Apenas Uma Vadia Qualquer

6.9K 842 543
                                    

Capítulo 1 – Apenas Uma Vadia Qualquer

Janeiro de 2010 – Estado de Dundeya

Sabe o que me fode?

Eu não saber o que está acontecendo, isso me fode até onde dá. Odeio ser o último a saber das coisas e parece que todo o resto do mundo sabe o que aconteceu, porque estão me encarando como se tivessem encontrado um corpo dentro do meu armário. Eu não consigo viver assim não, gente, pra mim não tá dando.

Eu estava de boa, na minha sala, tendo aula de composição, quando a merda do auto falante gritou o meu nome para a escola inteira ouvir. O diretor dessa budega não sabe ser discreto, não?

A professora me olhou com aquela cara de quem já me conhece e sabe que provavelmente eu aprontei. E não vou ser o puritano e negar que eu faço por onde.

— O que você fez dessa vez, Jimin? — Dei de ombros, como se não estivesse repensando cada detalhe da minha vida desde o meu nascimento. Ela suspirou cansada. — Vai logo, moleque. — Disse como se já tivesse desistido de mim, mas eu sei que ela me ama.

Me levantei encarando todos os meus colegas de sala que me julgavam com o olhar e fui para a sala do diretor.

Ele deve ter descoberto que eu pichei o muro da escola, mas antes que você aponte seu dedinho na minha cara pra me chamar de vagabundo, eu já aviso que a culpa não é minha. Aquele safado pintou todos os grafites de cinza. Puta merda, estamos em uma escola de artes, o mínimo que eu espero dessa espelunca é que tenha cor, e aí aquele mocréio me faz isso, só podia estar me zoando se achava que ia ficar por isso mesmo.

Pichei mesmo e picharei de novo se reclamar.

Eu não costumo ser bagunceiro, quer dizer... não muito. Eu sou um beta gente boa, não implico com ninguém, não tento dar em cima de ninguém. Fico na minha, de boa, mas essa gente gosta de me irritar. E aí a culpa já não é mais minha.

Todo mundo adora irritar os betas, e sabe por quê? Porque nos consideram vadias da sociedade. Não temos cio e nem cheiro forte e atraente, então eles acreditam que estamos sempre desesperados por um pau ou um rabo qualquer, mas eu não sou assim. Eu não ligo, prefiro ficar sozinho do que me sujeitar a isso, mas é difícil pra essas amebas entenderem que eu não quero nada.

Claro que depois que eu quebrei o nariz de um alfa que tentou passar a mão em mim, eu ganhei uma certa fama de malvado. E acreditem, eu gosto disso, gosto mesmo. Eles não se aproximam e eu não tenho que me preocupar com esses burgueses safados.

Eu tive que aprender a me virar muito cedo, já que saí de casa muito cedo. Eu mudei para o internato aos dez anos. Claro que foi um parto convencer meus pais de que isso era o melhor pra mim, mas o que eu poderia fazer se desde pequeno eu sonho com isso? Um internato todo dedicado a artes é como um sonho que se realiza, e quando eu recebi a proposta, eu simplesmente pensei que tinha tido um derrame e morrido, porque eu não costumo ter tanta sorte assim e aquilo só poderia ser o céu.

Meus pais só aceitaram porque sabiam que eu não estava feliz lá. Não me entendam mal, o Brasil é lindo e tals, mas minha família era um saco. Ser beta sempre fodeu muito meus esquemas, mas eu nunca quis ser outra coisa, gosto de ser beta, mas minha família achava que isso era tipo um erro ou atraso genético e que logo eu me mostraria outra coisa, ou então encontraria alguém. E isso me deixava puto.

Eu não preciso de alguém, eu sou auto suficiente. Tenho luz própria, sou quase um vagalume.

Por isso que esse internato foi a melhor coisa que já me aconteceu. Aqui eu aprendo e desenvolvo meus talentos artísticos e não sou mais o menino que ficava no quarto cantando latino e dançando Calypso. Não mais.

Senhor Certinho e um Beta Qualquer | LIVRO 7 | MY ABO UNIVERSEOnde histórias criam vida. Descubra agora