Capitulo 12

215 46 33
                                    

Ayla Auburn

A porta se fechou com um estrondo forte.

Eu estava sozinha. Finalmente.

Era isso que você queria, jurei para mim mesma. Ninguém para te ferir, ninguém para te ameaçar. você e sua vida, que é bem miserável, mas é a única coisa que você tem.

Que Deus não me ouça, mas ainda bem que Lizzy não estava por perto. Eu não teria suportado, não teria segurado o soluço que escapou da minha garganta. Alto, feio e acompanhado de tantas lágrimas que eu não podia enxergar mais nada. Tudo era um borrão molhado e sem sentido.

Outra vez meu corpo foi sacudido pelo choro. Tapei minha boca, pra não fazer barulho, mas tudo estava fora do meu alcance. Eu não tinha controle.

Chorei, chorei como nunca havia chorado. Passei a vida inteira colecionando mágoas atrás dos olhos pra esse momento chegar e a represa se romper. Não fazia ideia que um dia eu sentiria tanta dor, que precisaria de todos os choros que reprimi na vida para explicar ao menos metade do sofrimento do meu coração.

Cortava, doía, me fez abraçar meu próprio corpo em busca de calor, porque eu me sentia fria. Fria e vazia e só. Indigna do olhar de qualquer um, principalmente do olhar de Dean Rodwell.

Por que sofria tanto, se passei todos esses dias impedindo meu coração de sentir qualquer coisa por ele? Eu me preparei para esse momento, e de novo nada saiu como eu havia planejado. Eu sabia que ele iria embora, como todos se vão, eu só tentei impedir que ele levasse uma parte de mim com ele. Já que não havia sobrado muito de mim para sobreviver.

Todo esse choro misturado com essa gripe horrorosa entupiu meu nariz. Limpei o rosto com as mangas do moletom tentando cessar aquela nojeira molhando minha pele, mas não demorou dois segundos para que eu voltasse a chorar.

Que droga.

Ele me disse coisas horríveis, mas eu não o culpo, eu também lhe disse. A diferença é que Dean não mentiu em nada, já eu... não lembro de ter dito uma só palavra verdadeira na nossa discussão. Eu sentia tudo ao contrário do que disse, so não podia expressar. Eu não era uma mulher de emoções. Não tinha o privilégio de ser.

Minha maior culpa era ter magoado Lizzy daquele jeito. Mas ela não entendia que Dean iria embora e levaria com ele as panquecas e os filmes de Natal. Não restaria uma amizade. Anos atrás eu tirei a prova disso, nossos grupos jamais se misturavam. Se tentássemos, só traria mais dor e sofrimento.

Ela ficaria bem. Com duas ou três semanas, Lizzy se acostumaria de novo com a vida normal, e aos poucos, ira entender como as coisas funcionam. Eu amo minha filha, muito mais do que a mim mesma, e sei que parte meu coração frustrar suas expectativas agora, mas no futuro Lizzy não vai ser como eu. Não vai cometer os mesmos erros. Ser mãe também é negar. Se eu não a ensinar, o mundo vai, e o mundo não é nada gentil com garotinhas carentes.

Eu não o posso viver de sonhos, não, não. Preciso estar sempre com os dois pés enterrados no chão. As vezes minha mente vagueava, e eu imaginava como seria chamar Dean pra sair. Ou sentar outra vez em seu colo e fazer piadas sacanas só para ver ele jogar a cabeça para trás e rir. Eram pensamentos perigosos demais para mim, mas eu não conseguia impedir minha mente de fantasiar.

Dean não é uma má pessoa, mas eu sei que eu jamais me encaixaria como uma amiga de um dos homens mais ricos do estado. Eu seria chamada daquilo de novo...

Era melhor evitar qualquer contato. Eu estava certa. Decisões certas as vezes doem muito também.

Limpei o rosto outra vez e me virei na bancada da mesa. As panquecas perfeitas ainda estavam lá, esperando por mim, cobertas por mel. Meu estomago roncou, fraco.

Um CEO de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora