CAPÍTULO - UM

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- Você tem certeza disso?

- E por que não teria?

- Sei lá, cara.

Eu olhei pro Bruno. Depois pra carta em minhas mãos. Eu não tinha certeza disso. Não tinha mesmo. Mas ou eu fazia aquilo ou eu surtaria por pouco menos.

- Ok. Vamos lá. É só colocar essa merda no armário dele, né? Que mal teria isso? - Eu falava mais pra mim do que o Bruno, que só olhava pra mim e acenava com a cabeça em confirmação. Mas eu sabia que ele achava aquilo uma doideira, e não vou negar que também achava, mas eu não tinha outra opção, já que me faltava coragem para tomar uma atitude mais extrema.

O corredor estava vazio, o sinal já tinha tocado. Só tinha eu, Bruno e a carta, que já estava ficando úmida em minhas mãos suadas.

Certo.

Vamos lá.

Caminho olhando pros dois pontos do corredor, assegurando que ninguém veria.

Coloco a carta no armário dele. Agora não tinha mais volta.

- Cara, isso é tão coisa de adolescente. Porque não uma mensagem? Ou um E-mail? Sei lá... Carta? - Ele apoia a mão no meu ombro direito. - Você é corajoso e eu admiro isso. Acho que é a primeira vez que eu vejo você se esconder pra fazer algo tão... sei lá.

A verdade é que eu não sou tão corajoso assim, eu me forço parecer ser. Mas também não sou um medroso. Mas essa situação eu precisava que fosse assim, talvez seja pelo fato de já saber a resposta da carta. Então saber que nada vai mudar por eu estar no anonimato, fica mais fácil. Acho.

Caminhamos apressados para a sala. Sabemos que o risco de sermos impedidos de entrar na sala é grande, estamos nos agarrando na esperança do professor se história ter se atrasado, como de costume.

A porta está aberta, isso significa que ele ainda não chegou. Entramos e sentamos. Minutos depois o professor entra na sala e fecha a porta, eu e Bruno olhamos um pro outro e sorrimos.

Por pouco.

*****

- Onde vocês estavam hoje mais cedo? Eu cheguei na sala e vocês não estavam lá e depois chegaram correndo. - Núbia perguntou pra mim, já que Bruno está comprando salgado na cantina.

- Coloquei a carta no armário do Breno.

Ela abre um sorriso que chega ser assustador quando olhamos de perto.

- Puta merda! - ela dá um tapa na mesa. Algumas pessoas nos olham e ela pouco se importa. - Ok - ela rir. - Isso é bom. Eu não acreditando nisso. Porque não me chamaram?

- Me deu coragem o suficiente na hora e eu não poderia esperar, caso ao contrário, eu desistiria. - Digo como se o feito fosse algo banal e que não estivesse me fazendo tremer por dentro.

Bruno chega à mesa com dois salgados e uma coca.

- Contou a ela? - Ele pergunta sentando ao lado da Núbia.

- Eu ainda estou sem acreditar. Enfim vamos ver essa história acontecer. - Bruno concorda com a cabeça. - Está preparado pra qualquer que seja a reação dele?

- Sim, pois eu não me identifiquei.

Eu não estava. Mesmo não me identificando, ele teria uma reação, e essa reação seria sobre mim, independente dele saber que era eu ou não. Mas a vergonha vai ser em menor proporção, por ter apenas Núbia e Bruno para me olharem com cara de pena pela situação. E lidar com eles eu sabia, mas não com todo o resto da escola.

- Se você não se identificou, como ele vai vir até você?

- Eu perguntei a mesma coisa. - Bruno morde um grande pedaço com seu salgado.

Meu plano é ver como vai ser a reação dele em saber que tem um garoto na escola que está afim dele. Tudo vai depender disso. Ele vai desconfiar de todos os meninos da escola, pelo menos os que são gays, o que vai ser engraçado, acho.

- Eu primeiro vou ver como ele vai reagir sobre isso. Se eu perceber que dá pra continuar e que não há risco nenhum em me expor a ele, eu falo que sou eu, e fim. - Eu termino de beber a minha coca para evitar olhar pra eles, mas não consigo. Eles me olham intrigados com algo, ou é apenas um olhar julgador? Não sei.

- Eu acho que é muito drama por nada. Era só você chegar lá e falar: Breno, tudo bom? Eu gosto de você dês do sexto ano. Qual vai ser? - Bruno fala de um jeito tão engraçado, que realmente me pareceu mais fácil essa ideia.

Núbia ri alto e todos voltam a prestar atenção nela, e ela continua pouco se importa e continua rindo, o que faz nós dois rir também.

- Olha, se essa não é a melhor estratégia até agora, eu sou totalmente desentendida de estratégias para conquista alguém. - Ela seca as lágrimas dos olhos.

- A ideia da carta foi sua, lembra? - Eu amasso a embalagem do biscoito que estava comendo e a coloco sobre a mesa.

- E desde quando vocês escutam o que eu falo? - Ela real esqueceu que a ideia foi dela. - Faça o que eu faço, não faz o que eu falo.

- Não seria ao contrário? - Bruno a questiona. Ela dá de ombros.

Eu estava começando a achar que toda essa história de carta era mesmo uma bobagem desnecessária. Eu estou criando um drama por nada. Eu nem gosto de drama. Que saco. Era tão mais simples ser direto com o Breno e acabar logo essa agonia. Agora vou ter que ficar vigiando ele como um maníaco, pra ver se ele vai ter mudança de postura ou se até mesmo vou ver ele com a carta nas mãos. E se nada disso acontecer? Se ele não tiver reação nenhum e achar que tudo isso é alguma piada de algum amigo dele? E se ele não levar a sério e jogar fora a carta assim que ler. Puta merda. Porque não pensei nisso antes? Olha, desisto. Eu vou falar com ele, foda-se.

- Eu decidi que vou...

- Dan... - Bruno me cortou - Olha pra trás.

Eu tento disfarçar, mas sou péssimo nisso. Olho pra trás e vejo um grupo de garotos entrando no refeitório, alguns com o uniforme do time da escola. Breno está entre eles. Ele está sério no meio de seus amigos, não está rindo igual de costume. Ao jogar a mochila nas costas eu reparo em algo em sua mão direita. É a carta. Ele está com a carta nas mãos. Ele a olha. Com os gestos que um dos meninos faz, eu entendo que ele pergunta o que seria aquilo, ele faz um gesto qualquer, dobra a carta e põe no bolso.

Ok.

Ele tá com a carta e ainda não a leu, suponho.

Tudo bem.

Pelo menos ele não a jogou fora de imediato, não ainda.

Puta merda!

Breno está com a minha carta em mãos. Então significa que algo pode acontecer mesmo.

Ou não.

Pra que eu fui inventar essa merda?

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora