52 | Lā o ka make

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      O dia seguinte à festa do Bob amanheceu estranho

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      O dia seguinte à festa do Bob amanheceu estranho. Digo, estavam todos estranhos e calados na casa dos Rodge. Até a Kailana. Então vocês devem entender o quão estranho é ver a casa toda em silêncio. E, por um momento, a crise de consciência me deu uma surra. E se eles soubessem do meu beijo com o Kaike? Estão calados porque querem me mandar de volta para o Brasil? Estão decepcionados? Assustados?

— Bom dia, querida — Nana Rodge foi a primeira pessoa quem me dirigiu a palavra naquele dia — Está com fome? Fiz panquecas! — pegou o prato típico estadunidense e o colocou na minha frente assim que me sentei a mesa na cozinha.

— Nana, posso fazer uma pergunta? — olhei em dúvida para a mulher que derramava mel sobre a pequena montanha de panquecas.

— Mas é claro, querida! — ela esperou pela pergunta com o pote de mel em mãos.

— Por quê estão todos estranhos? — não conti a curiosidade. Eu precisava saber se era pra arrumar a mala naquele mesmo instante.

— Ah, querida, esqueci que você está acostumada a ver essa casa sempre tão alegre e cheia de vida — a senhora de meio metro sorriu triste e voltou a mexer nas pratileiras da cozinha, desta vez me fazendo um suco — Eles só estão tentando lidar com os sentimentos que o dia de hoje traz a tona. Lā o ka make pode ser uma cerimônia bonita, mas também é muito difícil de se enfrentar.

     Claro, era o dia dos mortos! Com tudo o que vinha acontecendo, eu tinha esquecido completamente. Agora tudo fazia sentido. Eles não estavam estranhos, estavam de luto. E eu sendo paranoica, achando que o mundo girava em torno do meu umbigo.

Francamente, Amélia!

— Ah, claro, eu entendo — enfiei um pedaço de panqueca na boca antes que minha cabeça pensasse em mais alguma besteira.

(...)

     Os preparativos pra cerimônia foi a única coisa que fez a casa ficar movimentada durante a tarde. Todos ajudaram nas oferendas que devíamos levar ao mar quando fosse chegada a hora. Eram basicamente cestas com velas (que eram o grande símbolo do festival), flores para orçamentação e algum objeto pessoal que remetesse ao morto pelo qual você estava lembrando naquele dia. Na minha cesta, eu coloquei uma colagem antiga que eu tinha com fotos dos meus pais.

— É uma colagem muito bonita — Kailana disse ao meu lado com um ar meio tristonho e sério, eu nunca a tinha visto assim antes. Era como se ela permitisse deixar todas as suas vulnerabilidades à mostra.

— Obrigada. Isso também é muito bonito. — olhei para a cesta ao lado que era a da sua família, tinha um colar com um pingente de espiral de madeira.

De Sol a SolOnde histórias criam vida. Descubra agora