Fica Comigo (COMPLETO - SEM REVISÃO)

19 - Karina

Vamos começar (ou terminar) a semana com o primeiro capítulo do ano? 3, 2, 1...

-

Prendo a tiara no meu cabelo e sento na cama, calçando os sapatos transparentes e um pouco folgados. Levanto com uma certa dificuldade e observo o meu reflexo no espelho; o vestido azul rodado e volumoso me cai muito bem, e a maquiagem suave complementa a roupa perfeitamente.

Estou linda, uma verdadeira princesa de contos de fadas - só que gorda. Talvez eu seja a princesa depois de dez anos do felizes para sempre, três ou quatro filhos e muitos quilos a mais...

Ouço uma batida enquanto rio dos meus pensamentos e corro para abrir a porta. Minha tia irrompe, sutil como um furacão, na suíte do hotel.

- Karina, você tá atrasada! Quase todo mundo já chegou e...uau! - Ela para e me olha atentamente. - Que linda! Bela Adormecida?

- Não, Cinderela. Tenho até o sapatinho de cristal - respondo, levantando a saia para mostrar os meus saltos altíssimos.

- Escolha interessante. Eu nunca imaginei que você se fantasiaria de princesa. - Leona arruma a faixa da própria roupa, de romana, diante do espelho. - Só se fosse a Elsa, né? Que governa o próprio reino, é independente, não quer nenhum príncipe...

- E congela as pessoas com as mãos. Muito apropriado - completo, com um suspiro. - Alguns funcionários dizem que eu sou capaz de congelar com um olhar, é praticamente a mesma coisa!

Leona gargalha.

- Sabe, tia, a fantasia tem um porquê. Eu não quero ser a Elsa! Quero ser a Cinderela ou qualquer outra que tenha um príncipe, mesmo que não precise dele pra me salvar ou pra governar o meu reino...

- Mesmo? - Minha tia arqueia uma sobrancelha. - E quem você escolheu pra ser o seu príncipe? É alguém que eu conheça?

- Você sabe muito bem que é Eduardo... - Suspiro de novo. - Eu o amo.

- Então pare de suspirar. Amar e ser correspondido é maravilhoso, e eu desconfio que você o é.

- Acho que sim. - Ensaio um sorriso. - É melhor irmos, não? Falta pouco pro meu discurso.

Entramos no elevador e eu torço as minhas mãos geladas. Estou nervosa, e muito; odeio falar em público e é a primeira vez que preciso fazê-lo diante de tantas pessoas.

Leona beija o meu rosto para me encorajar e eu subo no palco, recebendo milhares de olhares curiosos. O meu coração começa a bater desconfortavelmente e eu respiro fundo algumas vezes. Pego o microfone.

- Boa noite - começo, em um tom de voz baixo e inseguro, assim que a música para. - Para quem não me conhece pessoalmente, sou Karina Avelar, atual CEO das Empresas Avelar. É o primeiro baile desde a morte do meu pai, Theodoro Avelar, e eu nunca me dirigi a vocês, antes, mas prometo ser breve...como ele costumava ser.

Forço um sorriso e procuro por Edu com os olhos, encontrando-o no meio do salão com as filhas. Ele segura um capacete, veste uma roupa cinza e vermelha bem ajustada no corpo e parece estar sorrindo para mim, o que me encoraja.

Continuo a falar, com um pouco mais de segurança:

- Assumi a presidência da Avelar há pouco mais de um ano, e ter que substituir o meu pai em meio à dor de perdê-lo foi, de longe, a coisa mais difícil que eu tive que fazer na minha vida. Theo foi um grande CEO. Um visionário...e a melhor pessoa que eu conheci. - Seco uma lágrima discretamente e palmas ecoam pelo salão. - Obrigada. Onde eu estava, mesmo? - Pego o papel com o discurso na minha bolsa. - Ah, sim. Sou muito grata a todos vocês por terem me apoiado no período de transição. Vice-presidente, diretores, funcionários...