Ayla Auburn
As panquecas de Dean Rodwell eram perfeitas. Mas é claro que eu jamais admitiria isso à ele.
Me segurei para não gemer quando a massa derreteu na minha boca e meu estomago soltou fogos de artificio pela qualidade do café da manhã de hoje.
Eu mesma não sei cozinhar desse jeito. É uma maldição que eu carrego, nada que eu tento cozinhar sai bom. Ou acaba virando carvão, ou azeda, ou... enfim, ou da muito errado.
- Creio que acabei com a farinha de vocês - Dean quebrou o silencio da cozinha. Estávamos os três apreciando o café da manhã diferente. - E o leite também.
- Já estavam no fim mesmo - eu disse, colocando o ultimo pedaço na boca. - Eu vou agora mesmo comprar as coisas que estão faltando.
Me levantei, deixando o prato na pia.
- Você vai sair com essa neve toda lá fora? - Dean perguntou surpreso.
- Não sou você que em medo dela, Dean.
- Mas é perigoso - ele me confrontou.
- A mercearia fica no fim da rua. É bem perto, vou em um pé e volto no outro.
Caminhei para a porta, onde comecei a me agasalhar. Realmente estava bastante frio lá fora, mas como eu disse, uma pequena caminhada não me mataria. Era literalmente cinco casas depois da minha.
Dean chegou rápido até ali e me encarou como se eu fosse louca. Abri a porta sem me importar com ele. Apenas conferi se estava mesmo com o dinheiro que ele me deu no bolso na minha calça.
- Como pretende trazer tudo sozinha nessa rua congelada? Pelo amor de Deus, a prefeitura não veio jogar sal na estrada?! Sei lá, deveriam mandar um limpa-neves.
Por um segundo, eu me perguntei de onde ele tinha surgido. Aquela mera hipótese era até risória.
- Isso não é o Central Park, cara. E eles tem entregadores justamente para isso. Não vou precisar trazer nada. - Afundei mais ainda o gorro grosso na minha cabeça. - Agora feche a porta antes que o ultimo resquício de calor que a gente ainda tem vá embora.
Desci as escadas da minha varanda com cuidado. Estavam completamente congeladas - mas o que a neve não congelou ali fora, né? Minha botas de neve faziam um bom trabalho, mas me equilibrar ainda era um pouco difícil. Peguei o jeito logo e segui reto até o final da minha rua.
O dia estava claro, em algum lugar la em cima existia um sol quentinho e acolhedor. Foi nele em quem pensei enquanto desbravava o meio mundo branco no meu caminho. Literalmente, carros e casas agora tinham um lençol alvo os cobrindo.
O frio era de fazer pinguim tremer. Sorrateiro, ele buscava qualquer brecha entre os meus pesados casacos e queimava a minha pele. Talvez ate perfurasse ela, porque eu conseguia sentir aquele gelo nos meus ossos.
Alguns passos mais a frente e eu já estava começando a me arrepender. Não conseguia ver o fim da rua, mas sabia que estava perto. Que ótima ideia de Nova York resolver nevar logo agora.
Enquanto encarava minha penitencia - porque aquilo só podia ser castigo divino - pensei na gentileza de Dean hoje ao nos fazer panquecas. Ele não parecia o tipo de homem que sabe como cozinhar qualquer coisa.
Que tipo de homem ele é, afinal? Rico, mas não desde o berço, como me explicou. Bonito, mas isso é consequência de ser rico, então não vale. Ele é gentil, preciso admitir. E extremamente irritante não fazendo o que eu mando.
Sim, eu tenho um péssimo relacionamento com quem não me obedece. Não tenho paciência para enfiar na cabeça das pessoas que eu estou certa e que a minha ideia é a melhor. Já vivi bastante, eu tenho experiência suficiente para sustentar meu argumento.
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Um CEO de Natal
RomansaDean Rodwell odeia o natal. O CEO da Rodwell Inc nunca gostou de comemorar o caos natalino e faz de tudo para se isolar no alto da sua cobertura milionária durante o mês inteiro de dezembro. Feito um lobo solitário, mas pelo menos muito bem sucedido...