𝟓𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝐥𝐢𝐞̀𝐠𝐞

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eu vejo através da névoa vazia do outono úmido um holograma de cristal do que costumava ser o banco da praça em liege onde com você eu costumei sentar por longas tardes no mínimo por longos nove meses. não se trata de amor e nem do caniço pronto para o ataque marítimo que sempre tivemos certeza de que poderia ser a armadilha perigosa do amor proibido - até porque você é uns belos de uns cinco anos mais velha e mais bem vivida que eu.

acho que naturalmente se trata da divergência entre desejos susurrados em tardes surradas de inverno onde o sol só aparecia para dar um tchauzinho lento às quatro e meia e logo ia embora para so voltar na outra quinta-feira velando pedidos e conversas secretas sobre sonhos que nós tivemos nas semanas anteriores com isqueiros cor de rosa, jaquetinhas de couro e beijos deliciosamente gostosos que nós nunca poderemos realizar de fato com algum professor gostoso do último ano ou pelo meu lado, qualquer garoto guitarrista emocionado que me dedica não somente tragadas lentas num baseado quanto o posto de vocalista principal da sua banda ridiculamente boa e desconhecidamente adolescente demais, só que no meio do andar da carruagem, eu nem de fato me dei o trabalho de me lemberar por no mínimo um minuto que no ano que vem eu iria embora da bélgica e que a sua mãe havia comprado a sua passagem para a alemanha no comecinho do verão.

agora o sol come lentamente os mortos resquícios das aventuras que eu nunca vivi e dos cigarros que mesmo prometidos, de fato jamais foram fumados debaixo das construções abandonadas da cidade redecorada para a chegada da primavera. no nosso último adeus, você me carregou até o fim da linha do trem como quem espera veemente que eu pule antes que ele retorne à estação para evitar maior transtorno. em 9 meses eu me tornei fumante passiva da fumaça vespertina que emanava do sol convergindo com o ardido do gelo sob os nossos pés calçados iguais e com os pares de all-star preto desbotados: gêmeos de tanto tédio.

até agora, o que não me resta é um baseado nem um isqueiro, o que é cômico, porque todos os cigarros que eu já ascendi antes de te conhecer sempre foram filhos da minha velha caixinha de fósforos.

eu vou sentir falta do banco azul escorado na árvore centenária de abajur para noites que nunca aconteceram e mãos que nunca se tocaram com segundas intenções, porque o traço da irmandade sequer se origina do sangue, mas da divergência entre querer, poder e a velocidade em que o tempo corre antes que você vá para a academia e esqueça que eu poli o meu inglês da melhor maneira que pude somente para não soletrar nenhuma palavra em alemão com você se achando muito inteligente por ter me convencido à estudar mais um idioma europeu tão chique quanto francês. até porque eu não sei alemão. nem francês. mas se eu tivesse passado talvez uma ou duas tardes a mais com você, abraços de despedida não seriam necessários e palavrões em alemão substituíram as desculpas de merda que eu já tive coragem de despejar sob a sua boca quando você me perguntava se eu era míope ou se eu só achava os seus óculos bonitos e dignos de uma foto no meu instagram. acho que por todo esse tempo eu só quis enxergar a vida de uma perspectiva diferente sem que eu precisasse rir da nossa situação constrangedora e completamente amadora em relação à cigarros e professores de matemática com primeiras, segundas e terceiras intenções, o que não passam apenas dos nossos sonhos de adolescente.

𝐄: 𝟔𝟖𝟐𝟒𝟐𝟖.𝟎𝟗 𝐍: 𝟓𝟔𝟏𝟐𝟏𝟒𝟏.𝟎𝟒

𝖕𝖆𝖗𝖆 𝖑𝖎𝖊̀𝖌𝖊, 𝖆 𝖚́𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖇𝖊𝖑𝖌𝖆-𝖓𝖆̃𝖔-𝖇𝖊𝖑𝖌𝖆 𝖖𝖚𝖊 𝖊𝖚 𝖏𝖆́ 𝖋𝖚𝖎 𝖈𝖆𝖕𝖆𝖟 𝖉𝖊 𝖆𝖒𝖆𝖗 𝖒𝖊𝖘𝖒𝖔 𝖆̀ 𝖚𝖒𝖆 𝖊𝖘𝖙𝖆𝖈̧𝖆̃𝖔 𝖉𝖊 𝖙𝖗𝖊𝖒 𝖉𝖊 𝖉𝖎𝖘𝖙𝖆̂𝖓𝖈𝖎𝖆. 𝖔 𝖓𝖔𝖘𝖘𝖔 𝖇𝖆𝖓𝖈𝖔 𝖆𝖟𝖚𝖑 𝖆𝖎𝖓𝖉𝖆 𝖉𝖎𝖟 𝖖𝖚𝖊 𝖓𝖆𝖉𝖆 𝖗𝖊𝖆𝖑𝖒𝖊𝖓𝖙𝖊 𝖇𝖆𝖘𝖙𝖆 𝖆𝖕𝖊𝖘𝖆𝖗 𝖉𝖊 𝖈𝖎𝖌𝖆𝖗𝖗𝖔𝖘 𝖊 𝖘𝖔𝖓𝖍𝖔𝖘 𝖛𝖎́𝖛𝖎𝖉𝖔𝖘 𝖆𝖙𝖊́ 𝖉𝖊𝖒𝖆𝖎𝖘. 𝖆𝖘 𝖆́𝖗𝖛𝖔𝖗𝖊𝖘 𝖕𝖔𝖗 𝖘𝖚𝖆 𝖛𝖊𝖟 𝖊𝖚 𝖈𝖗𝖊𝖎𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖗𝖊𝖘𝖙𝖆𝖇𝖊𝖑𝖊𝖈̧𝖆𝖒 𝖓𝖔𝖛𝖔𝖘 𝖑𝖚𝖌𝖆𝖗𝖊𝖘 𝖆̀𝖘 𝖘𝖚𝖆𝖘 𝖋𝖔𝖑𝖍𝖆𝖘 𝖈𝖆𝖎́𝖉𝖆𝖘. 𝖘𝖊𝖒 𝖛𝖔𝖈𝖊̂, 𝖓𝖊𝖒 𝖏𝖚𝖓𝖍𝖔, 𝖏𝖚𝖑𝖍𝖔 𝖔𝖚 𝖆𝖌𝖔𝖘𝖙𝖔 𝖙𝖊𝖗𝖎𝖆𝖒 𝖔 𝖒𝖊𝖘𝖒𝖔 𝖌𝖔𝖘𝖙𝖔 𝖉𝖊 𝖈𝖍𝖚𝖛𝖆, 𝖈𝖍𝖔𝖈𝖔𝖑𝖆𝖙𝖊 𝖊 𝖆́𝖌𝖚𝖆 𝖌𝖊𝖑𝖆𝖉𝖆 𝖖𝖚𝖊 𝖏𝖆́ 𝖈𝖔𝖓𝖘𝖊𝖌𝖚𝖎𝖚 𝖙𝖊𝖗 𝖊𝖒 𝖚𝖒 𝖒𝖎𝖑𝖍𝖆̃𝖔 𝖉𝖊 𝖆𝖓𝖔𝖘. 𝖕𝖗𝖆 𝖛𝖔𝖈𝖊̂, 𝖓𝖆̃𝖔 𝖒𝖊 𝖗𝖊𝖘𝖙𝖆𝖒 𝖉𝖊𝖘𝖈𝖚𝖑𝖕𝖆𝖘 𝖔𝖚 𝖕𝖊𝖉𝖎𝖉𝖔𝖘 𝖘𝖊𝖌𝖗𝖊𝖉𝖆𝖉𝖔𝖘 𝖘𝖔𝖇𝖗𝖊 𝖈𝖔𝖎𝖘𝖆𝖘 𝖈𝖔𝖒𝖊𝖙𝖎𝖉𝖆𝖘 𝖆𝖓𝖙𝖊𝖘 𝖉𝖊 𝖊𝖚 𝖙𝖊𝖗 𝖙𝖊 𝖈𝖔𝖓𝖍𝖊𝖈𝖎𝖉𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖈𝖊𝖘𝖘𝖎𝖛𝖆𝖒𝖊𝖓𝖙𝖊 𝖆𝖕𝖔́𝖘 𝖔 𝖓𝖔𝖘𝖘𝖔 𝖉𝖊𝖘𝖊𝖓𝖈𝖔𝖓𝖙𝖗𝖔 𝖕𝖗𝖊𝖉𝖊𝖘𝖙𝖎𝖓𝖆𝖉𝖔. 𝖆𝖘 𝖗𝖚𝖆𝖘 𝖘𝖊𝖓𝖙𝖊𝖒 𝖋𝖆𝖑𝖙𝖆 𝖉𝖔 𝖆𝖑𝖊𝖒𝖆̃𝖔 𝖓𝖚𝖓𝖈𝖆 𝖈𝖎𝖙𝖆𝖉𝖔 𝖊 𝖉𝖔 𝖎𝖓𝖌𝖑𝖊̂𝖘 𝖘𝖊𝖒𝖕𝖗𝖊 𝖌𝖗𝖎𝖙𝖆𝖉𝖔, 𝖌𝖆𝖗𝖌𝖆𝖑𝖍𝖆𝖉𝖔 𝖊 𝖆𝖙𝖗𝖆𝖕𝖆𝖑𝖍𝖆𝖉𝖔 𝖘𝖆𝖎́𝖉𝖔 𝖉𝖎𝖗𝖊𝖙𝖆𝖒𝖊𝖓𝖙𝖊 𝖉𝖔 𝖋𝖔𝖗𝖓𝖔 𝖈𝖔𝖒 𝖉𝖊𝖘𝖙𝖎𝖓𝖔 𝖆̀ 𝖓𝖆̃𝖔 𝖘𝖊𝖎 𝖆𝖔𝖓𝖉𝖊. 𝖓𝖔𝖘𝖘𝖔𝖘 𝖋𝖎𝖑𝖒𝖊𝖘 𝖓𝖚𝖓𝖈𝖆 𝖆𝖘𝖘𝖎𝖘𝖙𝖎𝖉𝖔𝖘, 𝖇𝖔𝖈𝖆𝖘 𝖓𝖚𝖓𝖈𝖆 𝖇𝖊𝖎𝖏𝖆𝖉𝖆𝖘 𝖊 𝖍𝖎𝖘𝖙𝖔́𝖗𝖎𝖆𝖘 𝖒𝖆𝖑 𝖈𝖔𝖓𝖙𝖆𝖉𝖆𝖘 𝖚𝖑𝖙𝖗𝖆𝖕𝖆𝖘𝖘𝖆𝖒 𝖆𝖘 𝖇𝖆𝖗𝖗𝖊𝖎𝖗𝖆𝖘 𝖉𝖆 𝖆𝖒𝖎𝖟𝖆𝖉𝖊 𝖕𝖔𝖘𝖘𝖎́𝖛𝖊𝖑 𝖊𝖓𝖙𝖗𝖊 𝖖𝖚𝖆𝖑𝖖𝖚𝖊𝖗 𝖆𝖑𝖒𝖆 𝖖𝖚𝖊 𝖈𝖔𝖒𝖇𝖎𝖓𝖊 𝖓𝖆 𝖑𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖙𝖊̂𝖓𝖚𝖊 𝖊𝖓𝖙𝖗𝖊 𝖊𝖚 𝖈𝖔𝖒 𝖈𝖆𝖙𝖔𝖗𝖟𝖊 - 𝖖𝖚𝖆𝖘𝖊 𝖖𝖚𝖎𝖓𝖟𝖊 - 𝖆𝖓𝖔𝖘 𝖊 𝖛𝖔𝖈𝖊̂ 𝖈𝖔𝖒 𝖔𝖘 𝖘𝖊𝖚𝖘 𝖗𝖊𝖈𝖊́𝖒 𝖈𝖔𝖒𝖕𝖑𝖊𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖊𝖟𝖔𝖎𝖙𝖔 𝖊 𝖆𝖘 𝖓𝖔𝖘𝖘𝖆𝖘 𝖒𝖆𝖓𝖎𝖆𝖘 𝖆𝖈𝖔𝖑𝖍𝖊𝖉𝖔𝖗𝖆𝖘 𝖊𝖓𝖘𝖆𝖎𝖆𝖉𝖆𝖘 𝖆𝖔 𝖕𝖊́ 𝖗𝖊𝖈𝖊́𝖒 𝖆𝖘𝖘𝖊𝖓𝖙𝖆𝖉𝖔 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖕𝖗𝖊́𝖉𝖎𝖔 𝖆𝖇𝖆𝖓𝖉𝖔𝖓𝖆𝖉𝖔, 𝖌𝖆𝖘𝖙𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖑𝖆𝖙𝖎𝖒 𝖘𝖔𝖇𝖗𝖊 𝖕𝖔𝖘𝖘𝖎́𝖛𝖊𝖎𝖘 𝖉𝖊𝖑𝖎𝖇𝖊𝖗𝖆𝖈̧𝖔̃𝖊𝖘 𝖘𝖔𝖇𝖗𝖊 𝖒𝖆𝖗𝖈𝖆𝖘 𝖉𝖊 𝖈𝖎𝖌𝖆𝖗𝖗𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖕𝖔𝖉𝖊𝖗𝖎𝖆𝖒 𝖙𝖊𝖗 𝖘𝖎𝖉𝖔 𝖈𝖆𝖙𝖆𝖑𝖔𝖌𝖆𝖉𝖆𝖘 𝖕𝖊𝖑𝖔𝖘 𝖓𝖔𝖘𝖘𝖔𝖘 𝖉𝖊𝖉𝖎𝖓𝖍𝖔𝖘 𝖆́𝖌𝖊𝖎𝖘. 𝖒𝖆𝖘 𝖓𝖆̃𝖔 𝖋𝖔𝖗𝖆𝖒.

𝖊𝖚 𝖙𝖊 𝖆𝖒𝖔.

𝖽𝖾𝖼𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora