Cavalgamos por mais uma eternidade. A noite começou a avançar e o clima esfriou de repente. Sem as tochas da festa a temperatura era bem menor e eu não sei se havia ficado daquele jeito apenas no meio do caminho ou se eu estava assustada demais para perceber antes.
O cansaço do dia inteiro de preparação para o baile havia me alcançado e eu só não dormi na garupa do cavalo, porque toda vez que fechava os olhos eu me lembrava daqueles homens asquerosos matando pessoas, vestidos como convidados apenas para roubar nossas vidas... Foi até bom, provavelmente, se cochilasse, eu teria caído de Torrão e causaria um problema maior.
Em algum determinado momento de nossa viagem, no alto da estrada, foi possível avistar Santa Cruz das Flores iluminada pela luz da lua. A imensidão do mar me inebriou e eu me senti menor e mais assustada do que já estava.
Seguimos adiante na estrada de terra e bem antes das primeiras casas aparecerem, Zack adentrou em uma pequena entrada à direita do caminho de costume. Para onde ele está indo? Questionei-me. Ele diminuiu a velocidade do cavalo e continuamos por mais alguns 5 minutos na estrada estreita rodeada por uma mata densa.
Então o prédio apareceu. Era grande, uma casa com a mesma proporção da sede da nossa fazenda, mas não era tão elegante quanto. Não tinha os detalhes sofisticados de pedra, madeira e flores da nossa casa. Pelo contrário, parecia um lugar muito simples, apesar de ter um estábulo. Era como se a construção tivesse sido arquitetada para ser uma cabana e em algum momento ela tivesse crescido e crescido por meio da magia de alguma bruxa no meio da floresta, a ponto de se tornar alta o suficiente para ser confundida com a casa de um lorde se não fosse vista de perto. No alto da porta uma placa estampava os nomes dourados "La Maison de Madame Margot".
Quando descemos do cavalo, eu estava tremendo de frio.
– Q-que lugar é esse? – Perguntei batendo o queixo.
– Você já vai saber. – Zack respondeu e olhou para mim. – Espero que elas nos deixem entrar ou vamos congelar aqui fora. – Ele disse tirando a casaca azul e colocando sobre meus ombros. Ainda estava quente e com o cheiro amadeirado dele. O garoto enlaçou um dos braços sobre mim e me encaminhou para a porta da frente.
Surpreendentemente àquela hora da madrugada o som do piano e do violino era bem alto e quanto mais nos aproximávamos da porta, mais altas as gargalhadas se tornavam. Na minha cabeça, eu achava que esse era um horário reservado ao descanso, comumente acertado entre as pessoas para ficarem restauradas o suficiente para o trabalho do dia seguinte. Estranhei ao perceber que na casa de Madame Margot não era daquele jeito.
Zachary subiu as escadas e bateu na porta com força, enquanto eu ficava nos degraus de baixo. Eu duvidei nas primeiras batidas que alguém iria escutar, Zack ainda tentou abrir a porta pesada de madeira algumas vezes, mas estava trancada. Muitas batidas depois, uma mulher de cabelos longos, negros e sedosos abriu a porta.
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Coração Pirata
FantasyElizabeth Salazar foi encontrada no ano de 1700 ainda bebê por pescadores. Ninguém soube ao certo como ela sobreviveu ao frio e ao mar e o questionamento se seguiu pelos seus próximos 14 anos. Dona de um espírito curioso e destemido, Elizabeth é at...