Capítulo X - Vitória

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"Vitória estava encolhida atrás de seus vestidos dentro do closet, as mãos entrelaçadas nas pernas, a cabeça escondida entre os joelhos, por mais que quisesse, ela não conseguia sair do lugar, a medida que seus soluços ficavam cada vez mais altos. Os gritos aterrorizados de sua mãe era assustador. Mas o que uma garota de oito anos podia fazer? Ela não tinha a mesma valentia que Elizabeth e Mike possuíam, nem mesmo a ousadia que eles tinham, ela e sua família estavam a mercê daquele monstro para sempre. As portas foram abertas abruptamente, a doce voz de Allya preencheu seus ouvidos, erguendo os olhos para a garota de cabelos brancos, a pequena princesa se encolhera ainda mais ao ouvir outro grito de sua mãe. A recém-chegada fechara as portas e se enfiou entre os muitos vestidos que a princesa possuía, tateando o fundo do closet, ela sorriu ao encontrar o que procurava. Pressionando um dos tijolos de cor de escura, ela o afundara para dentro, aquela parte tremeu e uma pequena porta se abriu, revelando uma passagem secreta. A garota de cabelos brancos segurou firme o pulso da princesa, a erguendo do chão, quando elas atravessaram a passagem, a mesma se fechou. Aquele lugar fora criado por seu pai antes dele morrer, eram poucas pessoas que conheciam aquele segredo. Mas uma vez Allya viera a seu socorro. Ela se perguntou até quando teria tanta sorte e por quanto tempo conseguiria fugir daquele monstro."

Abrindo seus olhos vagarosamente, ela encarou a janela por onde a pouca luz que invadia seu quarto saía. Anos se passaram e mesmo assim, aquele dia não deixava sua cabeça. Erguendo-se suavemente da cama, ela caminhou lentamente até o banheiro, onde desejava apenas um banho quente e que a ajudasse com o dia que tinha pela frente. Enfrente ao espelho, ela encarou seu reflexo, seu vestido marrom se estendia até os joelhos, as mangas cobria apenas os ombros, deixando a clavícula e a parte das costas expostas, a cintura era justa e o tecido ali possuía uma delicada renda da mesma cor, a saia era levemente arredondada, em seus pés havia uma delicada sandália com saltos medianos de uma cor escura. Seus longos cabelos castanhos caíam perfeitamente sobre suas costas, tendo como destaque algumas presilhas em forma de borboletas com pedras vermelhas, os brincos em suas orelhas eram pequenos e delicados corações banhado em ouro, a maquiagem em seu rosto era apenas o básico. Leves batidas fora ouvida, antes de Alya entrar no quarto. A mulher possuía belos e estranhos olhos brancos, tendo apenas as pupilas negras, seus cabelos brancos caíam delicadamente sobre suas costas, sua pele clara não possuía manchas ou cicatrizes, apesar dela sempre treinar. Ela a observou sentar-se na beirada da cama.

- Onde ele está? - a mulher a encarou por alguns segundos antes de responder.

- Em seus aposentos, a rainha também não acordou, tão pouco seu irmão. - ela assentiu, se a princesa queria fazer alguma coisa, teria que ser agora, pois sabia que tinha apenas algumas horas até ir procura-lá. Pegando a capa e uma bolsinha de couro com uma boa quantia de moedas de ouro. As duas se direcionaram até o closet, ela observou o tão secreto esconderijo que aparecia em seus sonhos. Pressionando o décimo terceiro tijolo de cor escura, ela contou dez fileiras de baixo pra cima, enquanto seus pensamentos vagavam pelo sonho que tivera. A passagem se abriu, deixando-a apreensiva. - Ainda podemos desistir. Não precisa se arriscar novamente. - encarando a escuridão a sua frente, Vitória começou a caminhar pelos túneis, crente de que tudo acabaria bem.

Os primeiros raios solares brilharam no horizonte, as duas garotas corriam o máximo que seus cavalos permitiam, a princesa sentia o nervosismo e a adrenalina pulsarem em suas veias, não era a primeira vez que faziam aquilo, mas com certeza os riscos ficavam cada vez maiores a cada escapada que elas davam ao pequeno povoado. Não poderiam ir pela a estrada principal, já que demoraria acerca de quase uma dia, e também seriam facilmente encontradas e reconhecidas pelos soldados. Elas sempre optavam por um desvio que passava pela floresta até chegar em uma estrada a muito esquecida, o atalho levaria em média a duas horas para chegarem, poupando-as de uma longa e arriscada corrida. Quando estavam próximas do lugar, desaceleraram os animais, e foram trotando até o grande e velho portão de madeira, algumas crianças gritavam e pulavam na presença delas, outras ainda pareciam despertar do sono. Assim que desmontaram, as crianças as rodearam alegres, falando todas ao mesmo tempo, a princesa sorriu, afagando a cabeça de uma delas.

A noite já caía quando elas finalmente chegaram ao palácio, tanto a guerreira quanto a princesa não planejavam sair tão tarde do pequeno povoado, mas não viram o tempo passar. A garota de cabelos brancos andara de um lado para o outro enquanto observava a amiga se jogar na enorme cama, a garota possuía uma expressão satisfatória em seu rosto, embora soubesse que dessa vez não teria desculpas a dar à seu tio. Ela encarou o teto branco estilo catedral, onde possuía pequenas e grandes borboletas pintadas de várias formas e cores, seus lábios se esticaram um pouco quando se lembrara da felicidade das crianças com os presentes que ganharam. Seus olhos voltaram-se para a cocha rosa da cama, nem de longe era sua cor preferida, mas como era escolha de sua mãe e de seu tio, ela não possuía voz ativa nas próprias decisões. As paredes possuíam um rosa mais suave, que tinha como destaque algumas pinturas de artistas que ela não conhecia, erguendo o tronco lentamente, ela se sentara na ponta da cama, observando a decoração do cômodo. O tapete rosa fiopudo possuía uma cor mais chamativa que se estendia por quase todo chão, uma delicada mesa de vidro no meio do lugar, seu formato retangular tinha as bordas protegidas com entalhes de madeira pintados de branco, quatro confortáveis cadeiras acolchoadas brancas a rodeava, um pouco mais distante se encontrava as portas duplas que davam para o closet, de frente pra cama, um pouco mais afastada da porta do banheiro se encontrava sua penteadeira, onde possuía vários produtos de pele, assim também como uma delicada maleta vermelha onde costumava guardar suas joias. Só metade das coisas que havia ali seria necessário para sustentar o lugar de onde acabara de chegar, com o coração apertado, seus olhos se encheram de lágrimas, a indignação preenchera seu interior. Quando Louis era vivo nada daquilo acontecia com o seu povo, o reino prosperava e na havia tanta fome e desolação como agora. As lágrimas rolaram por sua face, seus olhos fixaram-se na enorme janela que dava para a sacada, seus pensamentos vagando entre o passado e o presente. Secando o rosto com as costas da mão direita, ela decidiu tomar um banho e espantar para longe a sensação estranha que lhe embrulhava o estômago. Allya a acompanhou com o olhar, a guerreira sabia o sentimento que assombrava a amiga, e se sentia inútil por não poder ajuda-la nessas horas. Suspirando ela deixou o cômodo a procura de um banho pra relaxar o corpo e a mente, o dia havia sido cansativo e exaustivo. Vitória encarava seu reflexo no espelho, seus cabelos castanhos molhados pingavam sobre suas costas, o banho havia demorado cerca de uma hora — ou mais, pelo motivo de ter cochilado na banheira. Ela estava satisfeita com o que fizera hoje, e com certeza seu pai também estaria se estivesse ali, mas a viajem a cansou mais que o previsto. Depois de enrolar os cabelos em uma toalha, ela deixara o banheiro, sua vontade era de se jogar do jeito que estava na cama e dormir por horas, mas suas criadas reclamariam na manhã seguinte por seus cabelos parecerem um ninho de passarinho. Ela suspirou, retirou de dentro do closet um vestido branco simples que se estendia até seus joelhos, as mangas caídas e ajustadas nos ombros chegavam até os cotovelos, o decote coração era discreto, porém chamava a atenção para a sua clavícula e seus seios, a saia possuía algumas pregas, que a deixava mais arredondada. Depois que conseguiu tirar o máximo de água que pôde dos cabelos com a toalha, ela os penteou, a cor castanha dos seus cabelos se destacava sobre o branco do vestido, terminando de pentear, ela os deixara soltos para que durante a noite secasse.

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