6. Cuíra

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#mistersantinho

🐥🐰

Inspirei profundamente, tentando estabelecer um ritmo respiratório. Minhas mãos, apoiadas antes mesmo que eu me desse conta, estavam contra o mármore gélido da bancada da cozinha. Molhei os lábios e senti meus quadris encostarem lentamente no armário que havia debaixo da bancada. Um ponto de dor atingiu meu corpo em cheio, mas eu não conseguia especificar o lugar a não ser meu próprio consciente. Abri a boca, achando que o ar estava insuficiente, e pisquei forte, tentando relaxar os ombros.

Jungkook pode ter ido no banheiro e não quis atrapalhar minha conversa, certo? É uma possibilidade, bastante improvável por conta dos meninos que estavam na cozinha com ele, mas ainda assim uma possibilidade. Ele pode ter encontrado um amigo, o que de fato é muito difícil de acontecer porque os únicos amigos dele estão ocupados bem agora e ele me disse que tinha dificuldade em se sentir a vontade com outras pessoas, mas mesmo assim pode ter encontrado. Eu não preciso pensar no pior, talvez eu fique preocupado por nada, talvez nem seja uma grande coisa.

Ou talvez aqueles meninos tenham feito alguma coisa com ele. Talvez aquele loirinho o tenha forçado a alguma coisa, e Jungkook esteja em uma situação assustadora agora, e eu não cheguei a tempo para impedir isso. Argh, eu nunca chego a tempo.

Eu definitivamente odeio loiros. O que é uma grande ironia, porque eu estou loiro — mesmo que eu não me lembre muito bem como cheguei a isto. Em todos esses anos de vida, loiros sempre me trouxeram experiências ruins, e eu definitivamente vou incluir meu irmão nisso porque eu posso e eu decido as porras que eu acho. Primeiro foi aquele padrasto filha da puta, depois foi um carinha da escola que fazia bullying com Taehyung — algo a ver com parecer um alien, grande baboseira de pau no cu que não tem decência nem cérebro —, depois foi um ficante meu que deu piti quando descobriu que na semana seguinte eu estava saindo com outra pessoa, e assim segue. Não que eu julgue todas as pessoas loiras — tipo aquele preconceito de "não ter cérebro", algo que também é uma grande baboseira de pau no cu —, só estou dizendo que minhas experiências com pessoas loiras não foram tão boas, mas isso não significa que todos os loiros um dia me trarão péssimas sensações. É, eu definitivamente não deveria dizer que odeio loiros, eu odeio alguns loiros. O que, de novo, é a porcaria de uma grande ironia, mas eu não diria que sou amado por todos. Com certeza, uma grande parcela das pessoas que já fiquei me odeiam, mas eu não 'tô nem aí para isso.

Talvez Jungkook passe a me odiar também. Isso definitivamente vai acontecer por eu ter trazido ele nessa festa. Céus, e se Jungkook estiver sendo molestado? E se estiverem forçando ele a fazer uma coisa que é horrível demais para eu simplesmente imaginar? A culpa vai ser minha, eu fudi com ele, eu fui o estopim para a explosão, eu...

— Ei, Jimin, você 'tá bem? — a parede de cor orgulho marcial que eu tanto fitava deu lugar à um rosto conhecido, que tinha a testa franzida e um V entre as sobrancelhas, claramente preocupada. — Você 'tá pálido, cara. Bebeu alguma coisa?

Chaeyoung parou na minha frente e se inclinou na minha direção, avaliando melhor meu rosto. Agora, algumas pessoas estavam na cozinha, mesmo que só houvesse se passado cerca de trinta segundos desde que eu chegara no cômodo. O ar se esvaiu de meus pulmões antes mesmo que eu pudesse focar em sua face, e eu me afastei da bancada em um salto.

Eu preciso procurar Jungkook.

— 'Tô, 'tô, 'tô. Desculpa, eu tenho que ir. — balancei a cabeça para cima e para baixo, olhando para a cozinha uma última vez antes de deixar a expressão confusa da minha colega de classe para trás.

Virei de costas para o cômodo, sendo cegado pela luzes fortes, piscantes e coloridas que rodavam pela sala. Senti o ar ficar rarefeito de uma hora para outra, e procurei entre os corpos que se movimentavam ao som de alguma música famosa. Pessoas colavam em mim, e eu tentava me distanciar de todas. Essa casa é grande 'pra caralho. Avistei um banco, e nossa distância era de aproximadamente dois metros. Rapidamente — ou quase, já que é difícil mover um dedo nesse lugar —, me aproximei e subi sem pensar duas vezes, tendo uma visão melhor de todas as pessoas que estavam ali naquele momento. Rodei a sala, procurando pela cabeleira escura que aprendi a reconhecer e peças de roupa que meu acompanhante usava. Engoli em seco, descendo novamente e refazendo meu caminho. Pessoas tentavam me puxar para dançar, mas consegui me desvencilhar delas e chegar na porta da cozinha, onde parei para avaliar a situação.

Substituto Perfeito  •  pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora