CAPÍTULO - SEIS

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Sete e cinquenta da noite e eu já estava ansioso. Nem lembro quando foi a última vez que eu tive alguma espécie de encontro com alguém. Sandy estava comigo, como um carrapato. Me seguiu a tarde toda curiosa. Ela estava mega curiosa para saber como Sandro era, mesmo depois de eu já ter dado todas as descrições possíveis de como ele é: moreno. Olhos claros. O cabelo ele costuma variar, do curso ou enrolado grande, as vezes. Mas ela quer ver com os próprios olhos.

Estamos na sala assistindo um dos seus programas favoritos, que eu não lembro o nome. Ela fala sobre alguns participantes que eu não faço a mínima ideia de quem sejam eles, mas finjo saber e finjo revolta ao participante que ela diz não gostar.

— Você está zombando da minha cara? — Ela pergunta.

— Eu? Magina.

Quando ela ia começar falar mais alguma coisa, escutamos o barulho da buzina da moto do Sandro lá fora. Ela é a primeira a levantar, correndo, pra abrir a porta. A abre abruptamente, e grita que é pra mim, mesmo eu estando ao lado dela.

— Desculpa, não te vi aí. — Ela sorrir pra mim. — Faz ele tirar o capacete, preciso ver o rosto dele.

— Cala a boca Sandy.

Sandro desce da moto, tira o capacete e vem em nossa direção.

— Uau. — É tudo que a Sandy diz. E é tudo o que eu penso.

— Oi, você deve ser a irmã do Daniel, certo? — Sandro pega a mão dela e dá um beijo.

— Sim. Mesmo não nos parecendo tanto. — Ela acaricia a mão aonde foi beijada.

— Você é mil vezes mais bonita que ele. — Ele fala baixo, como se fosse pra eu não escutar. Eu sorrio.

— Gostei dele. — Diz Sandy pra mim. — Ele sabe como agradar uma garota.

— Tá vendo? Eu sei como agradar uma garota. — Ele disse pra mim. Eu reviro os olhos.

— Vamos encantador de garotas?

Ele olha pra Sandy de novo.

— Ele é mandão assim com você também? — Ela confirma rápido a pergunta dele.

— Ele tem os momentos legais dele. — Eles riem.

— Vamos, antes que você nos bata. — Eles riem de novo. — O seu capacete está na moto. — Ele pisca pra mim.

— Tá bem, galanteador.

*****

A Praça estava cheia, como de costume em uma sexta à noite. A fila do sorvete estava um pouco grande, mas ficamos nela. Estava calor, um clima bom pra tomar sorvete. Sandro estava em silêncio por tempo demais, o que era muito estranho, já que ele é conhecido por falar pelos cotovelos. Como ele não fala nada, eu também não falo. Ficamos os dois assim, talvez em uma competição interna de quem vai falar alguma coisa primeiro.

Por fim é ele quem toma partida.

— Porque a gente nunca parou pra conversar? — Ele se vira pra mim.

Ele usava uma blusa branca, uma bermuda marrom e chinelos. Ele estava tão... ele. E estava lindo.

— Eu não sei. Acho que nunca tivemos um motivo pra isso. — Já nos esbarramos várias vezes na escola, em festas, mas nunca falamos mais que um "oi" nesses momentos.

— Hoje temos? — Ele quer chegar em algum lugar, e eu vou dar corda.

— Não sei. Temos?

— Acho que o meu interesse em você é o motivo. — Ele é direto. E eu fico sem saber o que dizer, e com isso voltamos ao silêncio.

Após alguns minutos, fomos atendidos. Pegamos nossos sorvetes e procuramos um lugar pra sentar e comer.

Eu nunca tinha reparado na mancha na bochecha que o Sandro tem, dá um certo charme nele, junto da sua pele morena parece um combo perfeito. Eu fico o admirando por mais alguns segundos. Até que ele perceber e sorrir.

— Então você tem interesse em mim? — Eu pergunto sem olhar pra ele, pra mostra que esse assunto de certa forma não é nada demais.

— Acho que sim. É meio complicado. — Ele faz a mesma coisa.

— Porque complicado? Você nunca gostou de ninguém? — Eu termino o meu sorvete.

Sandro come as últimas partes da casquinha em silêncio, o que me deixa nervoso. Eu estou acostumado com o Sandro que fala à beça, não esse que fala duas palavras e fica meia hora em silêncio.

— Claro que eu já gostei de alguém. Até mesmo de caras, pra você ter noção. Então não é novidade pra mim. — Ele me olha nos olhos, como quem tenta passar verdade no que fala.

— Então qual o problema?

Ele levanta de onde estava e vem sentar ao meu lado, ficando de frente pra mim, com as pernas atravessadas no banco — uma de cada lado.

— O problema é que eu sou curioso. Eu não sei se eu estou gostando de você, ou se eu estou apenas com vontade de comprovar se o seu beijo é tão bom quanto o Carlos fala. — A serenidade na sua fala...

Ok.

Eu estou com vontade de rir de nervoso, mas se eu rir o Sandro vai achar que eu estou rindo dele. Carlos é um filho da mãe mesmo.

Puta merda.

— O Carlos fala isso por aí? Cacete! — Qual a necessidade disso? Tudo bem que não é algo ruim de ser falado, mas não é legal sair falando isso por aí.

— Ei, calma. Ele disse só pra mim isso. Pelo menos foi o que ele disse. — Ele ri. Eu fico sério olhando pra ele. — Ok, não é legal sair falando isso por aí, mas não é algo ruim também, né?

— Eu só não vejo necessidade disso. Sei lá.

Ele fica me encarando por um tempo, sem falar nada. Eu pensei que ele iria me beijar naquele momento. Mas não fez.

— Então você é só uma pessoa curiosa? - Eu pergunto

— Não quero que soa como algo ruim. Mas eu não quero mentir pra você, sabe. — Eu concordo com a cabeça. — Você é um cara bonito, todo mundo fala isso...

— Todo mundo?

— Cego é quem não vê isso, Daniel.

— Obrigado. - Eu viro o rosto pra tentar esconder o meu rosto, que com certeza está vermelho.

Sandro se aproxima mais um pouco.

— Olha, eu vou entender se você não quiser ficar comigo. Eu só não podia fingir estar criando um sentimento que talvez não exista, ainda. — Eu olho dentro dos olhos dele.

— Se todas as pessoas fossem assim como você, muitas tragédias seriam evitadas, sabia? — Ele sorrir. Olhando de perto você percebe os dentes super alinhados e um sorriso muito bonito. — E você também é muito bonito, Sandro.

— Eu sei disso, Danzinho. — Nós dois rimos.

Ele se aproxima mais de mim.

— Eu posso te beijar, Daniel Moreira? — Meu corpo se arrepia quando ele diz o meu nome e sobrenome.

— Claro que pode, Sandro Gonçalves.

Ele sorrir, e me beija logo em seguida.

E eu não me arrependo em nenhum momento daquilo.

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora