Talvez eu realmente devesse dar mais ouvidos à minha parte consciente.
Mas, naquele momento, tudo o que o meu instinto me fez fazer foi correr na direção daquela respiração agoniada, me equilibrando sobre os saltos agulha como se a minha própria vida dependesse daquilo.
Ignorei todos os alertas possíveis que brotavam na minha mente como letreiros de neon e continuei me aproximando. O meu salto ecoava pela rua sempre que se chocava contra o chão. Carter me odiava, e eu estava correndo na chuva de encontro à ele como se nada mais no mundo importasse.
Quando eu estava suficientemente próxima, minhas mãos largaram o guarda-chuva sobre a calçada, e a chuva rapidamente tomou conta de tudo o que eu era, me inundando. Quase não consegui evitar de suspirar quando a água fria entrou em contato com o meu corpo, encharcando o meu cabelo, as minhas roupas, e a minha pele.
Frio.
Frio até os ossos.
Carter não me deu muita atenção, parecia me ignorar. Ou quem sabe realmente não estivesse me ouvindo. O que era possível, já que havia um milhão de possibilidades sobre o que realmente tinha acontecido ali. Eu me ajoelhei na frente dele, com as gotas de chuva embaçando a minha visão e atrapalhando os meus movimentos. Encaixei as minhas mãos já frias em volta do rosto dele, e seus olhos lentamente se levantaram na minha direção, fazendo o meu interior congelar junto com eles.
Mesmo que já soubesse, o choque de realidade quase me fez estremecer. Carter estava na minha frente, atordoado, e da sua sobrancelha escorria um filete de sangue que aos poucos era lavado pela chuva, mas não parava de ressurgir.
- Você está bem?
Eu gritei para que a minha voz se sobressaísse à chuva. Ele lutou para reconhecer as minhas palavras. Parecia distante, tonto, ou talvez até um pouco bêbado. Quem sabe todas as coisas. Seus olhos continuavam fixos em mim, tão frios quanto aquela chuva, me atravessando com uma intensidade que quase me fez recuar.
Eu não sabia dizer se ele tinha me reconhecido. Não esperava que reconhecesse. E mesmo assim, ele não pareceu nem um pouco contente em me ver ali, eu podia sentir a raiva emanando de seus olhos.
- Você está bem?
Repeti a pergunta, em dúvida se ele havia ouvido da primeira vez, e levantei o rosto dele com preocupação, enquanto encarava o corte na sobrancelha. Um relâmpago iluminou o céu nesse momento, e eu finalmente pude ver o tamanho do machucado.
Droga.
- Você precisa cuidar disso.
As minhas palavras pareceram despertá-lo.
- Me solta. - Ele disse, e sua voz soou quase como um rosnado. Eu olhei na direção dele outra vez, incrédula com aquela reação, mas não fiz nenhuma menção de me afastar. - Eu mandei me soltar! - Ele vociferou, e a sua voz preencheu a noite ao mesmo tempo que um trovão reverberou nos céus. Suas mãos se moveram até as minhas, agarrando-as e as afastando do rosto dele com raiva, com desgosto.
Ele as segurou, enfurecido, com o rosto contorcido de ódio. Carter ofegava. Estava transtornado, fora de si, e eu estava bem na frente dele, surpreendendo-o em um momento de fraqueza. Ótimo.
- Eu não vou te soltar! - Vociferei de volta, tentando mantê-lo consciente. Ele precisava continuar consciente. A ironia era que quem acabasse morrendo talvez fosse eu mesma, com a minha genial ideia de ajudar quem talvez não quisesse ser ajudado. - Você precisa ir pra um hospital!
Ele riu como se aquela fosse a ideia mais ridícula do mundo, mas não havia nada de amigável naquela risada. Nada além de ódio, amargor.
- Eu não vou pra um hospital.
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Mais do que Eu Posso Aguentar
Lãng mạn"Você não pode me consertar, Katherine. Eu sou mais do que você pode aguentar." Sua voz saiu em um sussurro, o hálito fresco se chocando contra os meus próprios lábios quando ele se aproximou, segurando o meu rosto tão perto do dele que era possível...