CAPÍTULO - SETE

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Um mês que eu e Sandro estávamos tendo algo.

Três meses para terminar o ano letivo.

Dois meses para a festa dos formandos. O pessoal do comitê da festa estava numa correria que só, e eu agradeço muito a Deus da Núbia ter desistido da ideia fazer parte disso, pois com certeza ela iria carregar eu e Bruno pra essa bagunça.

As últimas provas estavam chegando e eu estava mais que nervoso. Todos os dias após a escola íamos pra casa de um de nós três para estudar. Bruno faltava arrancar os cabelos. Núbia estava tão serena que nem parecia a mesma pessoa. Já tinha alguns dias que eu vinha percebendo que ela está meio avoada, não prestava atenção nas coisas que falávamos.

Estamos na casa do Bruno estudando a algumas horas. Núbia segue do mesmo jeito, aérea. Estamos falando da festa que vai ter no fim de semana depois das provas, e ela, que sempre está mais animada que a gente, ainda não falou um nada sobre o assunto.

— Núbia, está tudo bem? — Eu pergunto, cortando o meu assunto com o Bruno.

— Comigo? — Parece que ela voltou de um lugar muito distante.

— Não é de hoje que você está distante. Eu estava esperando você nos contar o que está acontecendo, mas parece que não vai rolar. — Eu coloco o meu material no chão ao meu lado.

Ela ajeita a postura dela e solta o ar, que parecia que segurava durante tempo demais.

— Eu sou adotada.

Bruno rir. Eu penso em rir também, mas eu percebo que Núbia permanece séria, então o assunto é sério. Bruno percebe isso e para de rir na mesma hora.

— Como assim? — Eu pergunto sem ter acreditada ainda.

— Meus pais me contaram a alguns dias. E... Sei lá. Parece que nada agora é real, sabe?

Eu confirmo que sim com a cabeça, mas a verdade é que eu não sabia. Eu não conseguia imaginar a confusão que deve estar a cabeça dela nesse momento.

Núbia sempre tem um tom alegre em sua voz, mas dessa vez esse tom alegre não está presente. Ela estava a dias lidando sozinha com essa informação.

— E porque você não nos contou? Ficou lidando com isso sozinha, cara. — Bruno me surpreende ao falar essas palavras.

— Não é algo ruim. Eu já estou mais conformada com isso. Eu amo meus pais, mais que tudo. Mas eu estou me sentindo muito enganada por eles. — Eu percebo a emoção em sua voz. Acho que nunca a vi tão abalada com algo.

— Olha, eu tenho certeza que eles tiveram uma razão pra isso. Talvez eles só esperaram você ficar mais madura pra contar isso pra você. É como você disse, não é algo ruim. Eles continuam sendo seus pais. — Ela concorda e limpa a lágrima que escorreu por seus olhos.

— Eles falaram que meus pais biológicos morreram num acidente de carro, eu fui a única sobrevivente do acidente. Eu não lembro de nada. Eu tinha três anos. — Ele conta emocionada. — E quando eu cheguei no hospital onde o papai trabalha, ele disse que ficou encantado por mim. Que na mesma hora ele ligou pra mamãe contando sobre mim. E que cuidou de mim no hospital. Tentaram contato com algum parente meu, porém não conseguiram. Então eles iam me mandar pra alguma instituição. E foi assim que eles me adotaram.

Eu fico emocionado ao imaginar tudo isso. Os pais da Núbia são realmente incríveis.

— Isso é... lindo.

— É.

— Não a parte dos seus pais biológicos mortos, claro. Mas todo o resto. — Bruno sendo Bruno.

— Sim. — Núbia sorrir ao confirmar.

— Eu, particularmente, não posso dizer que sei o que você está sentindo agora. Mas eu sei um sentimento que eu teria no seu caso, que seria gratidão. Não estou dizendo que você está sendo ingrata. É só que, sei lá, seus pais são incríveis. Seu pai foi um cara incrível pra mim quando o meu simplesmente decidiu sumir. Tenho certeza que eles estão tão assustados quanto você nesse momento. Tente não ficar com raiva deles. Tenho certeza que tudo isso foi pro seu bem. — Eu olho nos olhos dela ao falar essas palavras. Quero que ela tenha certeza de tudo que eu estou dizendo. Que não é palavras da boca pra fora. Núbia tem uma puta sorte.

— Você tá me fazendo chorar, seu idiota. — Ela me dá um tapa no braço.

Do nada a gente escuta um soluço, quando olhamos pro Bruno ele estava tentando esconder que estava chorando. Eu e Núbia pulamos nele e o abraçamos.

— Muito bebê chorão mesmo esse garoto!

— Eu amo vocês.

— A gente também te ama, chorão.

Decidimos parar de estudar e ir assistir algum filme. Fizemos pipoca e brigadeiro e comemos tudo até enjoar. Foi uma das tarde mais significativas pra mim. Ali, com os meus amigos, eu pude perceber o quão sortudo eu sou por ser rodeado por pessoas que eu amo, e que esse sentimento era recíproco.

Eu queria eternizar aquele momento pra sempre.

Tiramos várias fotos. Núbia disse que iria revelar todas e colocar no seu mural de fotos importantes.

— Obrigado mesmo meninos. Eu nem sabia que precisava colocar tudo isso pra fora. Estou me sentindo leve agora.

— A gente tá aqui pra isso. Nós te amamos. — Digo dando um abraço nela.

— Eu também amo muito vocês.

Ela nos abraça de novo.

Escolhemos mais um filme. E assistimos até anoitecer.

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora