Capítulo 47- Passado.

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Acordo um pouco tarde devido a minha noite mal dormida e ao meu cansaço, quando caía no sono, alguma pesadelo me ocorria, todos sem lógica alguma.

Levanto-me e me arrumo o mais rápido que consigo. Eu e Piter precisamos mesmo conversar o quanto antes.

Desço e cumprimento meus pais.

-Amanda, está tudo bem? -apercebe-se mamãe- Estás com uma olheiras e a tempo que não dorme até tão tarde.

-Desculpa, é que eu tive mesmo uma noite ruim.

-Porque? -preocupa-se.

-Pesadelos e pensamentos ruins -começo- Deixa isso para lá, hã... tenho fome.

-Vou pegar um suco e pães, aceita?

-Sim.

Vai até a geladeira e de lá retira um suco de laranja, e logo em seguida uns pães no armário.

-Come! -diz.

-Ok -digo- Depois de te ajudar, posso ir a casa de Piter?

-Claro, nada mais natural.

Sorrio e me apresso a ajuda-la.

(...)

Entro na casa de Piter com as chaves que havia pego.

Ouço um barulho vindo do quarto, vou até lá. Entro. Ele estava sem roupa, ía trocar-se. Omg... Grito assustada, ponho as mãos nos meu olhos, tapando a minha vista e saio rapidamente do seu quarto, ou melhor corro do seu quarto. Ouço a risada que tanto gosto vinda de lá, e coro intensamente.

Deixa de idiotice Amanda! Já o viste assim noite passada.- Pensei.

-Pode entrar agora -avisa, ainda rindo.

-Me desculpa mesmo... a sério!

-De boa -diz e desfaz rapidamente o sorriso.

-Precisamos conversar... -começo.

-Não vai terminar comigo, pois não? -interrompe-me assustado.

-Pois deveria! -atiro.

-Eu sei que está muito irritada comigo, mas tem de me ouvir, eu tenho coisas a te dizer -diz calmamente.

-Não quero te ouvir! -quase grito.

-Amanda sejamos maduros, ok?

-Ok! -bufo.

-Por favor... É só isso que peço, me ouve.

-Você tem um minuto -acabo por ceder. Sento-me na cama, ficando cara a cara com ele.

Piter olha-me tristemente, provavelmente o que ele vai me falar deve envolver as coisas sobre ele que quando chegasse a hora certa eu saberia. Mas sinceramente? Eu não queria que a hora certa fosse agora. Piter dá um forte suspiro.

-Isso não vai ser fácil para mim, mas vamos em frente.

Assinto e o observo em silêncio.

-Eu me arrependo de cada coisa que fiz, mas não tenho como desfaze-las. E já está mais do quê na hora de você saber. Como já te disse meus pais trabalhavam muito, eles não tinham tempo para mim -faz um pausa e suspira novamente- Quando chegamos a Argentina, eles me puseram num colégio interno, no qual eu ficava de segunda à sexta e eles me buscavam na sexta a noite. Aos sábados eu ficava sozinho em casa vendo televisão ou fazendo qualquer outra coisa chata, eles me diziam que eu ía para o internato pois era novo e não poderia passar a semana sozinho em casa -respira fundo, provavelmente procurando forças para continuar- E antes eu não entendia muito bem o que eles queriam dizer com isso, mas hoje compreendo que era porquê eu não sabia me cuidar, cozinhar, lavar e essas coisas, entende? -rebolo os olhos e aceno afirmativamente- Foi aí que as coisas ficaram ruins, no colégio. Eu sempre fui muito centrado nos estudos e tu sabes bem disso, mas meus novos "colegas" -fez sinal de aspas com os dedos enquanto falava- Eles passaram a me zuar, chamavam- me de nerd, cabeção, baba ovo, e um monte de coisas idiotas. Mas um dia as agressões passaram de verbais para físicas. Eu lembro-me como hoje, eu choramingava e os mandava parar, mas eles continuavam a me chutar, bater e riam, riam muito de mim, era a diversão deles e a minha tristeza. O pior foi que a partir desse dia eu passei a sofrer buling todos os dias naquele inferno chamado de colégio -nesse momento as lágrimas corriam dos seus olhos de foram desesperada. Bem, dos meus também, mas esse momento era de Piter- No ano seguinte meus pais me tiraram do internato, pois disseram que eu já tinha idade para me cuidar sozinho. Eu prometi para mim mesmo que o que aconteceu lá, não voltaria a acontecer no novo colégio e em lugar algum -respira fundo e continua- Foi aí que começei a lutar e a surfar, para tentar ter forca e equilíbrio, para além disso, respeito. No novo colégio eles não me zuavam mais, ficou tudo um pouco tranquilo. Na academia que eu treinava deixei bem claro que só o fazia para defesa pessoal e distração, não para competir. Lá conheci uns caras, da minha idade mais ou menos, e nós passamos a ser amigos. Mas eu não sabia que essa amizade me faria tão mal. Eles me mostraram coisas, me deram coisas e me ensinaram coisas. Viciei-me em jogos por culpa deles que me levavam a cassinos, passei a beber, a fumar e até mesmo me drogar, e o pior? -ironizou- Eu só tinha 16 anos. Foi com eles que experimentei êxtase pela primeira vez, quando saíamos. Foi com eles que usei coisas que me arrependo imenso e que eu achava que me ajudavam... Mas não! Elas apenas pousavam tudo, mas eram meu refúgio, eram elas que estavam lá quando eu precisava, elas estavam sempre ali para mim. A droga. Quando eu já não achava que tinha mais nenhum modo de me recuperar, de voltar a ser o que eu era antes... Sim, porque eu estou muito danificado. Sou como um vaso, pode até haver concerto, mas não voltarei a ser o que fui, não dá mesma forma, não voltei a ser "eu" -nessa altura não parecia que Piter estava me contando aquelas coisas, o que lhe aconteceu, mas estava contando para si próprio. Tenho certeza que é a primeira vez que ele fala sobre isso com alguém, é algo realmente pessoal- Bem, quando eu achava que não tinha nenhum modo de me levantar, nem um pouco que fosse, vi umas fotos nossas numa gaveta. Tu e eu, amigos, felizes, inocentes e crianças, e tudo que eu sempre senti por tu veio-me como uma "avalanche", para me acordar, e acender o fogo da vida que restava dentro de mim. Daquele dia em diante fiz de um tudo para acalmar meus vícios. Depois de mais ou menos 4 meses eu estava limpo das drogas, ou pelo menos pensei que estivesse, e já andava mais tranquilo. Foi aí que passei a comer salada, mas isso não vem ao caso -ok, ele contou-me detalhes desnecessários, nem lembrava do episódio da salada- Parei de frequentar a academia, apesar de gostar mesmo de praticar, acho que essa é a única coisa que eu sinto mesmo falta daquilo tudo, mas foi o melhor a ser feito, não podia voltar a andar com aqueles cara. Meus pais se calhar nunca nem notaram nenhuma mudança de comportamento, nunca estiveram por perto. Eu conversei com eles e os convenci de que ficaria bem se vivesse sozinho por cá, eles concordaram, mas só pagariam minhas despesas até o primeiro ano da faculdade, depois eu teria de me arranjar. Foi aí que voltei, tentei parecer o mesmo Piter de sempre, e consegui. Mas quando te via beijar Alex desabava e fazia merda. Até mesmo quando saímos e aquele tarado tentou te agarrar, eu me irritei imenso e machuquei-o, me descontrolei, eu até tive razão, mas passemos a frente. No dia do jogo se você lembra, eu sumi por uns instantes, eu fui refugiar-me para não voltar a fazer asneiras e te perder. Mas mesmo contigo fiz merda, e sem pensar -Piter olho nos meus olhos mais intensamente. Eu conseguia sentir o que ele sentiu e agora sentia- Olha eu posso mudar, mas só vou conseguir se você estiver do meu lado. Eu amo-te. Promete não me abandonar? -pergunta Piter e me abraça, me consolando e buscando consolo. Molho bastante sua camisa e ele a minha. Afasto-me dele e fito seus olhos chorosos.

-Piter eu prometo ficar do teu lado sempre! Para o que der e vier, ok?! Eu amo-te -sorri contra a sua pele- Obrigado por ser sincero comigo e confiar em mim. Seu segredo está bem guardado. Vamos sair dessa juntos, ok?!

Piter beija-me carinhosamente, mas este beijo foi mais carregado de sentimentos e emoções do quê qualquer outro que já me dera até hoje. Mas tem uma coisa que não me quer calar...

-Hã quanto tempo já não consome? -disparo- Quero dizer... As drogas mais fortes...?

-Há quase um ano -diz envergonhado.

-Tu és forte Piter! -encorajo- Vais conseguir se livrar desse fardo!

Deitamos na cama, nossas pernas entrelaçadas, eu deitada no seu peito, ouvindo o bater do seu coração. O silêncio reina entre nós, mas ambos precisamos refletir sobre o que acabou de acontecer. Muita informação para um dia só. .. O único som audível é o da nossa respiração e do nosso choro baixo. Eu o amo tanto, não posso perde-lo. Vou lutar por Piter. Afundo nos meus pensamentos e acabo adormecendo ali mesmo...

Olá infinites, como vão?
O que acharam do passado de Piter? Muita informação, eu sei... Meus dedos ficarmos doendo quando escrevi esse capítulo, pois não parei um segundo, levei mais ou menos uma hora, minha mãe já estava ficando irritada por eu estar a tanto tempo no celular e calada... Sim, escrevi pelo celular... Coitada de mim... E sim, eu também sou do tipo que fala muito quando está em casa, acreditem é só em casa!
Ainda não tenho ideias pro próximo capítulo, por isso creio que vai demorar uma semana. Não desistam de mim... Ainda tem mais surpresas...
Comentem, amo vocês ♥♥♥

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