4 - Eduardo

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Os olhos castanhos de Karina encontram os meus e, em seguida, passeiam lentamente pelo meu corpo. Murcho a  barriga e, cruzando as pernas para tentar disfarçar a minha ereção, penso em coisas menos empolgantes, como a minha mãe de camisola, a lista de compras da semana e os boletos dos colégios das meninas.

Nada funciona. O meu pau parece prestes a rasgar as minhas calças de tão duro, e eu e Karina nem tínhamos feito nada de mais.

Eu estava, definitivamente, assustado comigo mesmo.

- Por que você não janta comigo, hoje? - pergunto, percebendo que Karina não havia dito uma palavra desde que eu falei que a queria. Começo a me preocupar, porque ela não é de ficar calada durante tanto tempo...a ruiva  estaria escolhendo as palavras para me dar um fora?

Meu pênis murcha com o pensamento.

- Melhor não, Eduardo. Eu estou cansada e preciso...preciso pensar um pouco sobre a sua proposta - ela responde, hesitante. Entendo como um talvez.

- Amanhã, então? Eu posso cozinhar. Massas são a minha especialidade, e eu sei que você gosta de comida italiana - insisto.

- Eu realmente preciso de um tempo, Eduardo. Sabe, eu nunca imaginei que você...ou que nós...

- Você nunca imaginou que eu te quisesse ou que nós pudéssemos ficar juntos - completo, vendo-a olhar para baixo e torcer as mãos. Me aproximo e levanto o queixo dela, delicadamente, fazendo com que ela volte a me encarar. - Karina?

- Hum?

- Eu vou te beijar agora. Se você não estiver a fim, é só me afastar.

Ela arregala os olhos, mas não faz nenhuma menção de me empurrar. Toco os lábios dela com os meus de leve e a puxo para o mais perto de mim que consigo.

Peço passagem com a língua e ela entreabre a boca, o gosto de café se misturando com o de hortelã da minha pasta de dentes. Percebo, então, que Karina sequer sabe beijar, e a perspectiva de ensiná-la me deixa excitado de novo. Me encaixo entre as pernas dela, deixando que ela sinta a minha ereção.

Karina geme, baixinho, e eu mordo e lambo o pescoço dela. Me afasto por um instante para abrir os botões da camisa branca que ela veste, e aproveito para observá-la. Ela está com os olhos fechados, o rosto avermelhado...e mais linda do que nunca. Puta que pariu, como eu a amo!

Afasto o sutiã de renda branca comportado e abocanho um mamilo, procurando por alguma superfície onde eu possa deitá-la. Ela geme mais alto, totalmente entregue, e eu estou considerando colocá-la em cima da mesa quando o telefone toca.

- Sim, Elisa, eu sei. Estamos saindo, já. Obrigada - ouço-a dizer, meio zonzo. Ela desliga e completa, em um tom de voz verdadeiramente ártico: - Temos que ir, Eduardo. Mas antes é melhor você limpar o rosto...vermelho, definitivamente, não é a sua cor.

Limito-me a balançar a cabeça e vou até o banheiro da sala dela. Lavo o rosto, tirando o que restou do batom com uma toalha de papel e volto para encontrá-la retocando a maquiagem.

- Eduardo? - ela me chama, pouco antes de eu abrir a porta.

- Sim?

- Eu vou avaliar a sua proposta, mas, enquanto resolvo se vou aceitá-la, continue negociando com o agente do Sr. Hardman, ok?

- Ok - respondo, bufando de raiva, e saio batendo a porta com força.

A reunião está prestes a começar e eu continuo bufando. Sento propositalmente longe de Karina; ela aparece pouco depois de mim, impecável, e conduz a reunião com a eficiência de sempre. Quanto a mim, bem...acho que não falei nenhuma besteira, mas só acho.

Minha chefe encerra a reunião e eu cumprimento os diretores da Avelar com um movimento de cabeça, tentando sair rapidamente. A irmã de Theo, Leona, resolve me parar no meio do meu caminho até a porta.

- Eduardo, há quanto tempo não nos falamos! - Ela beija o meu rosto, parecendo feliz em me ver. - Como você está?

- Ótimo. - Dou um sorriso amarelo.

- Precisamos colocar a conversa em dia. Você vai à minha festa de réveillon, não vai?

- Eu não sei, Leona. - Minto: - É o meu dia de ficar com as meninas e...

- Leve-as! - ela me interrompe. - Eu não vejo Camila e Gabi há anos.

-  praticamente adultas,

- Vocês  Estarei esperando.

Leona sai, deixando um cheiro de perfume forte demais no ambiente, e eu penso que estou encrencado. Apesar de gostar bastante dela, eu não quero ir à festa, e Karina é a culpada. Eu estou puto, muito puto por ela ter me dispensado.

Resolvo evitá-la, nos próximos dias. Talvez ela lembre dos meus beijos e me peça para parar de negociar a vinda do pirocudo dos infernos.

-

Abro uma garrafa de vinho e pego o meu celular, colocando uma playlist aleatória para tocar. É noite de réveillon e eu estou sozinho. Terrivelmente sozinho.

As minhas filhas saíram com a mãe.

Os meus pais viajaram com a minha irmã.

Os meus poucos amigos solteiros devem ter ido a uma festa qualquer com muita bebida, muito barulho e muitas pessoas.

Estou na terceira taça - e há cinco minutos sem pensar em Karina, um recorde - quando escuto os acordes de uma música que não lembro de ter ouvido, antes.

Presto atenção à letra, e ela é sobre vinho, solidão e chorar. Eu ainda não havia chorado, mas certamente o faria se tomasse mais algumas taças.

When you're all alone in your lonely room
And there's nothing but the smell of her perfume
And don't you feel like crying?
Don't you feel like crying?
And don't you feel like crying?
Come on, come on, cry to me

Well nothing can be sadder than a glass of wine, alone
Loneliness, loneliness, it's such a waste of time...

Reconheço a voz de Seal e, agradecendo pelo sábio conselho (a solidão é uma perda de tempo), levanto do sofá, decidido a me arrumar para a festa de Leona. Tomo um banho rápido, faço a barba, capricho no perfume e resolvo ir andando; a tia de Karina mora em uma cobertura à beira mar que fica a poucos  quarteirões do meu apartamento.

Entro na sala lotada de gente e faltam dez minutos para a meia-noite. Beijo a anfitriã e falo com quem eu conheço, dando alguns goles em uma taça de espumante enquanto procuro por Karina com os olhos. Encontro-a na varanda, debruçada sobre o parapeito e parecendo sentir-se tão sozinha quanto eu.

Pego outra taça e sigo na direção dela, o coração batendo tão forte que eu temo que ela ouça. Encosto-me na mureta e estendo o espumante.

- Eu achei que você poderia estar com sede. - Sorrio. - Feliz ano novo, Karina.

- Feliz ano novo, Eduardo. - Ela sorri também e pega a taça. Os nossos dedos se tocam, brevemente, e eu sinto um choque percorrer o meu corpo. - Pensei que você não ia vir, hoje.

- Vim porque sabia que ia te encontrar. - Olho-a sedutoramente (ou espero estar olhando). - Queria te pedir uma coisa, posso?

- Claro, Edu. O que você quer?

- Te beijar, à meia noite.

-

É, ninguém pode dizer que Eduardo não é persistente...poxa, Karina, esquece os 22 centímetros do James e dá uma chance pro rapaz. Ele tem olhos verdes!

Capítulo saindo no dia combinado e autora feliz. Um beijo, Dani.

Fica Comigo (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora