CAPÍTULO - TRÊS

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— Eu sou muito otário mesmo.

Duas semanas.

Duas semanas já tinham se passado e nada tinha mudado em relação à carta. Breno não demonstrou nada. Não o vi mais com a carta em mãos, o que faz sentido, né. Nesse tempo, Núbia ficou tentando me convencer a escrever outra carta. Depois de relutar muito, está eu aqui, com mais uma carta na mochila. Ainda não sei se é a coisa certa a fazer.

Que inferno.

— Eu não sei se otário é a colocação certa pra isso. Talvez dramático? — Bruno pega a chave do carro na mochila.

— Eu não sei se saberia reagir se ele tivesse alguma atitude ruim sobre isso. Eu sei que é um risco dês do início, mas eu não saberia lidar. — Eu estava começando a sou desesperado, o que era ruim, porque se o Breno estiver observando para tentar descobrir quem da escola mandou uma carta pra ele, eu estava em sua lista, já que eu sou um dos gays da escola, e agir dessa forma só colocaria uma seta gigantesca na minha cabeça.

Eu respiro fundo.

— Cara, você viveu até aqui sendo apenas um colega de classe dele, se ele disser não, vocês vão continuar sendo isso. A gente termina os estudos em alguns meses. Se você não fizer isso agora, eu tenho certeza que você vai se arrepender muito depois. Eu só acho que você está fazendo muito drama pra nada. É só chegar nele e pronto.

As vezes Bruno da uns surtos de falar umas coisas sérias que chegavam ser engraçado. Mas ele estava certo. A gente termina os estudos em alguns meses, ano que vem não sei o que vai ser da gente. Pra onde cada um vai. Isso tudo tem que ser feito agora, não tenho mais tempo. Passei anos só observando o Breno de longe, ser rejeitado por ele só vai fazer com que eu passe mais alguns meses observando-o de longe. Melhor meses de certeza que uma vida nessa maldita dúvida.

— Quer saber? Vou refazer essa carta e vou falar pra ele me encontrar na Praça do Bosque. Não vou falar que sou eu. Se ele aparecer, legal. Caso ao contrário, vida que segue. — Não sei de onde saiu toda essa confiança.

Estava decidido. Problema se ele não quiser. Escolha dele. A minha parte eu fiz. Porra eu nem sei se o Breno gosta de homem. Eu sendo infantil ao imaginar mil coisas que podem ou não acontecer. Me desgastando atoa. É isto. Breno vai saber que eu sou o garoto da carta.

— Esse é o Dan que eu conheço! — Ele deu um soco no meu ombro. — Ele é maluco se te rejeitar, cara. Se eu não fosse hétero a gente séria namorados. Eu andaria de mãos dadas com você pra cima e pra baixo. — Eu não segurei a risada.

— De que estão rindo? — Núbia pergunta ao nos encontrar no carro.

— A gente te conta no caminho pra casa. Entra logo na Lurdes. — Bruno diz a ela. Lurdes é o carro dele. Não exatamente dele, é do irmão mais velho dele, que foi pra faculdade e pediu pra ele tomar conta.

Bruno deu partida na Lurdes e seguimos pra casa.

Se eu estava realmente disposto a falar com Breno, tinha que ser o quanto antes, tenho que aproveitar essa súbita onda de coragem.

Espero que não se arrependa disso, meu subconsciente diz.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Estou deitado na cama da minha irmã mais nova, Sandy. Ela cismou que tínhamos que experimentar a nova máscara pra pele que ela aprendeu na internet. Estávamos ouvindo música e esperando a máscara secar. Ela estava me contando o que estava acontecendo na escola dela, e o quanto ela estava cansada da atual escola, que ela não via a hora de ir pra escola em que eu estudo. Diz ela que as meninas da escola dela são muito fúteis e que só pensam em meninos, coisas normais de adolescente de quatorze anos. Eu a escuto atentamente e tento acalmar a fera, mas já está decidida; ano que vem ela vai pro Colégio Batista. Minha mãe já estava ciente disso e não relutou sobre o assunto.

— Chega de falar de mim. O que ficou resolvido com aquela tal carta pro menino lá? — Ela me pergunta entre dentes. Nossas máscaras começaram a secar e endurecer a nossa pele, dificultando a fala. Era engraçado.

— Até agora, nada. — Demonstro frustração sobre o assunto, mas com certeza ela não conhece ver isso em meu rosto coberto por um treco marrom.

— Mas afinal o que você escreveu na carta? Que o ama e que quer viver pra sempre com ele? - Eu rio, fazendo ela rir também. — É sério, o que você escreveu? — Ela se ajeita na cama e senta encostada na cabeceira.

— Nada demais; apenas que ele tem um admirador, que, talvez, estivesse apaixonado por ele. Não foi nada muito longo. — Eu saio da posição que estava e sento na cama.

— Então você não disse que você era você?

— Não.

— E como você acha que ele vai adivinhar isso?

— É complicado...

— É complicado ou você está complicando propositalmente por medo? — As palavras dela ecoaram na minha cabeça.

— Eu queria ver como ele vai reagir a isso, mas não funcionou muito bem, já que ele não demonstrou um nada. Agora eu vou mandar uma outra carta. Nessa eu vou falar pra gente se encontrar no Parque do Bosque. Se ele aparecer, ótimo. Se não aparecer eu já vou saber, e dar um fim nisso.

— Acho justo. — É tudo que ela diz.

Ficamos mais alguns minutos com a máscara até ela achar que já estava na hora de tirar. Até que sai com facilidade. Ela passa hidratante em nossos rostos e diz que por hoje é só. Eu rio. É o incrível como Sandy é tão avançada pra sua idade. Eu me aconselho mais com ela do que com a nossa mãe.

— Hoje é o dia de quem fazer o jantar? — Pergunto caminhando em direção a porta do quarto dela.

— Ontem eu fiz, hoje seria a mamãe, mas ela foi pra um plantão inesperado. Então... — Ela sorrir pra mim.

— Ok. Já entendi. Almôndegas?

— Almôndegas.

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora