𝟒𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝐭𝐡𝐞 𝐟𝐮𝐭𝐮𝐫𝐞 𝐭𝐚𝐬𝐭𝐞𝐬 𝐥𝐢𝐤𝐞 𝐣𝐮𝐥𝐲

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determinado momento depois de uma perda, comumente o cérebro vai resetando lentamente até mesmo as informações mais necessárias e mais angustiantes que eu poderia ter guardado com todo o carinho do mundo.

eu sinto o gosto da sua pele sem nem mesmo ter tido a oportunidade de tê-la tocado e eu não me lembro mais do seu rosto como ele costumava ser, talvez seja uma consequência das minhas atitudes desproporcionais para o tamanho do meu ego e para o tamanho do seu coração de ouro. eu lembro de uma foto que você me mandou num dia insuportavelmente quente de janeiro, daqueles em que aqui onde eu moro, comumente não conseguimos prosseguir com primeiros ou segundos atos sem a ajuda de um ar condicionado. eu lembro de todas as peças de roupa que você usava. eu lembro de me sentir inferior à você por ser um ano mais nova.

o seu gosto é remanescente na minha lingua, sua idiota.

eu queria tê-la feito queimar uma noitezinha à mais antes de me despedir de você com um grito miserável. eu não sou muito boa com perdas. eu secretamente chamo o seu nome de madrugada e acordo com os olhos marejados sem esperança e sem vontade de viver.

eu construí um quarto para nós duas como quem constrói uma máquina do tempo com finalidade nenhuma além de promessas sobre outras vidas, mas a minha garota do futuro não tem mais rosto e está perdida no fundo de um poço, mas eu não a encontro em lugar algum.

𝖽𝖾𝖼𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora