Como pude ter sido tão desatento? Se eu tivesse prestado atenção, nós dois estaríamos bem. A culpa é de quem mesmo? – sentindo um forte aperto no peito, um grande buraco em seu coração.

Seu irmão nem teve tempo de olhar para o lado. Foi rapidamente lançado para longe. O seu corpo tentou empurrá-lo com força, mas não reagiu na mesma velocidade com que a cabeça pensou. Com medo e em dúvida, mais por medo, ficou sem ter certeza do que faria, daí, sua mão segurou-o o mais forte que podia. Inutilmente, acabou perdendo o braço do João de vista e também foi arremessado, com um impacto menor. Via o mundo girar, até sentir o beijo ardente e destruidor do asfalto em seus joelhos, pés, antebraços, cotovelos e costas.

Tudo que lhe importava naquele momento era saber do irmão. Por mais que tentasse se levantar, já estava em choque. Nem mesmo do seu ponto de vista mais afastado, Samuel não conseguia visualizar seu irmão. A dúvida persistia em sua mente:

— Será que meu irmão está vivo?

Ele se lembrou do que João lhe perguntou no outro dia no ônibus:

— Quero ver o que vai fazer quando eu morrer.

— Eu não vou fazer nada. Não sou Deus!

— Quero ver o que vai fazer quando eu morrer.

— De novo essa pergunta? O que eu posso fazer? O que aconteceu não pode ser mudado droga!

— Seu chato. O que vai acontecer quando eu morrer?

— Eu não sei!

Samuel abre os olhos e vê as coisas meio turvas. Ele acorda do coma e vê sua família chorando.

— Onde eu estou?

O garoto pensa:

— Se o Tarcísio tá aqui, então eu não fui pro céu ainda!

No quarto de hospital estavam seus familiares primários. Em seus rostos a expressão de desânimo e abatimento. Um silêncio dominava o ambiente frio e fechado daquele hospital.

— Você se lembra do que aconteceu?

— Sim mãe. Um carro nos atropelou.

— Do que mais se lembra?

— De mais nada. Onde está o João?

— Se recupere filho. Não pode ver seu irmão agora.

— Vai ficar tudo bem mãe?

Laços mais fortes que o tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora