Era difícil respirar.
Minha boca está cheia com um pedaço qualquer de pano, e tem uma fita cinza nela para evitar que eu grite. Só posso gemer de frustração.
Cinco dias, pelo que posso contar, é o tempo que estou aqui. Cada dia que passa é uma nova chance de tentar escapar. Minhas pernas estão presas por correntes que vão até o banheiro. Tentei correr e tirar a madeira da janela para fugir, não deu.
Meus braços estão presos com uma abraçadeira que é trocada a cada refeição. Três por dia, que compreensivos, certo? Comer um pão e beber um copo de água é tudo o que faço para não morrer aqui. Três vezes ao dia.
Não posso esquecer de o motivo da minha boca estar bem lacrada e o meu guarda estar a poucos metros de mim. Eu o mordi. Sua mão tem um curativo, posso dizer que quase arranquei um pedaço dela. Acabei apanhando dele. Socos, chutes e perdi, naquele dia, a chance de comer pela segunda e terceira vez.
Meu braço está um pouco inchado, meu nariz estava sangrando da última vez que olhei no espelho e minhas costelas e pernas estão cheias de hematomas coloridos. Não estou usando minha roupa de trabalho, a do dia em que fui capturada. Mas um short fino, uma regata e só.
Tudo com um único propósito.
Se eu sair daqui, posso morrer lá fora com o frio mais denso da cidade.
Eu correria o risco.
Escuto a porta abrir. Olho para a figura entrando. Ela é alta, é uma mulher esbelta e está tirando um casaco que parece pesado demais para o calor da minha prisão. Ela pede para que o meu guarda saia e pega uma frasqueira da bolsa. Sei que é bebida alcoólica.
Como bem me lembro, Edward tinha pedido que eu avisasse caso Paul Lahote fosse ameaça a mim. Isso me fez tirar os olhos de alguém muito mais perto de me fazer mal.
Emily, a minha cliente.
Ela ainda me deve uma explicação do motivo de estar aqui. O que eu fiz? O que deixei de fazer?
— Eu vim aqui te avisar que sua... visita a mim está acabando. - Ela cruzou as pernas. Descruzou e veio até mim. Tirou a fita e o pano. - Melhor, não?
— O que eu fiz? - Senti sua mão na minha cara. O tapa me fez cair.
— Não seja sonsa, estava me separando do meu marido. Destruidora de lares. - Ela apertou o salto na minha bochecha.
— Mas... eu sou advogada, você me contratou para isso. - Ela tira o salto dali.
— Isso não quer dizer nada. Não explica o motivo dele estar com um altar dedicado a você no escritório. - Minha cara de desentendida deve ter frustrado ela. - O que você tem que eu não tenho?
— Nada... juro que não sei o motivo dele ter feito isso. Talvez ele tenha me vigiado para me apagar, talvez ele queira adiar ainda mais o julgamento. - Seus olhos brilham.
— Acha que ele quer adiar? Não quer se separar de mim? - Ela segura o meu cabelo. Aceno com a cabeça. Ela aperta meus cabelos. - Você não passa de uma prostituta mentirosa. - Ela bate minha cabeça no chão.
Sinto ela tirando as correntes e a abraçadeira. Me movo com um pouco de dificuldade. Levanto e me sinto tonta. Deus... me ajude.
— Você tem quinze minutos para sumir daqui. Quinze minutos até eu colocar alguns amigos para correr atrás de você. - Sinto meu coro cabeludo se arrepiar.
— Emily - choro.
— Seu tempo está passando.
Empurro ela para o chão e pego o casaco e a bolsa dela. Saio em disparada pela escada. A adrenalina assumiu meu corpo. Tento encontrar alguma chave ou o celular, mas perco o equilíbrio. Caio um lance de escadas. Sem tempo para sentir dores, levanto e pego o que caiu da bolsa, um isqueiro, chaves e o celular, que parece ter quebrado.
Escuto os gritos de Emily. Parece que empurrar ela não era parte do plano.
Tudo isso parece fácil demais. Sem capangas, quinze minutos a frente deles e ...
Abro a porta principal. Uma ventania sem igual sopra no meu rosto e arrepia minha pele. Meus pés estão descalços e encontro uma bota grande demais e a visto. Aperto o casaco em mim e saio correndo pela noite gelada. Está escuro demais, mas escuto o barulho da água. Corro até o som. Me enfio na mata densa até os meus movimentos serem mais difíceis pelo frio me tomando. Começo a chorar de desespero.
Meu corpo está temendo muito.
Escuto cachorros.
Vejo luzes de lanternas
Quanto tempo passou?
Não tenho mais quinze minutos.
Vejo as ondas na praia, com a luz fraca da lua acima das nuvens escuras. Mais um pouco e já consigo sentir a areia. Sinto muita sede e fome. Minhas mãos tocam a água e não sinto mais o gélido toque daquela umidade.
Sinto o sono, ele me abraça como se fosse um cobertor quente e me deixo ser envolvida pelo calor mais que bem-vindo.
Escuto passos, gritos, latidos. Não me importo. Agora só quero o calor.
— Vinte e três Graus...
— Hipotermia severa.
— Tirem essa roupa dela, está encharcada.
— Cuidado, o coração pode ter uma arritmia. Muito cuidado.
— Pulsação lenta.
— Administre o soro aquecido.
— Não removam a porra desse cobertor.
— Mas... - um som chato demais encheu o lugar, depois não ouvi mais nada.
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Silly Love
FanfictionBella, desacreditada do amor, resolve que não vai se envolver com ninguém mais. Pode Bella manter a promessa depois da confissão de Edward?