Zachary.
Meu pai. Baile de aniversário. Noivado. Londres. Aquilo estava consumindo meu cérebro. Chutei uma pedra, daquelas pequenas e típicas que ficavam na areia da praia. O vento marítimo passava pelo meu cabelo, bagunçando-o e o frio da noite me fez segurar as rédeas de Torrão mais forte. Deveria estar bastante escuro, mas, não estava. Era noite de lua cheia, eu conseguia enxergar tudo muito bem.
Não havia voltado para o jantar, eu estava sem fome e com motivo. Eu sabia que não me casaria aos 17, teriam de esperar até eu chegar a maior idade que seria quando eu herdaria as terras que meu pai havia me separado. No entanto, a minha viagem a Londres não seria adiada e só de pensar que eu teria de me prender a uma pessoa... Matava-me lentamente. Eu não conseguia entender a lógica de meu pai. Ele dizia que queria que eu fizesse as minhas próprias escolhas e estava me obrigando a viajar e a noivar com uma garota que, na cabeça dele, iria aparecer instantaneamente nos jardins da nossa fazenda com um vestido de baile.
Sim, ele havia me deixado escolher o que estudar em Londres. E sim, eu escolheria a noiva. Era um luxo que outras pessoas não tinham. Mas, eu havia sido criado para questionar, entender o porquê das coisas. Eu sabia que aquela era a fórmula da felicidade na cabeça das famílias tradicionais. Ter um emprego lucrativo, ser inteligente o suficiente para multiplicar a sua herança, casar e repetir a mesma coisa com seus filhos.
O problema era que ninguém havia me perguntado se era aquilo o que eu queria! Será que não era possível ser feliz sem viver naquele molde?
Desviei meus olhos para o mar, imaginando todas as coisas que ele reservava todos os lugares que ele poderia me levar. Havia considerado a ideia de fugir e ela me parecia muito boa. Poderia viver do meu peculiar dom de concertar coisas que estava aprimorando e das estranhas invenções que eu fazia no confortável e isolado quarto. Ou podia me candidatar na marinha real britânica. Ambos os planos, como tantos outros, me agradavam muito mais do que seguir uma vida cheia de ordens e assustadoramente comum.
Entretanto, desapontar meu pai me parecia tão assustador quanto e aquilo não me deixava escolhas, apenas me transformava em mais um jovem frustrado. Havia passado as últimas duas horas descontando minha raiva com a espada, depois segui caminho para a praia onde eu sabia que ninguém me encontraria.
Estranhamente, no meio da caminhada, percebi que uma moça se aproximava. Eu não consegui avistar direito de longe, mas percebi os traços à medida que chegava mais perto. Era magra e da minha altura. Os cabelos eram loiros pálidos, não distingui o comprimento exatamente, pois eles estavam agitados em suas costas pelo vento marítimo. O vestido era o que mais me intrigava. Tinha a saia e as mangas longas, tão branco quanto as nuvens no céu em dia quente. Era simples, sem nenhum detalhe, além de ser reto e de um tecido esvoaçante. Não era o tipo de vestido que as garotas da vila costumavam usar, principalmente pelo fato de estar molhado, assim como todo o corpo dela, percebi quando fiquei realmente próximo.
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Coração Pirata
FantasyElizabeth Salazar foi encontrada no ano de 1700 ainda bebê por pescadores. Ninguém soube ao certo como ela sobreviveu ao frio e ao mar e o questionamento se seguiu pelos seus próximos 14 anos. Dona de um espírito curioso e destemido, Elizabeth é at...