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Márcia Patricia

Mais uma vez agradeço ao Senhor pela saúde do meu filho.

Filho.

Um menino.

Falta apenas o nome, nome esse que estou em dúvida e vou esperar as sugestões dos tios e do pai. Não quero tomar a decisão sozinha, deixando eles entristecidos.

Chegamos em casa e devagar vou para o último andar, preciso organizar as minhas coisas no quarto que fiquei esses meses. No momento necessito por a cabeça em ordem e tentar de alguma forma esquecer o episodio de ontem.

João Carlos é o tio de meu filho, homem que vou conviver pelo resto de meus dias, rapaz que fará e dará de um tudo para o ser humano que se forma dentro de mim, homem que é errado por ser irmão do pai de meu filho.

- Ele é errado. - digo a mim mesma enquanto pego minha escova de dentes. - Não vai dar certo nem se eu estivesse gravida e o conhecesse por ai. - aponto a escova para meu reflexo.

Termino de por o par de chinelo na bolsa e saio do quarto, indo para o meu vejo o João vindo pelo corredor.

- Já? - seu olhar transmite sentimentos.

- Sim. - passo por ele, que por sua vez segura meu braço.

- Não vai. - pede sincero.

- Preciso. - engulo seco ao olhar sua boca e as lembranças de ontem voltam. - Necessito por a cabeça no lugar, o que aconteceu ontem não pode e nem vai se repeti. - vejo suas feições mudarem.

- Ontem não significou nada? - fecho os olhos, tentando segurar as lágrimas. - Não venha dizer que foram os hormônios. - sua voz muda a entonação.

- Não foram. - a primeira lágrima desce. - Eu quis ontem, como vinha querendo há meses, e merda esse é o problema. - deixo a bolsa cair.

- Que problema? - tenta segura meus braços e os balanços para serem soltos.

- Você. - grito sem necessidade. - O problema é você. - enxugo as lágrimas.

- Aconteceu alguma coisa? - Carlos resolve aparecer.

- Nenhum. - sem tirar os olhos dos meus, o irmão mais velho responde. - Vamos conversar lá dentro. - vai na frente.

- Não. - respiro fundo, retomo a bolsa em mãos e vou para meu quarto.

- A Fernanda disse que o neném é menino. - Carlos fala depois de encostar a porta.

- Abre a porta. - peço me sentando e pondo a cabeça nas mãos.

- O que foi? - fica ajoelhado em minha frente.

- Quero ficar sozinha. - imploro com as lágrimas lavando meu rosto.

- Não vou deixar. - segura minha mão.

- Sai. - grito ao puxar minha mão das suas. - Sai agora. - vou para longe dele.

- Márcia ...

- Sai.

- OK!

E finalmente fico sozinha, ligo o som apenas para sentir que tenho companhia, guardo as roupas e utensílios de higiene em seus devidos lugares e deito um pouco, apenas para relaxar o corpo, já que a cabeça vai ser difícil descansar.

Rolo de um lado para o outro, como se meu corpo não estivesse querendo ficar deitado, meu subcontinente diz que falta algo aqui.

Não algo e sim alguém.

A Mãe do meu SobrinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora