68 | Aliada Improvável

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      Passei três dias afundada na minha própria melancolia

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      Passei três dias afundada na minha própria melancolia. A única coisa que me motivava a sair da cama era o fato de que eu precisava deixar tudo pronto para a minha partida. Então, usei a quinta e a sexta-feira para terminar de empacotar todas as minhas coisas e resolver as pendências escolares com a agência do meu intercâmbio.

Ninguém ousava falar comigo. Talvez por estarem ressentidos pela minha decisão ou temerosos pela minha cara fechada na maior parte do tempo. Quer dizer, eu sabia o porquê do Kaike, Kailana e Dona Karla não falarem, mas os outros eram uma icognita.

Até mesmo do Ben eu havia me afastado. Não porque brigamos ou porque ele não entendeu. Muito pelo contrário. De todos, Benício foi o único que entendeu a minha decisão e me apoiou. Eu me afastei dele por conta própria, odiaria cair no choro se precisasse me despedir. E acho que ele também pensou a mesma coisa, pois respeitou o meu afastamento.

Mas não importava de qualquer jeito, porque o dia da minha partida finalmente havia chegado. E, parecendo sentir o humor de merda que pareava sobre a casa, o clima e o tempo mudaram bruscamente durante a madrugada, nos presenteando com uma tempestade de vento.

— Como diabos eu vou pro aeroporto agora, Punk? — perguntei para o pug que babava no chão do meu quarto praticamente vazio, a não ser pelo móveis.

   Eu tinha planejado ir até o aeroporto de uber, porque não conseguiria levar as minhas malas em um ônibus e o clima estava estranho demais na casa para eu pedir uma carona ao Seu Koni. Considerei também pedir ajuda ao Bob, mas ele havia emprestado o carro ao Kai durante a semana e, bem, não é como se eu e o Kaike estivéssemos nos falando.

Eu sabia que o pai de Ben também podia me ajudar, mas ele provavelmente estaria trabalhando àquela hora da manhã. Então minha única alternativa era o meu plano de gastar uma fortuna em um carro de aplicativo, que acabou indo por água a baixo com a chuva porque todos os motoristas simplesmente desistiam da corrida ao ver a distância entre a casa dos Rodges e o aeroporto.

Minha esperança quase tinha esvaido quando encontrei o contato de uma amizade improvável no meu whatsapp. Olhei para o cachorro que me encarava com a cabeça inclinada, parecendo surpreso pela minha decisão.

— Bom, você sabe o que dizem: momentos desesperados pedem por atitudes desesperadas — E com isso disquei o número da pessoa, pedindo aos deuses que rogassem por mim.

(...)

   Quando ouvi a buzina de um carro conversível branco do lado de fora da casa, eu tive um choque de realidade. A minha ficha finalmente caiu de que eu estava indo embora, provavelmente abrindo mão de uma das melhores coisas que tinha acontecido comigo há anos. Mas eu sabia que era necessário, eu precisava me curar de novo. E em outro lugar.

Desci com as minhas malas com dificuldade e estava prestes a sair embolando com elas pela escada quando Seu Koni correu ao meu auxílio.

— Peguei, deixa comigo! — ele disse ao agarrar duas das minhas três malas.

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