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Márcia Patrícia

Carlos estaciona o carro mais a frente do mercadinho dos meus pais, durante o caminho ele respeitou meu silencio, mas sinto que quer perguntar o motivo da briga.

- Por quê? – não desliga o carro por conta do ar condicionado.

- Ele não queria que eu vinhesse. – omito o começo da discussão.

- Não foi só por isso. – fica de lado com uma mão no volante. – Eu sei que levou um homem pra casa antes de ontem. – sinto o estalar do pescoço com a rapidez que virei.

- Quem disse?

- Eu ouvir vocês ontem na cozinha.

- É falta de educação, caso não saiba.

- Foi impossível não ouvir o tom alterado de vocês. – abaixo a cabeça envergonhada. – Não precisa ficar assim, eu sei que os hormônios estão lhe deixando louca. Mas peço que se for chamar alguém lá pra casa, avise. – destranca as portas. – Lhe vejo a noite? – põe uma mão na minha coxa.

- Possivelmente, não. – abro a porta e saio sem olhá-lo.

Fico na calçada o vendo se distanciar e vejo que a decisão que tomei ontem vai fazer bem a todos, principalmente a mim. Necessito ficar o mais longe possível, preciso por minha cabeça e sentimentos em ordem. Não quero e nem preciso ter aborrecimento durante a gestação.

Com passos devagar vou caminhando até onde aprendi coisas que não vou aprender em papeis e livros, onde tive melhores dias que posso me lembrar. Tive colo no fim dos sábados conturbados, risadas e choros com as mais diversas historias que os funcionários ou ate mesmo os clientes contavam, as amizades que fiz trabalhando aqui por meio período.

- Márcia. – a Claudia vem me abraçar. – Quando tempo. – aperta um pouco os braços em torno dos meus ombros.

- Eu também. – afasto-me com delicadeza e olho para dentro do mercadinho. – Eles estão ai? – aliso um dos braços.

- Dona Antonia está fazendo o café e seu Pedro foi fazer pagamento. – Claudia volta para seu ponto de trabalho. – É bom de ver. – estende um pirulito.

- Obrigada. – pego o doce e vou rumo aos fundos do estabelecimento.

Arrasto os pés ao passar pelas portas duplas que separa a casa, faço barulho para que minha mãe perceba que tem gente se aproximando, pois quando fica na cozinha ela se esquece do mundo.

- Pedro? – ainda virada para o fogão questiona. – Amor, é você? – vira apenas a cabeça.

- Oi mamãe. – rodo o palito entre os dedos.

- Márcia!? – larga a colher e corre em minha direção, preparo para o impacto. – Minha menina. – distribui beijos em meu rosto. – Vamos sentar. – deixo que ela me leve para uma das cadeiras da mesa.

- Saudades. – seguro suas mãos e beijo seus dedos. – Bênção. – peço de cabeça baixa.

- Deus lhe dê saúde. – faz o sinal de cruz em minha testa. – Como você está? E meu neto? Eles estão lhe tratando bem?

- De acordo com a medica, agora estou bem, o neném esta crescendo e engordando conforme o esperado. E os meninos estão me tratando como uma princesa que precisa de ajuda. – dou um pequeno sorriso. – Sabe quem é a irmã do Carlos? – vou pegar um copo d'água e vejo que tem bolo de chocolate pego um pedaço também.

- Quem filha? – dona Antonia apóia os braços na madeira em sua frente.

- A Fernanda, a menina que passou um mês trabalhando aqui. – tento lhe fazer lembrar.

A Mãe do meu SobrinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora