A verdade?

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LOS ANGELES,
10:30 PM.


Noah

Dez e meia.

Dez-e-meia .

     E eu aqui, encarando Sina, confuso. Seus olhos me analisam como sempre fez. Os olhos claros como os meus que parecem invadir a minha alma. Acho que foi por isso que nos damos tão bem desde o início. Somos parecidos. Ela talvez um pouco mais explosiva do que eu, mas somos. Sina sempre foi amiga de todos. A loirinha que todo mundo queria estar por perto porque ela sabia sempre o que dizer. Tenho sorte de tê-la como amiga e admiro seu espírito. Sua verdade. 

Mas, dessa vez, pela primeira vez, eu não sei o que dizer.

  Seus dedos batucam de forma extremamente lenta a mesa de madeira da lanchonete de beira de estrada que estamos. O milk shake de chocolate em sua frente já não é mais a atração, eu sou. Sina joga o cabelo pra trás das costas e apoia o cotovelo em cima da mesa. Sua sobrancelha é arqueada de uma forma extremamente teatral e eu sei o que isso quer dizer.

Ou melhor, eu sei o que ela quer ouvir.

- Noah?! É sério?! Você vai ficar mesmo mudo?!

Suspiro pesadamente, jogando minha cabeça pra trás e passando a mão no rosto;

- Sina, eu não sei o que você quer ouvir. Sinceramente. - respondo, voltando a minha posição anterior :  cotovelos na mesa e cabeça no meio das mãos. - isso é o que você acha.

Sina ri alto e nega.

- Noah, já chega! Nós sabemos que eu tô certa e você errado, como na maioria das vezes. - da de ombros - olha pra mim, Urrea - seu corpo inclina sobre a mesa e seu rosto se aproxima do meu. Levanto o meu olhar e olho em seus olhos - chega disso. Chega de negar tudo o que você sente! Eu e você sabemos o que você carrega dentro de sí desde o começo!

É a minha vez de rir. Jogo a cabeça pra trás, mordo o lábio inferior com força e nego;

- Sina, para.

- para?! Paraaa?! Noah! Antes você podia negar e enganar a todos mas agora não! Não mais! Tá escrito na sua testa o quanto você gosta da Shiv! O quanto sempre gostou! Eu sei que você sempre priorizou a amizade, o respeito! Eu sei que você nunca se abriu com ninguém porque sabia dos sentimentos dos dois! Você se calou! Guardou o que sentia por lealdade a amizade! Mas Noah, agora é diferente! Você tem noção de quantas vezes eu tive que olhar no olho da minha melhor amiga e mentir sobre você ou tudo o que envolvia nós dois?! Todo mundo acreditava que iríamos acontecer mas nós dois sabíamos que não! Você porque sempre gostou dela e eu porquê...gosto de meninas. Urrea, - Sina alcança as minhas mãos e as aperta - eu não vou mais esconder, você vai?

- Sina...- fecho os meus olhos, sentindo a minha cabeça girar - para, por favor! Eu não sou esse tipo de cara! A Shivani tá frágil, sozinha...e...e-eu...eu só tô sendo o amigo que ela merece ter. Só isso.

- você deveria ser enxergar todas vezes que olha pra ela, Urrea. Seus olhos brilham e você sempre está sorrindo. Mesmo quando nada tem graça.  Mesmo quando estamos todos mudos. Você deveria se enxergar e aceitar tudo o que você sempre sentiu. Ainda mais agora! Se antes você não podia ser esse cara, agora você pode!

Solto suas mãos e olho pro chão.

- Sina, eu te amo. Te amo mais do que tudo nesse mundo. Eu sei como funcionamos bem juntos. Sei que você é a minha parceira de crime. E sei da garota foda que você é! Aliás, a Heyoon tem sorte...

- não tenta mudar de assunto e nós duas não temos nada!

Sorrio

- mas, Sina...eu acho que você não está certa. Eu sempre vi a Shiv como...eu sempre vi a Shivani co-co... como te vejo! Olho pra ela com admiração porque...porque ela é admirável! Ela é doce, engraçada, inteligente, forte, linda...

- Noah...?

- mas ela é a minha amiga! - fico de pé -. Eu tô morrendo de dor de cabeça, tá? - pego as chaves do carro - vem, vamos? Te deixo na Heyoon...

- não precisa! - ela fica brava - você sabe que eu estou certa, Urrea. Só precisa aceitar o que sente!

Reviro os meus olhos;

- tudo bem se você não quer a carona! - me inclino e dou um beijo em sua testa - já vou então - pego o pacote de hambúrguer em cima da mesa - vou levar esse hambúrguer pra Shiv.

- aí meu Deus do céu! - Sina grita, jogando a cabeça pra trás e tampando a boca com as mãos - toca nesse garoto e faz ele enxergar e aceitar o óbvio!

Dou risada

- também te amo! E juízo!

Dou as costas a ela e corro até o carro rumo a minha casa.

(...)

   Esfriou um pouco e isso é bem nítido. Passo pelo corredor silencioso do meu prédio e chego até a minha porta. Como já é bem tarde, giro a chave devagar e com todo o silêncio do mundo. Ao abrir a porta, não encontro nada do que imaginava. Tranco e coloco o pacote de hambúrguer em cima do balcão. A minha frente percebo Shiv sentada na minha poltrona favorita que ganhei dos meus pais. Mesmo de costas, a percebo toda encolhida. Levo um susto com o seu pequeno grito e encaro a tela de TV. Sorrio ao notar que passa Invocação do Mal. Filme que eu comentei com ela ontem sobre ser um dos meus preferidos de terror. Bem, ela havia dito que nunca iria assistir por morrer de medo e agora...a cena a minha frente não é essa.
   Me aproximo em passos lentos e a chamo sem tentar causar susto porque sei que isso não é bom em uma gravidez;

- eu disse que não iria assistir mas estou assistindo!!!! - ela diz, com voz de choro e combrindo o rosto.

Sorrio fraco pela cena e sinto o meu coração bater rápido;

- Noah! - ela grita o meu nome e me olha - senta aqui, vem me proteger!!!

Faço o que ela pede sem pensar. Me sento ao seu lado na poltrona que obviamente só cabe uma pessoa e suspiro por senti-la tão perto. Shivani então, assustada com o que vê na tela, envolve os braços em volta de minha cintura e deita a cabeça no meu peito, fechando os olhos.

- você não está com medo??!

Engulo em seco.

O que Sina me disse movimenta a minha mente.

Meu coração bate ainda mais rápido.

Minha garganta está seca.

Minhas mãos suadas.

Abraço Shivani com força e respiro fundo, confessando o que acabei de perceber;

- estou apavorado.

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