CAPÍTULO - DEZ

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Ontem, sexta feira, Sandro e eu fomos ao cinema. Ele me buscou em casa e minha mãe o viu apenas de longe — eu disse pra ele não vir até a porta de casa porque a minha mãe estava em casa e ela iria encher ele de perguntas chata. Ele disse que não teria problemas, mas mesmo assim me obedeceu e apenas buzinou quando chegou.

Era um filme de ação, eu gosto e ele também, mas Sandro estava distante em alguns momentos. Pensativo. O encontro não foi ruim. Rimos e conversamos sobre tudo. Mas tinha algo que ele não estava me contando, eu não perguntei, não queria se invasivo nos assuntos pessoais dele. Por mais que já estivesse tendo esse algo entre a gente a dois meses, eu não sabia que já era tempo suficiente para me meter nos assuntos particulares dele. Então fiquei na minha.

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Núbia passou o sábado tentando me convencer a me arrumar na casa dela. E conseguiu. Não tirei nem os cadernos de dentro da mochila, só enfiei a roupa que usaria na festa de mais tarde e vim pra casa dela.

Estamos com máscara de hidratação no rosto e ela com hidratação no cabelo também, coberta por uma bolsa plástica. Tá engraçado.

Estamos esperando o Bruno chegar.

Tia Dandara está fazendo bolo pra gente, o cheiro está indo no quarto da Núbia. Certeza que é o de laranja que eu amo.

— Crianças, o bolo está pronto. Assim que ele esfriar eu chamo vocês. — Tia Dandara grita da escada.

— Tá bom, mãe! — Núbia grita de volta.

Núbia volta a pintar suas unhas de lilás.

— Assim que eu acabar a minha eu vou passar base nas suas. — Ela diz um pouco abafado por causa do palito que está na sua boca.

— Eu agradeço muito.

— Essa é a última festa antes do baile da formatura, precisamos ir bonitos. — Ela tira o palito pra falar, toda animada.

— Tá certa — Eu rio.

— Manda mensagem pro cabeção do Bruno, e vê aonde ele se enfiou — Ela limpa os contornos borrados.

— Cabeção é esse teu rato! — Bruno chega do nada no quarto, dando um susto na gente.

— Tu me fez borrar a unha, peste! — Ela tacou o palito nele.

— Problema é seu! — Ele joga a mochila dele junto da minha, que está em cima da cadeira no canto do quarto.

— Demorou porquê? — Pergunto.

— Nada não. Só estava com preguiça de sair de casa mesmo. — Ele sorrir. — Nossa, lá embaixo estou com um cheiro muito bom. Sua mãe fez bolo de laranja?

— Fez. Só estamos esperando esfriar pra ir comer.

Bruno corre pra porta do quarto.

— Tia o bolo já esfriou? — Ele grita lá pra baixo.

— Larga mão de ser esfomeado garoto! — Ela grita de volta, fazendo a gente rir.

Núbia termina de fazer as unhas dela e começar a fazer as minhas. Eu amo que ela gosta de fazer as minhas unhas também, porque eu sou péssimo com isso.

— Posso fazer francesinha? — Ela pergunta toda empolgada.

— Não inventa Núbia. Passa só a base. — Ela murcha.

— Estraga prazer.

Ela termina de pintar as minhas unhas e convence o Bruno a deixar ela pintar as dele também. A Tia Dandara chama a gente pra comer o bolo, Bruno come mais de três pedaços, o que não surpreende ninguém. Subimos pro quarto pra descansar um pouco antes da festa.

Faltando uma hora pra festa, a gente começou a se preparar. Núbia estava passando o vestido dela falando que queria cortar o cabelo curto. Não demos muita bola porque sabemos que ela não teria coragem. Eu estava esperando ela terminar pra passar a minha blusa também.

— Pega logo a sua blusa, Dan, pra eu passar. — Sem pensar duas vezes eu corro na mochila e pego a roupa — Não se acostuma não viu.

Eu puxo a roupa de dentro da mochila, e junto dela vem um papel branco que cai no chão do quarto. Eu o pego, e abro:

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"Não sei se já é tarde demais pra te responder. Eu fiquei esse tempo todo pensando se mandaria ou não essa carta em resposta, já que você não se identificou, eu suspeitei que você não quisesse que eu soubesse que era você. Mas eu estou semanas só pensando nisso. Pensando na sua carta. Está tudo muito confuso pra mim. E eu não vejo outro jeito de resolver isso, senão conversando. Então a proposta foi lançada. Se você ler essa carta até sábado, me encontre na festa, eu sei que não é o melhor lugar para conversarmos, mas a gente dá um jeito. Se acontecer de você ler depois da festa, a gente se encontra no Parque do Bosque. Não se sinta pressionado a nada. Caso você queira conversar, peça pra Núbia falar comigo. Se ela não vier, eu vou ter entendido. Espero que ainda lembre da minha letra horrível."---

Eu fico sem saber o que falar.

— O que é isso? — Bruno pergunta.

Eu entro a ele o papel.

— Caralho! — Ele fala um tempo depois de ler a carta. — Ele sabe que é você!

— Quem sabe o que gente? — Bruno entrega o papel pra Núbia.

Eu sento na cama, estou sem acreditar que nesse tempo todo o Breno sabia que era eu o garoto que mandou a carta pra ele.

— Meu pai amado. Ele sabe que é você. — Núbia rir.

— Você está rindo?

— Ué, queria que eu chorasse? — Para ela essa situação é tão natural. — Ele sabe que você é você. Ele não fez escândalo. Te mandou outra carta como resposta, isso é um bom sinal. Não tem motivos pra drama. — Ela estava totalmente calma. O Bruno, que é o Bruno, estava ainda de boca aberta com a situação. Pra Núbia é tudo tão simples.

— Ele sabia que era eu o tempo todo, talvez. Ou alguém contou pra ele. — Eu olho pra eles.

— Espera, você está supondo que a gente contou pra ele? — Eu dou de ombros. — Só não mando você se foder porque estou na casa dos outros. — Bruno fala ao pegar a mochila dele e tirando a roupa dele de dentro.

— Eu mando por nós dois: Vai se foder Daniel. Desconfiar da gente? Sério? A minha vontade é de passar esse ferro quente na sua cara. — Até ela bolada ela parece estar calma com a situação.

— Vocês queriam o que? Ele sabe que sou eu. Como eu vou olhar na cara dele agora? Eu já tinha deixado essa história de lado. — Eu estava com os pensamentos a mil. A vontade de ir na festa passou ali. Eu não teria coragem de encarar o Breno.

— Se você começar com a merda desse drama de novo por causa do Breno, eu vou dar três tapas na sua cara — Núbia chegou perto de mim. — Eu vou passar a sua roupa, você vai vestir ela, e nós três vamos nessa festa. Foda-se que agora o Breno sabe que você gosta dele. Ele que lide com isso como uma pessoa normal, assim como você vai fazer. Se for pra vocês conversarem, vocês vão conversar como duas pessoas educadas. Mas se você me disser que não vai nessa festa por causa de um homem, eu juro, Daniel, eu te afogo no vaso do banheiro sem piedade. — Eu tinha certeza que ela faria aquilo. Núbia não diz nada em vão.

Eu teria que conversar com o Breno. Era isso que eu queria, não?

Mas por algum motivo eu só consigo pensar no Sandro, o que eu vou falar pra ele lá na festa quando eu simplesmente for falar com o Breno num lugar privado? Bom ele sabe que eu tenho essa questão com o Breno e ele nunca disse nada sobre o assunto, e nem esmo se incomodou quando o assunto vinha atoa as vezes nas nossas conversas.

Sandro vai entender. Certeza.

Quando descobri que Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora