Capítulo 6

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Dean Rodwell

Ayla já não era gentil e simpática quado estava saudável, mas era ainda pior quando estava machucada. O que comprovava minha teoria de ela ser uma ursa. Não conseguia se manter quieta, sempre reclamando e brigando com as paredes.

Eu não tenho nada a ver com o seu estresse, é obvio, mas enquanto estiver na sua casa, sou obrigado a ouvir calado. E eu sempre odiei barulho e desordem.

Mas não é como se eu não estivesse tentando ir embora. Eu tento em todas as horas do dia, mas já estou começando a desistir da tecnologia. A ligação nunca se completa e a internet vive caindo, o que me impede de me comunicar com qualquer ser humano lá fora e me deixa preso em uma sala minúscula tendo que aguentar os risos histéricos de Ayla e Elizabeth enquanto assistem um filme ruim de comédia.

Olho meu relógio. Já são quatro da tarde. Nesse momento eu estaria em uma reunião, ou trabalhando no meio de papéis e problemas. Estaria na minha mesa de mogno, de frente para o meu computador, com uma xícara de café bem quente em cima do porta copos e os lápis posicionados milimetricamente ao lado da minha agenda.

Se o paraíso existir, ele é parecido com isso.

Me levantei da banqueta de madeira em que estava sentado e fui vasculhar os armários e a geladeira. Cozinhar me faria sair da ociosidade e trabalhar. Seria bom não ficar notando cada risada estranha de Ayla ou no quão finos eram os seus gritos. Mais uma hora dessa tortura e eu me mataria.

Mas na feira que Ayla fez ontem, e que foi entregue uma hora depois que ela chegou com o pé torcido, não tinha nada além de porcaria. Salgadinho, massa pré-pronta, enlatados e uma penca de comida congelada.

Sinceramente, eu não sei como ela vive ou tem esse corpo aparentemente bonito. Não que eu tenha reparado, mas ela parece magra demais para quem come tanta gordura processada.

- Chega - falei sozinho, fechando a geladeira.

Não vou me submeter à esse câncer consensual. Eu cuido muito bem do meu corpo, não vou me desleixar agora.

Atravessei a cozinha e cheguei no cabide de roupas na porta da casa. Peguei emprestado o moletom folgado e rosa de Ayla, coloquei meus sapatos e o meu sobretudo. Deveria servir para ir até o fim da rua.

- Meu Deus, não acredito no que meus olhos estão vendo - Ayla comentou, observando eu me arrumar para sair, já que o sofá ficava do lado da porta. - Você finalmente vai embora?

- Quem me dera - Respondi, pegando seu cachecol preto e enrolando no meu pescoço. - Vou no fim da rua. Você me falou que tinha um mercadinho lá.

- Mas eu já fiz as compras.

Eu a olhei com grandes dúvidas.

- Você gastou meu dinheiro com besteira. Estou indo comprar comida. Comida de verdade.

- Ah, mas se vai até o fim da esquina então já pode ir para casa - ela voltou a alfinetar.

Eu abri a porta, respondendo com um sorisso sarcástico.

- Não é a mesma coisa e você sabe muito bem.

Saí já apressado, porque o frio não estava de brincadeira. Mas foi fácil atravessar a rua sem congelar no lugar, apesar de sentir meu rosto e orelhas queimarem e o corpo todo reclamar por causa do gelo ultrapassando tantas roupas.

Cheguei ao estabelecimento pequeno e simples, mas que pelo menos vendiam legumes. Enchi uma cesta com carne fresca, verduras e tempero. Também peguei um vinho, o mais caro que eles tinham - que era, na verdade, o vinho mais barato que já comprei na vida, mas teria que servir.

Um CEO de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora