Um ano mesmo novo

Capítulo 1

Beatrice

Junho 2019

Há pessoas que próximo ao final do ano coloca as resoluções para o próximo ano em um papel. São promessas a serem cumpridas.

Eu resolvi me antecipar, e cá estou a escrever a minha, o que espero para o próximo ano, e tomara que o Universo contribua. Resolvi que este ano eu daria uma guinada em minha vida, foi o que fiz. Ano passado se me perguntassem fiz de bom, eu diria: fiz o que deu. Estava noiva, mas infelizmente acabou ao novamente ser traída praticamente meses de antecedência ao casamento. Cansei de contar nos dedos quantos "nãos" amorosos já levei.

Não posso reclamar da minha vida, alcancei meu objetivo profissional e hoje sou dona de uma das mais conceituadas empresas de eventos, a BS events em Manhattan; uma família maravilhosa, uma melhor amiga sensacional e um casal de amigos que tanto amo. Linda, Susan e Steve estão em meus corações. Estiveram presentes em todos os momentos da momentos da minha vida, e nem a distância temporária no período da faculdade, fez a nossa amizade morrer.

Há dois anos atrás Steve e Susan casaram-se, fui a madrinha, e tive que voltar a ver pessoas que eu não faria questão alguma de ver. Não vou mentir que o gostinho de vitória que senti ao verem a Beatrice que me tornei – agora não uso mais aparelhos, meus cabelos são mais vistosos e não sou mais míope – ser tomada como susto e incredulidade para uns, foi esplendido. Mas ver Richard, me deixou quebrada. Pensei que tinha superado tudo, mas ao vê-lo, uma chateação tomou conta de mim. E acabei nem dirigindo a palavra a ele, não deixei de notar que trocávamos olhares, como se um estivesse sem coragem de falar com o outro. Ele estava acompanhado da então esposa que era modelo internacional e do filho de 02 anos, que incrivelmente era a cópia fiel do pai. Loirinho e cabelos lisos. Richard tinha encorpado mais, ganhado massa muscular e barba. Um espetáculo se não fosse tão sofrível vê-lo. De tudo que aconteceu, o que mais me doía foi ter perdido sua amizade. Ele e Steve continuaram a amizade e não seria eu a responsável pelo afastamento deles. Enfim... foi uma cerimônia linda e carregada de emoções.

Hoje, meu casal favorito, como os chamo, tem um bebezinha linda de 06 meses. Minha bonequinha. Sou a madrinha dela e não desgrudo um segundo sequer. Aos finais de semana, que Su e Steve precisam sair, sou eu a babá. E amo. Sempre amei crianças e não vejo a hora de ter meu rebento sendo embalado em meus braços. Meu bonequinho ou bonequinha.

Das melhores decisões que pude tomar na minha vida foi seguir em diante com meu sonho de ser mãe. E cá estou eu grávida de 12 semanas do meu bebê. Amor maior não há e a primeira vez que o vi na ultrassonografia meu coração disparou de um jeito que ali percebi que eu nunca mais estaria só, no sentido de amar e ser amada. Todo meu amor seria dele ou dela, ainda não descobri o sexo, e estou me coçando para ver se faço ou não o exame de sexagem fetal e acabo logo com essa ansiedade. Conversei muito com meus pais, meus alicerces, e eles entenderam meu lado onde expliquei que depois de tanta desilusão eu não poderia mais continuar caindo em tristezas e decepções e um filho preencheria o vazio que eu sentia. Isso mesmo. Sentia, pois hoje é a minha plenitude. Ainda não planejei enxoval completo, mas já comecei a comprar umas coisinhas e já herdei muita coisa que foi da Sofia e Su me presenteou. Nossos filhos serão melhores amigos assim como sou dela.

Hoje tenho um evento importante na BS, casamento de filhos de magnatas de Wall Street. A cerimônia será na Catedral de Manhattan e a recepção para 500 convidados em um dos mais luxuosos hotéis da cidade. É hoje que só chego amanhã em casa. Ainda bem que conto com uma equipe maravilhosa e por esta razão não fico mais pilhada, mais do que já fico, em nossos eventos. A BS trabalha com Casamentos, Coquetéis e Eventos Corporativos. Mas são os casamentos que eu mais identifico. Gosto de transformar os sonhos dos noivos em realidade, captar a essência de cada um deles. Nenhum casamento produzido por mim é igual ao outro. Tem toda uma história de amor por trás, apesar de alguns parecerem mais acordos comerciais do que celebração do amor e esses eu prefiro não comentar.

- Bom dia Bea! – Cumprimenta Natalie. – Nossa isso aqui está ficando fantástico.

Natalie é minha assistente, trabalha comigo desde que abri a BS. Nos conhecemos na faculdade. Posso dizer que hoje temos uma amizade além das paredes do escritório, e quando mais preciso, ela está disponível. Já propus sociedade a ela, que ficou de responder. Eu realmente preciso desse suporte quando meu bebê nascer. Vou me dedicar os primeiros meses exclusivamente a ele.

- Sim. Está um sonho. Eles queriam luxo, então, vamos dar luxo a eles, Nat.

O salão do hotel estava sendo decorado com as flores, para ser mais exato aqui conta cem mil dólares só em flores. Demais? Para a realidade de muita gente sim, mas para pouquíssimas pessoas isso era um valor irrisório. Muita gente acha desperdício o gasto de tanto dinheiro em flores, mas nós aproveitávamos cada uma depois da cerimônia. Nós entregávamos a uma ONG que transformava toda ornamentação floral em pequenos buquês e distribuía em asilos e hospitais para dar cor e alegria na vida de pessoas que tanto sofrem nesses ambientes. Um trabalho lindo e que me deixava leve. Eu já acompanhei algumas entregas e o sorriso que recebemos em troca vale mais do que tudo.

- Já chequei todos os itens. O pessoal da iluminação já está finalizando os últimos ajustes, o Chef francês contratado já chegou e já está reunido com a equipe na cozinha, tudo ok também na igreja. Ela já está ornamentada e os instrumentistas chegarão em 30 minutos para começar a passar o som. Já monitorei a noiva, que está hospedada aqui no Hotel e já verifiquei a suíte da lua de mel. Instruí a decorá-la com orquídeas brancas. Toda equipe do buffet já está a postos, já passei instrução aos garçons e copeiras. Banheiros vistoriados e aprovados. Ufa! Acho que esqueci de alguma coisa? – pergunta Nat, e eu já estava ficando tonta de tanta informação.

- Esqueceu de respirar. O resto já está ok!

- Ótimo! Vamos almoçar então, porque você agora come por dois.

- Nossa! Já passou da hora. Meu estomago colou.

O dia transcorreu na normalidade, a hora da cerimônia chegou e foi linda. Emocionante. As juras trocadas pelos noivos foi demais. Agora estamos na recepção, o DJ animando todo mundo e já são quase três da manhã, mas acredito que a festa vai rolar até o sol nascer. Meus pés estão inchados e as pernas formigando, isso me faz lembrar que a partir de agora tenho que evitar esses saltos matadores. Fujo um pouco para a sala que sempre mantenho para descanso da equipe durante os eventos e bebo água que peguei no meio do caminho. Fecho os olhos um instante, mas logo sou interrompida pelo rádio comunicador, era Natalie.

- Bea, onde você está? – notei uma certa apreensão na voz da minha assistente

- Na sala de descanso, aconteceu alguma coisa?

- Não. Eu. Eu estou indo aí. Não saia. – Quando Natalie gaguejou tive certeza de que algo estava acontecendo e já me preparei psicologicamente para a bucha.

Ao abrir a porta, notei que Nat estava acompanhada e era meu pai...

- Pai? O que houve? Que está fazendo aqui a essa hora? – Meu pai tentou esboçar um sorriso, mas falhou nitidamente.

- Princesa, estou bem e sua mãe também. Só peço que fique calma porque estou aqui ok?

- Fala logo pai. O senhor está me deixando apreensiva. Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu, e não tenho como te dizer isso de outra maneira. O Steve e Susan estavam a caminho de Hampton, e o carro que estavam colidiu na traseira de outro que estava parado na estrada e mal sinalizado. Eles foram levados de helicóptero ao Sant Peace, mas infelizmente eles não resistiram.

Senti o chão sumir, tudo girar e a última coisa que lembro foi o grito que meu pai deu chamando o meu nome.

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