Capítulo VII

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Talis comprou uma carroça de madeira simples com só 3 lugares à frente e uma parte de trás para colocar alguns utensílios agrícolas.

- Vamos lá subir para cima da carroça - Talis mandou e Giuseppe deu a mão à princesa para a ajudar a subir.

Começaram a viagem em silêncio. A carroça abanava por todos os lados pois a estrada em terra servia somente para os agricultores passarem com os instrumentos para o cultivo e não para passageiros. Portanto, a estrada encontrava-se cheia de buracos o que fazia a pequena carroça saltar para cima e para baixo, graças ao leve peso que levava.
Há medida que as horas passavam, Amália ficava mais desesperada com o saltitar da carroça e com aborrecimento que se estava a apoderar dela.

- Vamos jogar um jogo! - Giuseppe exclamou fazendo todos olhar para ele.

- Qual? - Amália perguntou já disposta a tudo.

- Ao "eu vejo"! - ele disse - descrevemos as coisas que vemos e as pessoas têm que adivinhar. Eu começo! Eu vejo uma coisa alta...

- Uma árvore - a princesa perguntou levantando a sobrancelha dando pela falta de coisas altas.

- Está certo. - Giuseppe sussurrou, aborrecido com a facilidade de Amália.

- Eu vejo... - Amália começou - uma coisa fininha e castanha...

- O trigo? - Giuseppe adivinhou.

- Sim... - Amália disse apercebendo-se que o jogo ia durar pouco.

- Eu vejo uma coisa branca e fofa.

- A nuvem? - Talis perguntou - estamos a entrar no desespero

- Vamos arranjar outro jogo.

- já não tenho mais ideias... - Giuseppe avisou

- Vamos fazer quadras! - Amália exclamou.

- Ai não por favor... - Talis suspirou

- É melhor que nada... - Giuseppe disse

- Eu começo! - Amália disse aclarando a garganta

Água que passa e canta
É água que faz dormir...
Sonhar é coisa que encanta,
Pensar é já não sentir

- Agora eu! - Giuseppe disse

Eu gosto de andar
Nesta estrada caminhar
Se me souberes acompanhar
Mais feliz irei ficar

Giuseppe estendeu o braço por cima da princesa e olhou para os seus lábios com a intenção de a beijar.

- NÃO ENQUANTO EU ESTIVER A VER! - Talis disse empurrando a cara do sobrinho com a mão para trás. Este voltou a encostar-se ao banco e Amália cantou para ele.

Como mais feliz podes ficar
Sabendo que não vamos durar?
Muito triste hás de estar
Quando me tiveres de deixar.

Giuseppe respondeu:

Sabes que não vou tolerar
Se me abandonares numa noite de luar
Tens que começar a acreditar
Que sou eu que te vou levar ao altar

Talis irritado começou:

É bom que parem de sonhar
Estou a ficar farto de vos aturar
Eu sei que gostam muito de falar
Mas podiam se calar para variar...

O silencio voltou a instaurar-se.

- Foi quase tão bom como os nossos - Amália comentou baixinho.

- EU TENHO OUTRA! EU TENHO OUTRA! - Giuseppe exclamou. Talis bufou ruidosamente.

Sei que posso te amar
Mas sei que não nos podemos casar
No entanto ninguém nos proíbe de brincar
Eu prometi a tu virgindade preservar.

Talis pregou um estalo ao sobrinho.

- Aprende a ser um homem!!!

- Essa a nível rimático não foi tão boa. - Amália comentou.

- Pois não, mas eu achei que estava bonito...

- Eu digo te o bonito rapaz! Achas que diz se isso a uma princesa? Que raio de educação eu te dei.

- A do adultério... - Giuseppe respondeu começando a ficar muito irritado com a atitude do tio.

Talis olhou para Giuseppe capaz de o matar.

- É que eu nem vou perguntar o que é vocês estão a falar... - Amália disse

- Melhor assim... - Talis rosnou olhando Giuseppe de lado.

O silencio instaurou se pelo resto da viagem.
Começou a anoitecer e Talis parou numa vila pequena.
Bateu na porta de uma das pequenas casas de pedra e perguntou se ali perto haveria algum sítio onde nos podessemos abrigar durante a noite.
A pessoa negou, mas disse que podíamos pernoitar no seu curral.
Dirigiu nos até à parte de trás da casa e abriu uma porta de madeira. Entraram no curral e Amália sentiu logo o cheiro a vacas.

- Muito obrigado, estamos-lhe muito agradecidos. - Talis disse.

O senhor assentiu com a cabeça e saiu do curral. Talis atirou-se para cima de um monte de feno e caiu num sono profundo.
Giuseppe arranjou melhor a palha e aninhou-se nela, na tentativa de adormecer e Amália,desajeitada, deitou-se diretamente no chão só com a cabeça na palha.
O cheiro a animal, o chão frio e o rastejar de algum inseto ou bicho no chão fizeram com que Amália não dura-se mais de 5 minutos deitada naquele local horrendo. Desesperada, levantou-se silenciosamente e saiu do curral.
Sentou-se à porta deste encostando-se à parede de pedra fria.

- não consegues dormir? - perguntou Giuseppe.

- naquele sítio não. Prefiro passar a noite toda acordada.
Giuseppe passou o braço por cima de Amália e esta encostou-se ao seu peito.

- Eu só quero chegar rápido a Falia...

Giuseppe manteu-se em silêncio.

- Sabes que eles lá são muito diferentes de nós? Não sabes? - Giuseppe perguntou

- Sei... porque é que perguntas? - Amália perguntou, levantando a cabeça e olhando Giuseppe nos olhos.

- Eu não acho que te vás adaptar lá. Eu já estive lá e sei como eles são.

- Mas porque?

- Aqui em Granada há muito mais valorização da mulher. Lá eles estão habituados a que o homem mande. Sempre. Aqui a corte é o sítio mais glamoroso e luxuoso do mundo, lá os reis vivem pouco diferente do resto do povo. São capazes de ter melhores casas e mais comida mas não têm a grandeza que tu estás habituada. Aqui os homens são corteses, educados...sóbrios... Lá são rudes, bêbados e agressivos. Têm uma cultura diferente, uma religião diferente e sabe lá Deus se eles realmente vão ajudar-te ou só se vão aproveitar de ti!

- Tu fazes me ter medo... - Amália confessou encostando-se na parede. Giuseppe inclinou-se para a rapariga tocando-lhe na face.

- Claro! E é normal que sintas! Não consegues imaginar uma vida simples comigo? Numa casa, casados, com os nossos filhos...

- Claro que consigo, mas eu não sou uma pessoa normal, nunca hei de ter uma vida normal! Não me cabe a mim decidir isso! Eu nasci herdeira do trono de Granada e herdeira desse trono hei de ser!

Giuseppe baixou o olhar, fatigado com a persistência da rapariga.

- Basta quereres. Uma palavra e muda tudo.

Giuseppe beijou Amália na bochecha e voltou para dentro do curral.

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