A tarde com o Benício foi divertida e leve. Estudamos e conversamos durante horas e eu só me dei conta que precisava ir pra casa quando o pai dele chegou do trabalho.
— Benício, não sabia que tínhamos visita — O homem de terno e gravata apareceu na entrada da sala. Nós dois nos levantamos.
— Pai? Eu não sabia que você chegaria cedo hoje — Ben franziu o rosto em confusão — Essa é a Amélia.
— Decidi jantar em casa, espero que não tenha atrapalhado nada — cruzou os braços e nos olhou com um sorriso presuntoso.
O homem tinha cabelos castanhos como os do filho, a pele era mais clara e os olhos eram de um tom de cinza.
— Só estávamos estudando — Eu tratei de esclarecer.
— Tudo bem também se não estivessem, o Ben nunca traz alguma namorada pra me conhecer — retrucou, folgando a gravata e desabotoando o colarinho.
— Deve ser porque eu nunca namorei — Benício deu de ombros, não ficando envergonhado, enquanto eu sentia o meu sangue subir e se alojar nas minhas bochechas. Devia tá vermelha como o inferno.
— Nós somos só amigos, Senhor Foster — me escutei dizer.
— Porque ela quer — Ben deixou claro, me fazendo arregalar os olhos.
— Okay, essa é a minha deixa — comecei a juntar os meus materiais.
— Você já vai? — O menino me perguntou.
— Já está tarde, a Dona Karla deve estar preocupada — usei a única desculpa que eu sabia que podia ser verdade.
— Amélia, certo? — O Foster pai chamou a minha atenção para si — Me desculpe se a deixei constrangida com a brincadeira. Não precisa ir agora. Fique com a gente para o jantar.
— Eu adoraria, Senhor Foster, mas eu realmente preciso ir embora. — joguei minha mochila por cima do ombro.
— Outro dia, então — ele entendeu — Você mora muito longe?
— Do outro lado da cidade — Benício respondeu por mim.
— E alguém vai vir buscar ela? — os observei me excluírem da conversa.
— Não, ela quer ir de ônibus — O filho respondeu como se fosse um absurdo e o pai concordou.
— Por Deus, à essa hora da noite? Não, não, não, não, não! — balançou a cabeça negativamente e tirou as chaves do bolso — Leve ela. Eu sei que ainda não tirou a carteira de motorista, mas é mais perigoso deixar que ela saia sozinha. — então o homem finalmente me olhou, parecendo lembrar que eu também deveria participar da decisão — Eu mesmo a levaria, mas estou com cheiro de farmácia e a base de café expresso, então não seria uma boa ideia.
— Tá tudo bem, Senhor Foster, não precisa mesmo se preocupar comigo. Eu posso pedir um uber ou um táxi. — Não queria dar trabalho para nenhum deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De Sol a Sol
Novela Juvenil❝ Amélia Machado sempre foi uma garota introvertida, fechada em seu próprio mundo que podia facilmente ser resumido por suas playlists e pelo seu caderno de colagens. O auto-isolamento foi apenas uma das consequências catastróficas do terrível acide...