Prólogo

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Dean Rodwell

Se eu pudesse resumir o Natal em uma palavra seria pesadelo. Como ninguém percebe que essa época do ano é mais parecida com uma guerra do que com a comemoração de um aniversário? Pânico coletivo, aglomerações, acidentes, estradas obstruídas e tristeza em cada esquina sendo camuflada pelo espírito natalino... Tudo continua igual — senão pior — só que vestido de vermelho.

Sinceramente, é um desastre. Principalmente porque sempre tenho uma baixa nos meus negócios nesse período do ano. Minhas ações caem porque eu não vendo a droga do natal. As ações de todo mundo que não comercializa meias, suéteres horríveis ou presentes baratos vão parar no fundo no poço. Tudo bem, não cai tanto assim, mas qualquer baixa pra mim é uma derrota.

Dezembro chega e todo mundo esquece que existe outras coisas além de visgo, barba branca e peru dourado.

Sou CEO da Rodwell Inc, um conglomerado multinacional líder de mercado desde que meu tataravô fundou. Tenho empresas que administro que sim, se beneficiam com a grandiosidade do natal, mas não são todas. Também não são a maioria. Então o velhinho obeso chega e minha curva de produção desce sempre dois pontos ou mais.

Preciso pensar em como me beneficiar com esse maldito pesadelo também. Eu sou perfeccionista demais com meu desempenho. Um ponto abaixo do usual já é motivo para me fazer surtar. Cinco, então, como esse ano, me fizeram viajar até a Califórnia para colocar algumas pessoas contra a parede.

Mas, embora eu seja imbatível em meus esforços, não tenho boas perspectivas quanto à mudança na curva nos próximos cinco anos. Ações na wallstreet e a advocacia não são bem os mais requisitados durante o natal. Tirando minhas empresas de pequeno porte, meus maiores lucros ficam em desvantagem quando a neve cai.

Meu carro também fica. É uma droga todo esse gelo na estrada. Estou voltando de viagem com uma pressa do inferno para chegar no meu apartamento e lembrar porque eu trabalho tanto para pagar o aquecedor. Meu Aston Martin é maravilhoso, mas ele certamente não foi feito para patinação no gelo.

Fico dividido entre dirigir rápido ou ir devagar para realmente conseguir chegar em casa. Mas estou apertado. Preciso mijar urgentemente. Na pressa de deixar a Califórnia, eu ao menos passei em um hotel. Do aeroporto fui direto para a reunião, e da reunião voltei para o aeroporto. Pode parecer um pouco ansioso para um homem que só tem o aquecedor o esperando em casa, mas eu nunca me dei bem na sociedade de dezembro. Só estou louco para me trancar na minha cobertura e trabalhar três vezes mais que no escritório.

É isso que eu faço. Trabalho. Não lembro de quando foi diferente, mas para falar a verdade tenho pouco tempo para a nostalgia.

A neve só caía mais rápido com o passar do tempo. A via principal deveria estar com um engarrafamento gigante, então peguei um atalho. Os pisca-piscas exagerados enfeitando as casas me guiavam no meio daquela neblina cada vez mais densa, até que as luzes foram ficando mais escassas e sumiram.

Ótimo. — Resmunguei ao ver o breu tomando conta da estrada. Os faróis do carro já não estavam funcionando tanto. Não estava enxergando muita coisa, precisava ir ao banheiro e minha casa ainda estava do outro lado da cidade.

E se não bastasse apenas isso, o carro começou a fazer um barulho estranho. O que foi agora?! Algumas luzes se apagaram no painel e ele simplesmente parou. O Aston Martin foi inundado pelo breu.

Bati a testa contra o volante. Isso não pode estar acontecendo comigo.

Eu não acredito que comprei um carro de mais de cento e oitenta mil euros pra ele me deixar na mão no meio de uma tempestade de neve.

Um CEO de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora