Quem é?

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Que estranho. Eu poderia dizer que é um trote, mas parecia tão real. Parecia que realmente ela estava chorando. Parecia que realmente ela estava precisando de ajuda. Sim, ela. Era uma voz feminina.
Isso eu consegui perceber.
Eu fiquei tão concentrada nessa ligação que eu me esqueci que eu ainda estava no estacionamento da igreja. Olhei para os lados e não tinha ninguém. Graças a Deus.

Ana narrando

Acordo, sem querer acordar. Esse vazio tão grande dentro de mim me faz acordar desanimada pra tudo. Eu já não aguento mais. Eu já não tenho forças mais nem para acordar, ainda mais para viver.
Mesmo não querendo me levanto da cama. Vou na cozinha tomar café da manhã. Olho para o copo de leite e biscoito que estavam em cima da mesa e respiro fundo. Eu não quero comer. Não tenho mais fome. Pego o copo de leite e entorno ele na pia, e os biscoitos, jogo na lixeira.
Olho para o relógio e são 12:23. É impressionante. A noite ela passa tão devagar e o dia, muito rápido.
Decidi ir assistir TV, sento no sofá pego o controle e começo a trocar de canal.
Depois de 1h e meia assistindo TV eu me levanto do sofá e decido sair. Eu não sei pra onde mas eu não aguento mais ficar nessa casa. Desde que minha mãe morreu eu não suporto ficar dentro de casa. Ela era a alegria da família. Ela era a minha alegria. Mas quando ela se foi, se foi junto com ela o meu desejo de viver.
Saio pelas ruas, andando sem rumo quando vejo um banquinho e sento nele.
Momentos depois, passa um grupo de meninas. Eram ao todo 7 meninas. Altas, com um corpo com belas curvas, todas bem arrumadas. Quando uma delas me vê sentada no banquinho e diz :

_ Nossa! Não sabia que aqui nessa cidade tem tantas pessoas feias né? Menina, pelo amor de Deus. Vê se ajeita esse seu cabelo pelo menos para sair de casa, hum, se é que você tem uma.

Então todas começam rir, e zombar de mim.
Eu sai de casa sem ao menos perceber que eu estava com um casaco preto bem velho e com shorts bem surrados e cabelo todo bagunçado.
Se antes eu já me sintia um lixo, naquele momento eu me senti pior que um lixo. Eu me senti a pior pessoa do mundo.
Sai correndo dali.
Com lágrimas nos olhos corri, corri o mais rápido que eu podia. até que eu parei de frente para uma cerca . Era uma cerca bem grande que separava a rua de um penhasco bem perigoso. Eu pensei :
_ Não tem como minha vida piorar mais mesmo.
Pulei a cerca sem pensar duas vezes, eu sentia frio. Um vento muito forte vinha do penhasco. Que fazia com que os matos que estavam ao me redor todos balançassem.
Eu fui andando lentamente até a ponta do penhasco. Cada passo era como se um pedaço de mim mesma estivesse morrendo. Até que começou o meu verdadeiro inferno, de novo.
Senti um impacto muito grande contra o meu rosto e cai no chão. Era sempre assim. Era como se alguém estivesse me dando um tapa, muito, mais muito forte em meu rosto. Mas quando eu olhava, não era ninguém, não tinha ninguém ali. Até que começou as vozes:
_ SUA IMPRESTÁVEL!!! VOCÊ NÃO PRESTA PRA NADA, VOCÊ É HORRRIVEL, SUA IMBECIL. SE MATA LOGO ANA. SE JOGA DESSE PENHASCO ANINHA. EU QUERO TE VER SOFREEEER. QUERO TE VER GRITAR DE DOR. SE MATA LOGO. NÃO TORÇO POR ESPERAR VOCÊ LÁ NO INFERNO COMIGO. SOFRENDOOOOO HAHAHA. QUE É OQUE VOCÊ MERECE.

Eu chorava. Tapei meus ouvidos na tentativa de não ouvir aquelas vozes, mas não adianta.
Me levantei do chão o mais rápido que consegui e fui em direção a ponta do penhasco. Estava decidida a me jogar. Sim. Eu me jogaria e acabaria com esse sofrimento de uma vez por todas.
Mas eu não conseguia. Algo não deixava. Eu não sei explicar. Era uma voz lá no fundo do meu coração dizendo para mim não fazer isso, que pra mim tinha jeito. Mas também tinha aquela voz que dizia que a única saída era aquela, a morte.
Respirei fundo, soltei meus braços, olhei para cima e disse :
Adeus sofrimento.
E me joguei.

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