16 - Eduardo

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São onze horas da noite e eu olho para o nada, sentado no sofá. As pedras de gelo no meu copo de whisky derreteram há muito, a garrafa está quase vazia...e eu não paro de pensar na ruiva que me deu o fora.

Viro o copo e o líquido cor de âmbar desce queimando pela minha garganta. Odeio whisky, admito, mas hoje preciso ficar bêbado; talvez, assim, eu esqueça dela e de Hardman.

Eles devem estar transando. Neste exato momento. E o pensamento dói como um soco no peito.

Pego o meu celular para escolher uma música, fugindo das sertanejas, mpb, baladas de rock e pop. Acabo selecionando uma playlist de heavy metal, e a primeira música a tocar é Forever, do Kiss. Ouço-a em pé na minha varanda, bebendo enquanto admiro as luzes do Leblon.

Forever, until my life is through
Para sempre, até que minha vida se acabe

Girl, I'll be lovin' you forever
Garota, eu vou te amar para sempre...

Porra, por que as coisas tiveram que terminar assim? Eu amaria Karina para sempre, se ela tivesse deixado.

O celular vibra e eu olho para a tela, percebendo que é a minha chefe. Por que diabos ela está me ligando àquela hora? Teria James sido uma decepção?

Ela que se fodesse, porque eu nunca mais estaria disponível.

Abro outra garrafa e volto para o sofá, tentando esvaziar a mente. O meu telefone continua a vibrar. Desligo-o e fito o nada outra vez.

A campainha soa estridentemente, uma ou duas horas depois, e eu não abro a porta. Tenho certeza que é ela; ninguém mais apareceria sem avisar em uma sexta à noite.

Karina Avelar não gosta de ser ignorada.

Ligo o meu celular. Há 32 ligações e nem sei quantas mensagens.

"Eduardo, me atende!"

"Por favor."

"Me perdoa, eu não sei onde estava com a cabeça!"

"Não aconteceu nada."

"Mas que merda, Eduardo! Me desculpa!"

"Estou indo para o seu apartamento."

"Abre a porra da porta! Eu sei que você está em casa!"

"Eu vou tocar a sua campainha até ela queimar."

Leio a última mensagem e gargalho, percebendo, pelos toques insistentes, que Karina está levando a ameaça muito a sério. Começo a me preocupar com os vizinhos, mas a situação é tão surpreendente que eu decido não abrir a porta. Não agora.

Eu quero ver o que ela vai fazer para me convencer a ouvi-la.

- Eduardo, me escuta! Por favor! - ela grita, esmurrando a porta. - Não aconteceu nada entre mim e James! Nada! Meu amor...

Estranho o choro na voz dela; Karina não é de chorar.

Ela deve ter bebido um bocado para estar ali chorando, berrando e me chamando de meu amor.

- Edu, você é a única pessoa que eu conheço que odeia escândalos tanto quanto eu! - Verdade. - Se você não abrir a porra da porta, eu vou fazer um. Vou gritar tanto que vão me ouvir na rua. Não duvide - ela ameaça, em um tom mais baixo, ainda esmurrando a minha pobre porta.

Ouço um soluço. Ela realmente está chorando.

- Eu sei que fiz merda, Edu, mas porra! Eu te...

- Não - interrompo-a, abrindo a porta apressadamente.

- Não? Não o quê? - Karina pergunta, confusa. Ela está ainda mais bêbada do que eu tinha imaginado, as roupas amassadas, a maquiagem borrada e os olhos vermelhos.

Fica Comigo (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora