Capítulo 4

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Dean Rodwell

Acordei com o frio de matar me fazendo tremer. Mesmo debaixo daqueles edredons, o clima gélido da casa ainda me atormentava.

Me espreguicei e levantei rápido. Nunca fui um preguiçoso, raramente gostava de dormir e nunca passava do tempo necessário na cama. 

Como rotina matinal, eu me alonguei. Fazia meu cérebro entender que já era hora de começar a trabalhar. Torci os braços e girei a cabeça, mas parei quando desci o tronco do corpo para tocar o chão.

Mas o que é isso?

Meus pés estavam envoltos em meias cor de rosa, felpudas e confortáveis.

 Por um segundo, não entendi. Talvez Ayla tenha... não. Não faz sentido a ursa psicótica ter vestido meus pés frios com meias enquanto eu dormia. Conhecia muito pouco daquela mulher, mas era o suficiente para desconfiar do seu ato de generosidade.

Prefiro acreditar que foram os elfos de natal ou algum espírito demoníaco. Era mais plausível do que receber a caridade da loira raivosa.

De qualquer forma, não tirei. Estava precisando mesmo de algo nos pés para pisar naquele chão frio. Que fossem meias cor de rosa então.

Meu relógio de pulso marcava cinco e meia da manhã. Meia hora mais tarde do que costumo levantar naturalmente. Olhei ao redor, para a casa pequena e silenciosa ao meu entorno. Não havia quadros nas paredes e os móveis eram tão escassos quanto velhos. Uma casa apagada, diria até que esquecida e mal cuidada. Não era um lugar aconchegante, não mesmo.

Procurei qualquer coisa que fosse me entreter. Não estava nem mesmo com meu notebook e o celular morreu afogado ontem. Precisava fazer qualquer coisa para simplesmente não enlouquecer.

Dobrei o edredom com cuidado e deixei no sofá marrom. Depois fui organizando uma coisa aqui e outra ali, quando dei por mim já estava na cozinha, avaliando o conteúdo da geladeira. Nesse momento, eu quase chorei. Havia tanta comida de microondas e alimentos processados que meu estomago doeu. Essa mulher era louca de deixar uma criança comer porcarias assim?

Consegui salvar poucas coisas para um café da manhã saudável. Pelo menos deu para fazer panquecas e ovos mexidos, eu poderia viver disso até que o resgate chegasse. Cozinhei e lavei toda a minha bagunça, sem pressa.

Quando sentei para comer, a porta rangeu e Ayla apareceu no comodo com uma expressão nada amigável no rosto. Ou seja, sua expressão natural.

- Bom dia - eu disse.

- Não fala comigo de manhã - alertou, bruta. Ayla se enfiou na geladeira, abriu o galão de leite e tomou grandes goles diretamente do gargalo.

Agradeci mentalmente por ter escolhido o café hoje.

- Isso é nojento - comentei, incapaz de me manter calado diante daquele afronte à politica sanitária.

- E você é fresco - rebateu. - Não gosto de conversar pela manhã, por isso vou sair daqui e você pode só.. sei lá, fingir que está falando com alguém enquanto come essa sua comida sem gosto.

- Melhor sem gosto do que temperado no câncer - apontei com o queixo para a sua geladeira. - Não tem uma fruta sequer, sabia?

Como prometeu, ela saiu lentamente e me deixou falando com as paredes. Mulherzinha difícil até mesmo de se conversar, viu?

Eu entendo seu receio, eu também ficaria com um pé atrás, mas o que custava ela se empenhar para responder o bom dia de um homem que já estava indo embora - amém - em poucas horas?

Um CEO de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora