CAPÍTULO - DOIS

216 30 0
                                    


  

No sexto ano o professor de artes passou uma atividade na qual tínhamos que formar grupos de até quatro pessoas. Não sei o que aconteceu, mas Bruno e Núbia acabaram caindo em outro grupo e eu fiz o trabalho com a Sabrina Diniz e o Breno. Naquela época eu pouco me importava com o Breno, nunca nem tinha o visto com outras intenções, sem conseguir ver apenas: o garoto que todo mundo conversa e acha legal sem saber o motivo disso tudo.

Decidimos que faríamos o trabalho na casa da Sabrina, os pais dela viajavam muito e ela sempre estava em casa só com a avó materna. Marcamos de se encontrar no estacionamento da escola, onde o motorista dá Sabrina nos esperaria para nos levar para casa dela. Eu ainda estava muito bolado de não fazer o trabalho com os meus amigos e sim com duas pessoas que eu mal conversava direito. Será que essa foi a intenção do professor? A turma interagir um com os outros?, acho que nunca saberei.

A casa da Sabrina era imensa, eu e Breno ficamos olhando tudo como dois malucos. Fascinados. Fomos pra sala de estar onde tinha uma mesa imensa. Seria perfeita pra fazermos o trabalho.

— Eu avisei a minha vó que vocês viriam e pedir pra ela comprar o que íamos precisar pro trabalho. Espero que não se incomodem.

Sabrina era muito formal pra uma adolescente. Até hoje é. Até no modo de se vestir. Eu gostava. Ela parecia uma versão mais nova da mãe dela.

— Sem problemas, né Daniel? — Breno me perguntou.

— Sim, sim. Sem problemas.

Sabrina sorriu.

— Quem tem a melhor letra vai fazer a parte escrita do trabalho. — Sabrina disse — A minha é horrível, sou boa com desenhos, então eu fico com essa parte. — A gente riu.

Eu acabei ficando com a parte escrita, depois de ver quem tinha a letra mais bonita e eu ter ganhado — não sei se pode considerar aquilo como ganhar — do Breno.

Fizemos o trabalho todo em menos de três horas. Tudo fica mais fácil quando se tem todo o necessário em mãos. Precisávamos imprimir várias imagens coloridas, o que na hora eu achei que gastaríamos um dinheiro, porém, Sabrina tinha impressora em casa, uma imensa. Eu comecei a agradecer em estar fazendo o trabalho com eles, porque se eu estivesse com Bruno e Núbia, a essa hora estaríamos contando as moedas para as impressões.

A avó de Sabrina nos chamou para lanchar. Sentamos na cozinha e comemos o melhor bolo de cenoura da minha vida.

— Você não tem irmãos, Sabrina? — Breno perguntou a ela, após enfiar mais um pedaço de bolo na boca.

Sabrina limpa a boca com o guardanapo antes de falar.

— Não. Eu queria muito. Essa casa é imensa. E na maior parte do tempo é apenas eu e minha vó, já que meus pais estão sempre viajando. — Dava para sentir que aquele era um assunto delicado pra ela.

— Deve ser chatão mesmo ficar aqui sozinha. — Breno continuo falando. Eu dei um chute na canela dele. — Aí. O que foi? — Eu tentei mostra a besteira que ele falou. Por sorte ele entendeu. — Mas também não ter ninguém pra te perturbar deve ser bom. Eu tenho três irmãos, a casa sempre está cheia. Às vezes é bom, as vezes não. — Eu dei outro chute na canela dele. Ele calou a boca.

Sabrina ficou calada por um tempo. Não parecia chateada, mas estava pensativa.

— Vocês querem tomar banho de piscina? — Perguntou ela.

Breno olhou para minha cara empolgado, mas em seu rosto tinha uma expressão que dizia: só vou se você for. Eu fiz um gesto simples com os ombros.

— Não trouxemos roupas pra trocar depois. — A felicidade de Breno foi embora na mesma velocidade que veio.

— Temos uma secadora na área da piscina. Vocês podem colocar a roupa de vocês pra secar lá depois. Seca em minutos. — Sabrina argumentou. Eu ainda estava receoso.

Breno mais uma vez olhou pra mim como quem pedia permissão. Eu não entendia o porquê daquilo, se ele queria tanto, uma simples roupa molhada não o estava impedindo de tomar banho. Mas ele me olhava com aqueles olhos grandes...

Mais uma vez dei de ombros.

— Então tá bem. — Breno disse por fim.

— Você vem, Daniel? — Sabrina me perguntou. Seus olhos tinham uma expressão que eu não reconheci, que mais tarde eu percebi que era tristeza. Eu ia dizer que ia sim, mas antes mesmo de eu responder, Breno respondeu por mim:

— Ele vai sim. — E me puxou pelo braço pra andar junto com eles em direção aos fundos, onde ficavam as piscinas.

Eu fiquei sentado na espreguiçadeira olhando os dois na piscina, de tempo em tempo a avó da Sabrina vinha perguntar se queríamos alguma coisa para comer ou beber.

— Vem Daniel. Vai ficar aí só olhando? — Sabrina chegou até a borda da piscina pra falar.

— Ah não. Eu bem aqui. O sol está bom. — E estava mesmo. Eu tinha nervosos de ficar molhado, e vergonha de ficar sem blusa.

— Se você não entrar eu vou te jogar aqui dentro. — Breno disse saindo da piscina.

— Você nem brinca com isso viu. falando sério...

Acho que foi naquele momento. Breno estava caminhando em minha direção. Sem blusa. O short molhado e um sorriso que eu não saberia descrever. Eu não conseguia parar de olhar pro sorriso dele. Meu corpo inteiro formigou, eu não estava entendendo nada. Parece bobeira, porque é um momento normal, mas eu não sei o que aconteceu ali. O meu coração estava acelerado.

— Você vai por bem ou vai por mau. — A voz de Breno soava longe, mesmo estando ao meu lado, já preparando algum jeito de me jogar na piscina.

Eu demorei a responder e ele entendeu que eu escolhi ir por mau. Ele se aproximou mais ainda de mim, pronto pra tentar me agarrar. Quando ele me tocou eu acordei do transe.

— Não! — Ele parou de se mexer. — Eu vou. Eu vou por bem. — Mais uma vez ele sorriu pra mim e eu pulei na piscina. De blusa e tudo. Meu corpo estava quente, e não era do sol.

Debaixo da água eu tente organizar meus pensamentos. Entender o que aconteceu. Porque do nada Breno se tornou alguém que eu notava com outros olhos. Porque agora? O que isso significava? Será que eu gostava dele? Voltei a superfície, e lá estava ele: sentado na beira da piscina, olhando em minha direção, sorrindo.

Eu do nada Breno Rodrigues se tornou alguém em minha vida.

Um instante foi o suficiente para tudo mudar. Como é possível?

Eu era muito otário mesmo.

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora