A onda que me arrasta pro teu mar...

Capítulo 5 - Mais sentimentos

 Percy voltou 20 minutos depois, vestido com uma blusa azul e bermuda jeans.
-Desculpe a demora.- ele disse com uma expressão do tipo "sinto muito". Ele estava muito fofo daquela maneira então não me importei. Mas naquele momento eu não estava o perdoando por me deixar esperando sozinho, afinal eu fiquei bisbilhotando sua casa toda, o que foi até divertido. Eu o estava perdoando por me privar de admirar o seu corpo molhado só de toalha, pra voltar tanto tempo depois e completamente vestido.
-Tudo bem.
Começamos a estudar sobre Pablo Chato Picasso. Não havia nada interessante sobre aquele cara. Nada. Apesar que suas pinturas eram impressionantemente belas.
Ficamos na sala o tempo todo fazendo as pesquisas e o slide no notebook de Percy. Às vezes eu fingia estar olhando para o notebook no colo dele quando na verdade estava olhando outras coisas... Enfim, eu tinha, ou melhor, tenho que esquecer Percy então tenho que parar com isso e me concentrar em Picasso.
Estávamos lendo sobre Picasso quando algo chamou a atenção de Percy. Ele clicou em um link que eu não vi qual era no canto do site.
"Como os gays eram vistos na Idade Média"
Ele leu o primeiro parágrafo e bufou, colocando o notebook em uma mesinha.
-Você não acha ridículo todo esse preconceito? Como essas pessoas que falam tanto de amor podem pregar o ódio desta maneira? Não se chamam cristãos? Jesus não amava os pecadores? São mesmo é hipócritas!
Fiquei boquiaberto com o que ele disse, ele exprimiu em palavras todos os meus pensamentos em relação ao preconceito dos cristãos - alguns- em relação a pessoas gays, como eu.
-O que foi? -Percy disse, me olhando assustado pelo meu silêncio.
-Nada, é que esse é exatamente meu pensamento sobre esse preconceito. Não seria mais fácil cada um cuidar da sua vida? Deixar as pessoas em paz vivendo com quem elas amam? O que será que se passa na cabeça de pessoas que se incomodam em ver duas pessoas felizes?
Debatemos sobre o assunto por muito tempo, até que a pergunta surgiu:
-Você fala com tanta propriedade sobre o assunto, Nico. Como se já tivesse passado por uma dessas situações.
-E já passei. -digo, calmamente.
-Você é gay?
Eu coro tremendamente, como chegamos nesse assunto? Será que ele desconfiava disso e entrou no assunto para ter certeza? Bem, agora não havia mais como fugir, tive que dizer a verdade.
-Sim, eu sou.
Ele me encarou surpreso por alguns segundos e depois abaixou a cabeça e riu.
-Acho que meu gaydar está quebrado, sempre fui bom em reconhecer gente da nossa família.
-Nossa família? -perguntei confuso.
-Sim, LGBT.- disse ele, um tanto orgulhoso.
Espere. Um momento. Não. Não pode ser. Mentira. Ele disse "nossa família". Percy também é. ... Gay??????!!!!!
Ele parece ter lido meus pensamentos pois respondeu:
-Não eu não sou gay- riu- eu sou bissexual. Já até fiquei com alguns homens, mas nada sério. E você, já namorou?
Eu estava chocado. A melhor notícia de toda minha vida dada assim tão naturalmente, sem preparação.
-Sim, algumas vezes.- respondi ainda tentando assimilar a ideia de que Percy também gostava de homens.
-Seus pais sabem?
-Sim e os seus?- já estava me acostumando com a ideia, a felicidade tomando cada vez mais lugar dentro de mim.
-Sabem, foi meio tenso na hora de contar, mas eles me aceitaram.
Conversamos sobre mais temas LGBT, aceitação da família, sociedade, amigos, como era se perceber e aceitar, as experiências que passamos, era como se nos conhecêssemos à séculos.
- Você é ativo ou passivo? - não entendi por que Percy estava fazendo uma pergunta tão íntima. Mas respondi mesmo assim.
-Passivo, extremamente passivo. - ri lembrando de vários momentos em que tentei me imaginar como ativo, ou tentei agir como tal. Não deu nada certo.
-Eu sou ativo, coincidência não?- ele disse mesmo sem eu ter perguntado. Lançou-me um olhar malicioso e um meio sorriso safado, se levantou e foi até a cozinha.
Eu fiquei no sofá, estático e ainda de olhos arregalados. Impressão minha ou Percy estava dando em cima de mim?
Ele voltou com duas latas de coca-cola zero, me deu uma, se sentou no sofá e me lançou o mesmo sorriso de antes.
-Vai ter uma festa de uma garota do Colégio no próximo final de semana, você vai?
-Eu nem fui convidado.-ri, meio sem graça. Nunca sou convidado pra festas.
-Eu estou te convidando agora, você vai?-ele insistiu.
-Onde é?
-Na casa da garota. A mesma da festa em que "nos conhecemos". -ele fez o sinal de aspas com a mão no ar.
-Vou ver se estou livre. - eu disse.
Conversamos um pouco mais e nos despedimos, já era bem tarde quando eu sai. Estava nervoso, precisava colocar meus pensamentos no lugar, muitos sentimentos em um só dia. DROGA!! O que estava acontecendo comigo? Acho que acabo de me apaixonar ainda mais por Percy Jackson.