Samuel é convidado a se sentar e lhe é servido com um copo de chá. Depois de uma rápida apresentação e introdução, o Doutor Anderson solicita:
— Eu ouvi um breve resumo da Clara, poderia me dizer como você está se sentindo?
— Um pouco estranho. Sem saber diferenciar o mundo dos sonhos do mundo real.
— Seus sonhos parecem reais ou você vê coisas que não existem?
— A primeira opção.
— Com o que você sonha?
— Com um mundo em que meu irmão está vivo.
— E o que acontece nesse mundo? Ele é igual ao nosso mundo?
— É um espelho. Eu estou nas suas horas finais de vida até que acontece o acidente.
— Então é sempre o mesmo sonho?
— Não exatamente. São bem parecidos, mas mudam se eu fizer alguma coisa diferente.
— Interessante. O que acha que está acontecendo?
— Eu não sei. Deve ser algum trauma que fica repetindo aquele dia em minha cabeça.
— Ouviu falar na teoria do caos?
— Não. O que é?
— Ela diz que atitudes diferentes podem gerar reações diferentes. Vou citar um exemplo: um carro na estrada molhada está atrás de um caminhão; na primeira situação, o motorista está apressado e força uma ultrapassagem perigosa e na segunda ele segue atrás do caminhoneiro pacientemente; no primeiro caso, ele sofre um acidente e morre por causa de sua decisão apressada, enquanto que no segundo, chega em segurança ao seu destino.
— Estou sacando...
— Segundo a teoria do caos, até o bater de asas de uma borboleta pode gerar reações diferentes do outro lado do mundo.
— Isso parece coisa de filme.
— É bem usado no cinema mesmo... Sabe por que eu te contei isso?
— Não faço ideia.
— Eu já fui como você no passado.
— Teve esse problema?
— Eu não chamaria de problema. É uma bênção ser especial. Você é uma pessoa rara!
— E o que é isso?
O professor muda o tom de voz, olha sério para Samuel e diz:
— Você nasceu com um dom que existe em aproximadamente uma pessoa em cem milhões. Você pode viajar no seu próprio tempo de vida.
— Isso é muita loucura! Não existe de verdade!
— E acha que sonhos podem mudar a realidade por acaso?
— Sei que isso também não parece fazer sentido...
— Você começou a ter essas alucinações quando?
— Poucos dias atrás.
— Está recente ainda... Tem desmaios vez por outra e sente fortes dores de cabeça?
— Como sabe?
— Não disse antes? Eu era um viajante do tempo. – balança os pés um pouco.
— Não viaja mais?
— Não consigo mais. – observa o relógio.
— É temporário?
— A ciência não sabe quase nada sobre isso ainda... Em algum momento, perdi essa capacidade...
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Laços mais fortes que o tempo
Science FictionUm trágico acidenta ceifa a vida do irmão caçula de Samuel, João Cavalcante. Algum tempo depois, ele descobre que tem um dom único, voltar ao passado no bom estilo 'efeito borboleta'. O adolescente lança-se em uma empreitada para tentar mudar o pass...