Não tive tempo para raciocinar a estranha intimidade que estava tendo com o Kaike ao ter as nossas mãos entrelaçadas daquela maneira, pois logo nos soltamos quando achamos uma caixa térmica cheia de cerveja. A caixa estava no limite da área da festa, perto da beira do mar, o que nos deixava afastados de todo o barulho.
— Aquele é o Bobby? — perguntei com os olhos semicerrados quando vi o garoto de traços indígenas sair de dentro de uma cabine de salva-vidas, a poucos metros da gente, seguido por um menino que tinha roupas tão abarrotadas quanto as dele.
— É um safado mesmo — Kaike riu e balançou a cabeça negativamente com as mãos apoiadas na cintura.
— Eu pensei que...— me perdi na minha própria confusão.
— Que...? — Kaike me encorajou a falar, demonstrando estar curioso.
— Que ele gostasse de meninas — sussurrei como se aquilo fosse um tipo de segredo.
Kai sorriu.
— E gosta.
— Mas ele não acabou de ter relações com um menino? — perguntei, tentando não soar indiscreta.
Afinal, não era da minha conta com quem o Bob se relacionava.
— Sim, mas isso não o impede de também ter relações com meninas — Kaike me respondeu e logo tratou de explicar: — O Bobby se diz ser um espírito livre, evoluído. Por isso ele não decide com quem fica por gênero, mas por quem são. Se ele gosta, ele beija.
— Simples assim? — eu perguntei surpresa.
— Simples assim — ele concordou.
— Legal — eu comentei verdadeira e o Kaike sorriu, se abaixando para pegar as latas de cervejas geladas.
— O gelo derreteu, então isso é tudo o que temos — ele me entregou uma das latas.
— Valeu — eu agradeci informalmente, de tanto ouvir eles falarem daquele jeito, enquanto apoiava a lata em cima da minha mão machucada.
Me escorei no tronco de madeira que estava enterrado no chão e que sustentava as duas cordas que cercavam - e delimitavam - o local.
— Amélia — Kaike me chamou depois de um tempo quieto, me fazendo levantar os olhos para encará-lo.
— O quê?
— Obrigado — ele disse e eu uni minhas sobrancelhas, então ele continuou: — Por ter cuidado da Lana quando ela precisou.
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De Sol a Sol
Ficção Adolescente❝ Amélia Machado sempre foi uma garota introvertida, fechada em seu próprio mundo que podia facilmente ser resumido por suas playlists e pelo seu caderno de colagens. O auto-isolamento foi apenas uma das consequências catastróficas do terrível acide...