T01E01 - No começo que se define o final

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RENATO

Não acredito que o último final de semana das férias de fim de ano estava com a maior tempestade de Santa Rita nos últimos dois anos. Olhei pela janela do meu quarto e vi as grossas gotas violentas baterem com mais força na janela.

Bufei indignado com aquilo. Olhei meu celular e vi uma mensagem da minha melhor amiga, Bárbara.

Barbie: Hey Rê, e essa chuva que não para?

Conheci Bárbara Reis no nono ano quando a professora de história, na época a Sra. Aparecida nos dividiu em duplas para estudar alguma fase da revolução mineira e acabei caindo com Bárbara.

Ela sempre tirava suspiros dos meninos, os cabelos ondulados e negros caindo pelos ombros, os olhos grandes e um pouco fundos, o sorriso fácil acompanhado de covinha. Ela é muito magra, e come para cacete e nunca engorda, essa é a minha raiva dela.

E desde esse trabalho que eu e Bárbara não nos desgrudamos, sempre saímos juntos, sempre discutimos e sempre fazemos trabalhos juntos. Algumas pessoas a confundem como se fosse a minha namorada. Mas hello, algumas pessoas parecem não entender que menino e menina podem ser sim melhores amigos sem trocar alguns amassos.

E como Bárbara é minha melhor amiga, ela é a única a saber do meu segredo: que sou gay. Isso mesmo, gay, homossexual. Isso não pode ser novidade há muito tempo, mas meus pais são aqueles pais que não tem preconceito, mas se acontece na família...

E além de tudo, minha irmã, Joyce, já fez muita bagunça nas nossas vidas. Perseguindo seu ex-namorado e sendo diagnosticada com bipolaridade. Mas ela está bem agora, fazendo faculdade no Paraná na cidade dos meus tios, Gildo e Gabriela. Meu pai, Isaiah, é cabo da policia local de Santa Rita. Minha mãe é dona de casa, abandonou o escritório de finanças na época em que Joyce começou com seus ataques.

Balanço a cabeça e respondo a Bárbara:

Eu: Sim, nossa, meus pais queriam ir para a chácara, mas acho que com essa chuva eles vão desistir.

Barbie: Nossa, nem chama os amigos para a chácara.

Eu: Eu nem sabia que ia até hoje de manhã.

Barbie: Tudo bem, esse fim de semana é com a minha mãe.

Ah, e outra coisa, um parêntese bem curto. Os pais da Bárbara são separados. A mãe dela foi flagrada transando com o chefe, que hoje é padrasto da Barbie, e o pai dela inconformado pediu divórcio. Hoje o pai da Barbie também é casado, com uma revendedora de cosméticos com muito botox no rosto.

Eu: Eita, boa sorte.

Barbie: Lembrando que vou espiar aquele vizinho gato.

Eu: Aproveita.

Barbie: Oh se aproveitarei.

Sorrio e bloqueio a tela do celular. Olho mais uma vez para a janela, e a decepção vem à tona, a chuva não diminuiu nem um pouco.

* * *

Depois do almoço minha mãe falou que nós iríamos do mesmo jeito para a chácara. Então peguei minha mochila e coloquei as roupas leves dentro. Além de um moletom caso a chuva se estendesse além de hoje e começasse algum frio, que tenho absoluta certeza que vai acontecer, já que ultimamente vem acontecendo até geado nas serras ao redor de Santa Rita, esse tempo que não para de mudar. Coloquei também o livro que estou lendo no momento, Horror na Colina Darrington, e senhor que livro bom, já estou de olho na continuação.

Levei a mochila até a SUV do meu pai na garagem e a enfiei no porta-malas.

― Pronto. - digo para a minha mãe que estava colocando a bagagem dela e do meu pai ali também.

Garoto Explosivo | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora