Capítulo 42

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Ao chegar, a pesada porta emperrou. Apavorada pela possibilidade de ficar presa naquele estúpido elevador, ela abriu a boca para gritar quando Mick apareceu e abriu a porta com facilidade.

- Obrigada - ela murmurou, sentindo-se tola. Tinha de ser mais forte, tanto física quanto mentalmente.

Mick assentiu, mantendo o silêncio habitual.

Daquela vez, ela estava tão consumida com seus próprios problemas que não se incomodou com o silêncio. Parou diante da porta e começou ela mesma a soltar os trincos. A lufada de ar frio da noite arrepiou sua pele.

- Tenha cuidado lá fora - o segurança alertou, e Dulce percebeu que estava bem ao seu lado.

- Não se preocupe, eu terei cuidado.

Mick deu um passo e segurou a porta aberta para que ela saísse.

Tocada pelo cuidado do homenzarrão, Dulce olhou por sobre o ombro e enviou-lhe um sorriso. Ficou surpresa quando ele retribuiu. Era engraçado sentir afinidade com Mick agora, que estava de partida.

Então, ela seguiu na direção da rua, com os saltos dos sapatos abafados pelos ruídos da cidade vibrante.

...

Christopher tinha consciência de que não devia, mas não podia evitar. Precisava vigiar Dulce para ter certeza de que ela estava bem.

Parou do lado de fora do quarto, consciente de que ela não estava lá. Concentrou-se nos cheiros espalhados no ar e não discriminou a presença dela no apartamento.

Seu peito se apertou quando pensou na possibilidade de que Dulce tivesse ido embora. Pousou a mão na maçaneta e hesitou um segundo antes de se decidir.

Finalmente, abriu a porta e perscrutou o interior do aposento.

Ele suspirou, aliviado. A mala ainda estava no armário. Ela não havia partido para sempre.

Christopher passou a mão pelos cabelos. Não deveria ficar feliz. Seu objetivo era que Dulce fosse embora o mais depressa possível. A única coisa que importava no momento era colocar distância entre ela e Christian.

Mas não estava preparado para vê-la partir.

O fato era que Dulce havia saído, e estava sozinha nas ruas perigosas. Seu primeiro instinto foi segui-la. Precisava se certificar de que estava a salvo.

No entanto, ele tomou a direção do seu quarto. Mais cedo ou mais tarde, teria de deixá-la livre e então, não poderia mais segui-la.

Mas... E se Christian estivesse vigiando o apartamento?

Christopher girou nos calcanhares e seguiu para o corredor. Tomou o elevador para o primeiro piso e entrou na saleta da segurança. Mick estava sentado diante de inúmeros monitores com imagens de diferentes câmeras espalhadas pela boate.

- Você sabe se Dulce saiu por aqui?

O segurança assentiu sem desviar o olhar dos monitores.

- Quero que você a siga.

Mick se levantou prontamente e apanhou a jaqueta pendurada nas costas da cadeira.

Trabalhava para Christopher e Sebastian tempo suficiente para saber que não seria enviado a uma missão como aquela a menos que houvesse um perigo real.

- Certifique-se de que ela está segura.

- O que devo procurar?

- Christian.

Os olhos de Mick se arregalaram, o único sinal de que ficara chocado. Porém, não perdeu tempo com palavras, e saiu imediatamente para o beco.

Christopher observou o gigante desaparecer na esquina. Mick parecia compreender muito mais rapidamente que ele o tipo de risco que Christian representava.

...

- Por favor, poderia me dizer as horas?

Dulce desviou o olhar da vitrine da livraria, onde passara os últimos quinze minutos olhando os exemplares expostos sem registrar o que via.

Ela pestanejou, fixando os olhos azul-claros. Já vira aqueles olhos antes.

Imediatamente, ela reconheceu o homem que encontrara no café, na noite em que saíra com Christopher.

O homem sorria com expressão amigável. Ela balançou a cabeça com um gesto sutil. Tivera péssimas experiências, nas ruas de Nova Iorque, o que, somado ao nervosismo daquele momento, a deixara paranóica.

- Desculpe, mas não tenho relógio - informou, tentando sorrir de volta.

- Sinto muito por incobomodá-la.

Em vez de ir embora, o rapaz parou ao lado dela para olhar os livros na vitrine.

- Você já leu "Entrevista com o vampiro"?

- Não. - Dulce relanceou o olhar para ele. - É bom?

- Sim, é muito bom.

Ela assentiu, incerta sobre o que dizer. O rapaz a estudou e franziu a testa. As linhas adicio naram beleza ao rosto pálido, em vez de deformá-lo.

- Nós nos conhecemos?

Dulce balançou a cabeça com veemência e riu.

- Na verdade, você esbarrou em mim certa vez. Literalmente.

Um brilho de reconhecimento iluminou os olhos pálidos.

- Oh, sim! Foi num café, duas ou três noites atrás. Fiz aquilo porque estava tentando chamar sua atenção. Foi uma cantada, mas estou feliz que você não tenha percebido.

Ela sorriu, incapaz de resistir ao charme natural daquele homem. Voltou a atenção para os livros sem de fato notá-los.

- Sei que pode parecer outra cantada, mas você gostaria de me fazer companhia para comer alguma coisa? Há um café do outro lado da rua. - Ele fez um gesto para o restaurante na outra calçada.

Dulce abriu a boca para recusar, mas alguma coisa naquele homem a deixou indecisa. Havia algo na aparência dele que parecia muito familiar.

Afinal, o que tinha a perder?, pensou. Seria bom ter a atenção de um homem atraente, especialmente depois da rejeição de Christopher. Precisava conversar com alguém e se distrair.

Ela avaliou a fachada do café, decorada como um bistrô parisiense. O interior iluminado com diversos clientes proporcionou-lhe a certeza de que oferecia segurança.

- Na verdade, eu estou com fome.

- Ótimo. - Ele sorriu, satisfeito, e estendeu-lhe a mão. - Prazer em conhecê-la. Meu nome é Chris.

- Dulce - apresentou-se, vendo sua mão desaparecer ao ser envolvida pelos dedos longos.

Ele apertou-a com um cumprimento educado e libertou-a imediatamente.

Sei muito bem quem você é...

Christian reprimiu o sorriso enquanto esperavam que o farol da rua movimentada se abrisse para eles. Quem diria que a doce e preciosa amada de seu irmão aceitaria seguir de livre e espontânea vontade para o altar de sacrifício?

Memórias De Um Vampiro - Adaptada - Vondy. Onde histórias criam vida. Descubra agora