Capítulo II

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Talis atirava paus para a fogueira que ele tinha acabado de fazer.

Anoitecia, e o frio era intenso.
A princesa bufava para as mãos na tentativa de as aquecer, enquanto um manto grosso e pesado lhe caia sobre as costas.

- Como é que vamos sobreviver Talis? - Amália perguntou - não tarda nada eles vão perceber que eu não estou morta e vão me procurar!

- Não se preocupe Amália, esta noite eu vou conseguir pensar num plano perfeito. Só pela manhã é vão perceber que a menina não está morta. Temos de arranjar uma maneira de fazer com que eles acreditem que você morreu. O meu sobrinho Giuseppe está neste momento a vir a nosso encontro. O mais importante neste momento é tira-la de Granada em segurança.

Amália ficou com o olhar fixo.

- Tente dormir princesa. - disse Talis

- Acha que vou conseguir dormir? Depois de tudo o que passei e vi hoje? - ela perguntou alto um pouco exasperada.

- Acalme-se princesa! As pessoas podem ouvi-la.

Amália deitou-se na terra meia molhada, embrulhada na manta grossa e começou a rezar baixinho. 

Passado umas horas de olhar para o vazio, de acordar com pesadelos e voltar a adormecer e voltar a acordar com pesadelos Talis levantou-se do chão e virou costas à fogueira.

- Onde vais Talis? - perguntou Amália.

- Tratar do nosso problema, mantenha-se em silêncio, ninguém a há de encontrar.

Talis afastou se e seguiu para o castelo.
Assim que lá chegou, cautelosamente, dirigiu se a uma pilha de 7 pessoas mortas. Procurou uma mulher e assim que encontrou uma morena como a princesa, arrastou-a de volta ao sítio onde estava Amália.
Esta ao ver a rapariga levantou-se.

- O que está a fazer? - ela perguntou

- Troca de identidades.

Talis começou a tirar a roupa à serviçal deixando a só com o vestido interior.
Amália olhava horrorizada.

- Tire a sua. - Talis ordenou

- Nem pensar! - ela gritou

- é isto ou ser morta - avisou

Amália começou a tirar a roupa apreensiva deixando-se só ficar também com o vestido interior.
Talis atirou lhe a roupa da mulher.

- Veste.

Amália pegou na roupa que tinha um cheiro horroroso.

- Eu vou lava-lo primeiro... - ela disse

- Como quiser, mas espere aqui até que eu volte. - Talis disse pegando na mulher morta ao ombro. - Dê-me a coroa.

Talis estendeu a mão e Amália tirou a coroa da cabeça triste e pousou-a na mão do guarda.
Este virou costas e saiu.
Voltando ao castelo posicionou a "princesa" na saída da passagem secreta do quarto da princesa. Olhou para a cara da mulher enquanto ganhava coragem para fazer o que ia fazer a seguir.

- Pela Leonor... Eu tenho de proteger a Amália... Custe o que custar.

E dito isto, Talis pregou um soco á mulher.
Soco a seguir soco, a cara da rapariga ia ficando cada vez mais impossível de identificar.
Colocou a coroa perto da cabeça da mulher desfigurada.
Rasgou lhe o vestido na parte de cima e levantou lhe a saia.
Correu sem ser visto até á floresta e esperou.
Os novos guardas que faziam patrulha encontraram o corpo.

- Mais uma. E esta é nobre - um deles disse olhando o corpo da mulher.

- Olha isto aqui - o outro respondeu pegando na coroa

- Não posso - o outro quase gritou arrancando a coroa da mão do colega. - é a coroa da princesa.

- Vamos chamar o chefe!

O primeiro correu e quando voltou vinha acompanhado de um homem bem vestido e outro que parecia ser chefe dos outros guardas.

- Credo, quem é que foi o doente que fez isto? - o chefe dos guardas perguntou

- Não estou minimamente interessado... - o homem bem vestido disse - esse doente matou a herdeira do trono. Essa passagem vai dar ao quarto da princesa, portanto é ela. Merecemos um banquete esta noite!

Os homens saíram do campo de visão de Talis e este voltou para Amália.
Ela dormia sossegada embrulhada na manta.
O vestido da mulher continuava no chão.
Talis pegou num pau e mexeu nas brasas da fogueira. Não valia a pena reacende-la, assim que Amália acorda se ambos iriam para longe de Granada.
Não podiam voltar para Alencar pois podiam por em risco o reino, que encontrava-se fraco e fácil de invadir.
A única maneira era irem para Falia. Uma terra que se distinguia por uma monarquia pagã com crenças odinistas. A viagem demoraria 3 meses até à fronteira.

Amália abriu os olhos.

- já não vais ser procurada. - Talis informou

Amália sorriu e levantou-se.

- o lago não é muito longe daqui, podemos ir lá para lavar o vestido. - Talis disse

Amália assentiu.
Talis espalhou as cinzas e pegou na espada começando a andar.
Depois de longas passadas silenciosas Amália decidiu perguntar:

- Eles acreditaram-se que a mulher era eu?

- Caíram como uns patinhos, até vão fazer uma festa a comemorar a tua morte.

Amália limpou as lágrimas rapidamente.

- Aproveite este espaço de tempo que vai ter de liberdade. Mais tarde ou mais cedo você vai conseguir recuperar o seu reino e aí não lhe vão faltar preocupações.

- Eu sei, mas é tão difícil. Eu não estou habituada a nada disto.

- Mas vai se habituar.

- Nós não temos nada Talis! Nada! - a princesa chorou aflita.

-Não se preocupe, ainda conseguimos trazer algum ouro connosco portanto acredito que vamos ficar bem. O Giuseppe já deve estar no seu caminho para nos encontrar. Eu sou só um homem. Mas com o meu sobrinho do nosso lado vai ficar tudo mais seguro.

- E os meus vestidos? Como é que vamos convencer alguém que eu sou da realeza se pareço uma camponia.

- Elas vão estar na fronteira de Falia quando nós precisarmos deles! Até lá você está longe de estar a salvo, tem de encarnar a personagem.

- Que personagem? - A princesa perguntou me

- De camponia

Talis deu um riso tristonho.

- Não goze comigo Talis, eu continuo a ser a sua princesa.

Talis ficou sério e Amália sorriu-lhe,mostrando que também estava a brincar.

- Está à vontade Talis... Até convém que não me trate diferente...

- É verdade

No momento a seguir Talis e Amália encontraram o rio.

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