𝟔𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝟗𝟔

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em noites como essa eu posso jurar gritar o seu nome e toda a exclusividade realmente privilegiada de todos os nossos fazeres e aconteceres como se não fôssemos simples peças de um jogo óbvio de xadrez que vai separar com o estopim dilacerante da falta logo quando se é anunciado que os jogadores precisam dar um fim nesse jogo com um cheque mate ardiloso e sensível aos olhos, porque nada mais importa: o nosso tempo está acabando.

novembro de 2019 soou como um sonho. talheres tilintavam aquela maravilhosidade sonora contra os nossos ouvidos carentes e que por muito tempo ouviram xingamentos e termos extremamente disciplinares. ninguém de fato contava que sementes de melão separadas do fruto logo na primeira infância se reergueriam com os ossos quebrados e da tristeza que se é ver dando você mesma, os frutos pelos quais você sempre viveu para que fossem evitados. depois de muito tempo nós acabamos descobrindo que é delicioso demais estar no topo do mundo desmascarando medos sem pé nem cabeça e sem fundamento nenhum antes: a dor, a perda, o amor, a solidão, o amor de novo e novamente a dor da perda.

em noites como essa, não existe vergonha como requisito no meu corpo e tudo que eu posso fazer é agradecer por poder subir em cima de você e tê-la aliada ao meu próprio plano de fuga pelo menos uma vez em quatro anos. não que eu duvidasse que você não concordasse comigo mas roubar o dinheiro da nossa formatura clandestinamente e atravessar a rua para comprar batatas fritas e sorvete no McDonald's nunca fez parte do nosso real repertório de amizade.

a minha mãe não está em casa pela primeira vez. tudo tem gosto de novo e tem o desejo latente em seus olhos pedindo, pedindo e pedindo - quase gritando, dizendo que nós podemos simplesmente agarrar tudo com as nossas mãos de unhas recém feitas e engolir tudo, só ignorando o grandioso prato de macarrão que havíamos devorado pouquíssimo tempo antes.

a chave gira. os faróis dos carros incendeiam nossa visão periférica e nossos passinhos curtos se transformam numa longa e desalinhada maratona, contando com que a minha mãe não apareça por ali jogando tudo que conquistado pela janela e pisoteando sem pena.

mas nada acontece.

o cupom fiscal está em nossas mãos e os nossos rostos estão vermelhos. acho que é desse tipo de diversão que restaurantes 24h sempre deveriam fazer propaganda na televisão. eu com certeza atravessaria a rua mais vezes do que o habitual para comer batatinhas com você!

pedido 96-01.

é 96 ou 97? você pergunta

acho que a gente precisa esperar pra descobrir, sabe?

deve ser 96, quem seria tão idiota ao ponto de escrever 96-01 ao invés de 97?

e fazia completo sentido afinal.

noites como essa só são realmente valorizadas quando a gente realmente se dá conta de que sacrifícios em nome do futuro precisam ser feitos, sendo eles a minha bolsa caríssima na escola mais prestigiada da cidade ou o fato de que eu nunca vou ter tanta intimidade com alguém quanto eu tive com você. não é todo dia que se pode dançar da maneira mais ridícula do mundo na frente de alguém torcendo para que ela não ria de você e na verdade, ela só compactue com a sua loucura e te dê as mãos para que dancem juntinhas e abraçadas uma vez na vida. não é sempre que palavras são facilmente dispensadas e dão lugar legítimo à risadas, borbulhantes lagrimas de saudade ou solidão. é aí que as histórias de vida entram. pactos de sangue e mais lagrimas ainda - mas dessa vez é só de nervosismo mesmo, porque eu não sei de onde nós duas tiramos coragem para colocar dois piercings como forma que jamais esqueceremos uma da outra quando nos olharmos no espelho ou se é só de loucura cortante e pura vontade de subir no palco do centro da cidade e dar um show louquisismo com as nossas vozes em perfeita sincronia. quem seria mais sentimental que nós duas juntas?

𝖕𝖆𝖗𝖆 𝖗𝖆𝖖𝖚𝖊𝖑, 𝖖𝖚𝖊 𝖆𝖎𝖓𝖉𝖆 𝖓𝖆̃𝖔 𝖘𝖆𝖇𝖊, 𝖒𝖆𝖘 𝖖𝖚𝖊 𝖙𝖊𝖗𝖒𝖎𝖓𝖔𝖚 𝖉𝖊 𝖙𝖊𝖈𝖊𝖗 𝖆 𝖛𝖔𝖓𝖙𝖆𝖉𝖊 𝖉𝖊 𝖛𝖎𝖛𝖊𝖗 𝖖𝖚𝖊 𝖉𝖊 𝟐𝟎𝟏𝟕 𝖊𝖒 𝖉𝖎𝖆𝖓𝖙𝖊 𝖙𝖊𝖛𝖊 𝖆 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖗𝖆 𝖎𝖓𝖙𝖊𝖗𝖉𝖎𝖙𝖆𝖉𝖆 𝖕𝖔𝖗 𝖙𝖊𝖒𝖕𝖔 𝖎𝖓𝖉𝖊𝖙𝖊𝖗𝖒𝖎𝖓𝖆𝖉𝖔.

𝖽𝖾𝖼𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora