T01E15 - De mal a pior

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Season finale

RODRIGO

― Oi? ― pergunta minha mãe olhando para mim com olhar de não estar acreditando ou não ter entendido a palavra que acabei de dizer.

― Eu sou bissexual. ― repito.

Meu pai suspira tão alto que é como se ele tivesse roubado todo o ar da sala e exalado em seguida. Em silêncio ele se levanta, dá uma olhada pra mim... um olhar envergonhado, raivoso e sobretudo, decepcionado. Então ele se vira e sai da sala. Respiro fundo deixando o ar saindo e me assustando que meu pai não tenha surtado como um louco agora na minha frente.

― Você tem certeza que você é... é... isso daí? ― pergunta minha mãe se recusando a falar a palavra.

Engulo em seco e concordo com a cabeça. Ela sorri de lado, dá pra ver que ela também está decepcionada.

― Oh querido... não é só uma fase? ― continua ela tanto dar a volta por cima do “problema”. ― Tenho certeza que é coisa do Satanás que fica entrando na sua cabeça através daquelas séries que você assiste naquele negócio vermelho. ― ela se levanta e coloca a mão no meu ombro. ― Pensa direito, Rodrigo, antes de falar que você é uma coisa... er... e desliga a TV, vou ver como o seu pai está.

Ela dá um sorriso, muito mais falso que o anterior e deixa a sala. Não sei se é surreal a calma que os dois estão lidando com isso, ou se a explosão chega mais tarde. Desligo a TV e tento escutar alguma coisa que meus pais conversam dentro do quarto. Mas é um silêncio mortal...

Ok... talvez eles tenham reagido melhor do que eu tenha imaginado. Caminho até meu quarto e mando uma mensagem para Rodrigo falando que me assumi. Ele não acredita no que eu digo e diz querer ter a minha coragem.

Falei para ele não apressar as coisas, se assumir é um momento que você tem que estar confiante consigo mesmo e dizer com todas as letras, mas não pode deixar também aquela sensação de prisão te corroer de dentro pra fora. Temos direito de sermos quem somos e cedo ou tarde temos que lutar por nossa felicidade. E esconder quem somos é o pior empasse para encontrar a felicidade.

DIEGO

Quando o dia amanhece e tomo café da manhã junto com a minha mãe... sinto minha garganta dando um nó só de lembrar da conversa que tive com Isabella... ainda não caiu a ficha que vou ser pai.

Por alguns minutos enquanto me concentro nesse “problema” esqueço de todos os outros. A festa é daqui uns dias e sinto a pressão crescer ao meu redor enquanto mais ela se aproxima. Todo mundo tá pagando pau pra ela... eles devem estar achando que essa festa vai ser bombástica, e sim, é isso que eu espero.

Sei que ela não vai ser épica como as festas da Valentina Amorim eram... que tinha a famosa “festa da camisinha” e tudo mais. Valentina era boa em dar festas, pena que caiu no fundo do poço quando praticou racismo contra Vitor, o filho do zelador ano passado quando era o último ano dela e o Colégio Santa Rita virou de ponta cabeça com as revelações que vinham de todos os lados.

Mas eu quero superar a festa da Valentina. Não estava muito animado com ela antes, mas agora preciso fazer de tudo para juntar um dinheiro. Posso ter sido irresponsável com Isabella e termos feito sexo sem camisinha, mas... não vou deixar o bebê que ela carrega desamparado.

― Você está com uma carinha diferente, meu anjo. ― diz minha mãe do outro lado da mesa passando margarina no pão.

― Só estou revisando uma tabela na minha cabeça. ― minto me levantando. ― Tenho que ir para a escola. Prova agora e Caíque já deve estar me esperando lá fora.

Garoto Explosivo | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora